Esta é a sétima parte do terceiro capítulo, a anterior está aqui. Para quem não sabe do que se trata, estou postando uma história que venho escrevendo faz algum tempo. O primeiro capítulo se chama Ecos do Passado e o segundo Sem Olhar para Trás. Disse que iria postar continuamente até o final do capítulo 3 e fico sempre esperando comentários e sugestões, pois assim posso melhorar e mexer em coisas que não estejam funcionando. Estou mudando coisas em relação à versão original, mas, ainda assim, trata-se de um texto de mais de dez anos.
Ventos de Mudança
Capítulo 3: Sem Olhar Para Trás (Parte 7)
Capítulo 3: Sem Olhar Para Trás (Parte 7)
Guilherme estava com sede, fome, e muito frio também. Além disso, seu corpo doía muito. Sabia que suas costas estavam em carne viva, depois das chicotadas que levara. Temia que não resistisse até o dia seguinte e rezava para que Deus lhe concedesse a mercê de morrer como o cavaleiro que era, de pé, com a cabeça erguida e não como um fraco que não conseguira resistir às torturas.
— Ora, ora, parece que o Leão não vai mais rugir, não é mesmo? — Provocou o Capitão Gaston.
— Guarde suas piadas para si mesmo, verme! — Guilherme falou com orgulho, arrancando forças de onde não tinha. — O Leão ainda vai destroçá-lo se é o que quer saber. Espere e verá.
— Você é que parece muito bem humorado para alguém em sua situação. — Soltou uma gargalhada infame e foi acompanhado pelos soldados que estavam de guarda. — Se eu não fosse, quem sou, eu mesmo gostaria de fazer a cortesia de ser seu carrasco. E eu garanto que sua cabeça vermelha iria rolar bem lentamente. — Continuou gargalhando e subiu ao cadafalso bem perto de Guilherme, pegando-o pelo queixo. — Vamos, Leãozinho, que pode fazer agora? — Guilherme, tirando saliva bem do fundo da sua garganta, deu uma cusparada em cheio na cara do Capitão que limpando o rosto com a mão ordenou. — Mais 30 chibatadas neste insolente! Quero ver se ainda vai ter forças para me ofender depois que terminarmos com você!
— Mas, Capitão, ele pode morrer antes da execução.
— Ele não vai morrer. Eu sei que não vai.
Haroldo estava abaixado na exígua cozinha da nave, um cubículo no fundo do veículo, onde havia um forno e ele tinha guardado alguma comida. Ao levantar, bateu com a cabeça e acabou ficando com um galo na cabeça.
— Machucou muito? — Elaine perguntou aflita, mas sem condições de se abaixar naquele espaço tão apertado.
Haroldo fez que não com a cabeça.
— Tudo bem, Elaine. Acho que vou ficar com um galo na cabeça. Nada sério. — Ele levantou com um pacote de farinha na mão e o colocou em cima do forno. — E respondendo a pergunta... Bem, eu não sei. Mas tenho mais medo do tal príncipe morrer. Você viu como estavam as costas dele? — Ela fez que não. — Eram feridas bem feias, Elaine. Se elas infeccionarem... E eu já tomei chicotadas... Não foram muitas, mas eu sinto a dor só de lembrar delas...
— Eu também sei como é levar chicotadas e como é ficar amarrada, também.
Elaine virou o rosto, seus olhos pareciam estar cheios d’água. Ela tinha marcas nos pulsos, talvez estivesse falando disso. Que outras marcas ela teria? Haroldo percebeu que estava provocando lembranças ruins, então do nada ele pegou os cabelos da menina e começou a trançá-los.
— Por que está fazendo isso?
— Ora, se você vai cozinhar, melhor que não esteja com os cabelos soltos. Podem cair fios na massa. — Ele riu e Elaine virou. — Na verdade não me importaria em achar fios do seu cabelo no meu pão, mas precisava de uma desculpa para tocar em você. Espero que seu irmão não tente me matar quando descobrir que estive com você aqui neste lugar apertado.
— Você é impossível! — Ela sorriu também e ele se sentiu satisfeito.
— Tomara que você consiga fazer o pão que me prometeu. — Ele terminou de trançar o cabelo de Elaine que era longo e pesado, de um castanho bem escuro. Depois, pescou um pedaço de barbante que estava no seu bolso e deu um laço. Não era elegante, mas serviria. — Eu estou com fome... na correria acabei não comendo coisa alguma... Vou me enganar com essas nozes e amêndoas, mas acho que preciso de mais alguma coisa no estômago. Bem, vou ver se aqueles dois estão bem. Fiquei feliz quando eles cochilaram... Já não agüentava as lamúrias e resmungos. Seu irmão precisa melhorar de humor, ou vai envelhecer rápido... — “Ou morrer cedo”, ele pensou.
Alda olhou-se no espelho. Realmente... Depois de quase quatro horas, podia admirar o trabalho bem feito. O vestido caíra às mil maravilhas com seu belo tecido dourado e a coroa, sobre seus cabelos trançados que lhe caíam pelas costas, somente realçava seu porte altivo. Pelo menos naquela noite infeliz, tinha certeza de que nenhuma dama presente poderia lhe equivaler em beleza.
— Deve aguardar que venham buscá-la, agora. — Uma outra falou. — Não deve se sentar, nem se mexer muito, se não todo o trabalho será em vão. — Alda suspirou resignada. “Sim, pareço uma bela boneca pintada... Mas sei bem o que sou e o que faço, minha mãe era somente uma criança quando a mandaram de um país estranho para casar... Deveria estar aterrorizada.” A mãe de Alda viera de um país distante e não tinha ainda treza anos quando a casaram com seu pai. Ela, com seus quinze anos, teve melhor sorte.
Alda comportou-se obedientemente e as mulheres se foram. A moça voltou-se para o espelho outra vez e suspirou com certo pesar. “Quem me dera o noivo fos...” Não terminou de desejar, pois seu pai entrou naquele momento, reluzente em seu eterno traje de luto, o rosto tenso, tentando dissimular o terror desesperado que sentia. No entanto, ao vê-la ali, tão linda, não se pode furtar uma exclamação admirada:
— Minha filha, hoje você superou a perfeição! — Entretanto, os olhos tristes da moça fizeram com que retornasse ao espírito sóbrio que a situação exigia. — Vamos, querida, todos estão esperando por você. Ela ergueu sua cabeça, forçando-se a andar o mais ereta e elegante possível e, dando o braço a seu pai, seguiu com ele rumo a sala do trono, local onde seria feita a cerimônia.
— Ora, ora, parece que o Leão não vai mais rugir, não é mesmo? — Provocou o Capitão Gaston.
— Guarde suas piadas para si mesmo, verme! — Guilherme falou com orgulho, arrancando forças de onde não tinha. — O Leão ainda vai destroçá-lo se é o que quer saber. Espere e verá.
— Você é que parece muito bem humorado para alguém em sua situação. — Soltou uma gargalhada infame e foi acompanhado pelos soldados que estavam de guarda. — Se eu não fosse, quem sou, eu mesmo gostaria de fazer a cortesia de ser seu carrasco. E eu garanto que sua cabeça vermelha iria rolar bem lentamente. — Continuou gargalhando e subiu ao cadafalso bem perto de Guilherme, pegando-o pelo queixo. — Vamos, Leãozinho, que pode fazer agora? — Guilherme, tirando saliva bem do fundo da sua garganta, deu uma cusparada em cheio na cara do Capitão que limpando o rosto com a mão ordenou. — Mais 30 chibatadas neste insolente! Quero ver se ainda vai ter forças para me ofender depois que terminarmos com você!
— Mas, Capitão, ele pode morrer antes da execução.
— Ele não vai morrer. Eu sei que não vai.
XXX
— Haroldo, você acha que aquela moça vai conseguir fugir com o Príncipe Guilherme?Haroldo estava abaixado na exígua cozinha da nave, um cubículo no fundo do veículo, onde havia um forno e ele tinha guardado alguma comida. Ao levantar, bateu com a cabeça e acabou ficando com um galo na cabeça.
— Machucou muito? — Elaine perguntou aflita, mas sem condições de se abaixar naquele espaço tão apertado.
Haroldo fez que não com a cabeça.
— Tudo bem, Elaine. Acho que vou ficar com um galo na cabeça. Nada sério. — Ele levantou com um pacote de farinha na mão e o colocou em cima do forno. — E respondendo a pergunta... Bem, eu não sei. Mas tenho mais medo do tal príncipe morrer. Você viu como estavam as costas dele? — Ela fez que não. — Eram feridas bem feias, Elaine. Se elas infeccionarem... E eu já tomei chicotadas... Não foram muitas, mas eu sinto a dor só de lembrar delas...
— Eu também sei como é levar chicotadas e como é ficar amarrada, também.
Elaine virou o rosto, seus olhos pareciam estar cheios d’água. Ela tinha marcas nos pulsos, talvez estivesse falando disso. Que outras marcas ela teria? Haroldo percebeu que estava provocando lembranças ruins, então do nada ele pegou os cabelos da menina e começou a trançá-los.
— Por que está fazendo isso?
— Ora, se você vai cozinhar, melhor que não esteja com os cabelos soltos. Podem cair fios na massa. — Ele riu e Elaine virou. — Na verdade não me importaria em achar fios do seu cabelo no meu pão, mas precisava de uma desculpa para tocar em você. Espero que seu irmão não tente me matar quando descobrir que estive com você aqui neste lugar apertado.
— Você é impossível! — Ela sorriu também e ele se sentiu satisfeito.
— Tomara que você consiga fazer o pão que me prometeu. — Ele terminou de trançar o cabelo de Elaine que era longo e pesado, de um castanho bem escuro. Depois, pescou um pedaço de barbante que estava no seu bolso e deu um laço. Não era elegante, mas serviria. — Eu estou com fome... na correria acabei não comendo coisa alguma... Vou me enganar com essas nozes e amêndoas, mas acho que preciso de mais alguma coisa no estômago. Bem, vou ver se aqueles dois estão bem. Fiquei feliz quando eles cochilaram... Já não agüentava as lamúrias e resmungos. Seu irmão precisa melhorar de humor, ou vai envelhecer rápido... — “Ou morrer cedo”, ele pensou.
XXX
— Está maravilhosa, Senhora! — Uma das damas exclamou. — Seu noivo ficará orgulhoso.Alda olhou-se no espelho. Realmente... Depois de quase quatro horas, podia admirar o trabalho bem feito. O vestido caíra às mil maravilhas com seu belo tecido dourado e a coroa, sobre seus cabelos trançados que lhe caíam pelas costas, somente realçava seu porte altivo. Pelo menos naquela noite infeliz, tinha certeza de que nenhuma dama presente poderia lhe equivaler em beleza.
— Deve aguardar que venham buscá-la, agora. — Uma outra falou. — Não deve se sentar, nem se mexer muito, se não todo o trabalho será em vão. — Alda suspirou resignada. “Sim, pareço uma bela boneca pintada... Mas sei bem o que sou e o que faço, minha mãe era somente uma criança quando a mandaram de um país estranho para casar... Deveria estar aterrorizada.” A mãe de Alda viera de um país distante e não tinha ainda treza anos quando a casaram com seu pai. Ela, com seus quinze anos, teve melhor sorte.
Alda comportou-se obedientemente e as mulheres se foram. A moça voltou-se para o espelho outra vez e suspirou com certo pesar. “Quem me dera o noivo fos...” Não terminou de desejar, pois seu pai entrou naquele momento, reluzente em seu eterno traje de luto, o rosto tenso, tentando dissimular o terror desesperado que sentia. No entanto, ao vê-la ali, tão linda, não se pode furtar uma exclamação admirada:
— Minha filha, hoje você superou a perfeição! — Entretanto, os olhos tristes da moça fizeram com que retornasse ao espírito sóbrio que a situação exigia. — Vamos, querida, todos estão esperando por você. Ela ergueu sua cabeça, forçando-se a andar o mais ereta e elegante possível e, dando o braço a seu pai, seguiu com ele rumo a sala do trono, local onde seria feita a cerimônia.
0 pessoas comentaram:
Postar um comentário