domingo, 1 de fevereiro de 2009

Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 8)


Se você está lendo este post, deve ter passado pelo capítulo 1. Agora, você está na oitava parte do capítulo 2. Se caiu aqui por engano, clique para retornar para a parte anterior, se você clicar na tag Rosas, poderá acessar todos as partes que coloquei no blog até aqui. Agora estamos caminhando para o final do capítulo e quem estiver perdido é só perguntar. Continuarei a postagem até o terceiro capítulo e depois, só se realmente houver interesse.

Ventos de Mudança
Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 8)

Marina procurou Alan em todos os lugares possíveis, estava cada vez mais confusa e a idéia de vê-lo no exílio, o que significava necessariamente, não vê-lo nunca mais, a atormentava. “Mas por que me preocupo com ele quando ele me trata tão mal?” Nos jardins, avistou Konrad com Flora, mas Alan não estava com eles. Terminou por encontrá-lo no mesmo estábulo do dia anterior com Elaine e Haroldo. Ao vê-la entrar correndo, todos se espantaram e se colocaram de pé.

— Alan, eu precisava vir. — Falou esbaforida. — Sua Majestade o considera perigoso! A Rainha vai mandá-lo para o exílio. — Elaine lançou um olhar aterrorizado para seu irmão. — Você precisa fugir. — Disse segurando-o pelos dois braços e ele se desvencilhou rapidamente, afastando-a.

— É o que pretendemos fazer esta noite, se bem se recorda. — Falou levemente irônico.

— Eu vou com vocês. — Falou.

— Vai conosco!? — Haroldo se espantou. — O que aconteceu?

— Nada aconteceu. — Respirou e ficou bem ereta. — Simplesmente decidi ir com vocês. — Tentou parecer firme e decidida. — Creio que preciso conversar com a Rainha das Fadas e entender melhor essa história... Se não gostar, eu volto.

— Vai conosco e se não gostar volta? — Alan balançou a cabeça. — Você não tem nenhum juízo, tem?

— Claro que tenho. — Ela respondeu ofendida. — Como falei, eu quero conversar com a Rainha das Fadas. Além disso, sou a princesa. — Os três olhavam para ela, Alan, perplexo; Elaine, com alguma simpatia; Haroldo, achando que tudo seria engraçado se suas vidas não estivessem em risco. — Se for tudo um equívoco, eu retornarei e vocês estarão livres para irem onde quiserem.

— E se formos os monstros mentirosos que você imaginou? Já pensou nisso? Pode ser tudo um plano para matá-la ou pior... E o que você faria então? — Alan comentou com humor e até ensaiou um sorriso. — A partir do momento que iniciarmos a missão, Alteza, seremos considerarmos traidores. Nossas vidas não valerão mais nada!

— O que no seu caso não será muito diferente da situação em que me encontra atualmente, não é? — Haroldo comentou e Alan deu de ombros. — Aliás, este é meu caso também.

— Se for mentira, vocês terão que se ver com a Rainha, pois com certeza, ela irá pensar que me levaram à força, não é mesmo? — Falou achando que iria aborrecer Alan, mas o rapaz soltou uma sonora gargalhada.

— Você é a pessoa, mas idiota que já conheci, sabia?

Marina sentiu-se ofendida e humilhada e Haroldo, percebendo o que estava acontecendo, começou a falar para que ele parasse de rir e prestasse atenção:

— Muito engenhoso, Princesa. Certamente seria mais fácil convencer a Rainha e quem mais interessasse de que a seqüestramos. — Fez pausa. — Mas eu tenho algo para mostrar a vocês dois. Elaine sabe o que é. Venham comigo.

— Para aonde? — Perguntou Alan.

— É segredo... Ou era, até agora. — E Haroldo deu uma piscadela.
XXX
Foram os quatro se esgueirando de cocheira em cocheira, ou melhor, tentando. Marina nunca fizera essas coisas e estava com medo e nervosa. Alan não sabia se Haroldo era confiável. Já Elaine, conhecia o caminho e conhecia Haroldo. Estava tranqüila. Por fim chegaram a um estábulo abandonado. O lugar estava em péssimo estado e não havia ninguém em volta. Haroldo abriu a posta com cuidado e entrou com Elaine nos seus calcanhares. Já Marina ficou parada:

— Sua Alteza primeiro. — Alan disse com uma mesura seca. — Agora que veio tem que entrar.

Marina entrou, mas havia tanta poeira que ela começou a tossir.

— Você não costuma limpar isso aqui?

— Se eu limpar, deixa de parecer um lugar abandonado. — Haroldo disse. Ele foi até o centro do aposento e pegou uma chave que estava pendurada em seu pescoço. — Foi meu pai quem construiu esse lugar, e o único que sabe de sua existência, sou eu mesmo e Elaine.

— Você costuma trazer minha irmã para lugares como este? — Alan perguntou em um tom de poucos amigos.

— Não meu irmão, eu venho com meus próprios pés. Mas este não é o pior lugar aonde tenho que ir. Haroldo é meu amigo e ninguém me respeita mais do que ele. — Elaine falou com voz pausada e tranqüila. Alan corou um pouco e Marina ficou impressionada porque ele não respondeu. Elaine não se parecia fisicamente com sua mãe, mas nesse momento Alan a viu ali e isso o assustou.

— Me desculpe, eu não deveria pensar mal de seu amigo.

Haroldo ergueu uma das suas sobrancelhas. Obviamente, Alan não conhecia Elaine. Ela não era uma tola. Haroldo abaixou-se e abriu o alçapão.

— Eu não posso acender lamparinas aqui. Tenham cuidado com o degrau. — Foi só ele falar e Marina escorregou, iria cair escada abaixo se não fosse amparada rapidamente por Alan.

— Deve ter mais cuidado. — Disse isso e a soltou rapidamente, embora ela desejasse que ela não o fizesse. — Estou começando a achar que você faz estas coisas de propósito, sabia?

— O que? — Ela perguntou rápido.

— Sorte sua eu estar aqui. — Ele disse virando o rosto.

— Está escuro, eu não estou acostumada a lugares como estes, como deve bem saber. — Marina falou para dissipar seu constrangimento.

Cegaram diante de uma porta. Havia um painel como feito de vidro. Haroldo tocou-o com sua mão e a porta abriu como se por efeito de magia. Alan e Marina ficaram assustados.

— Luz! — Haroldo ordenou depois de fechada a porta e o aposento se iluminou como por mágica. — É aqui que venho sempre que posso. — Disse apontando um objeto enorme, parecido com um barco, que jazia no centro do aposento. — É meu tesouro. — Alan rodeou o objeto com curiosidade.

— O que é isso? — Disse tocando na superfície de metal.

— É o veículo que vai nos tirar daqui. — Falou com simplicidade. — É uma nave. Ela não é como a que trouxe minha família até aqui, mas pode voar bem alto e rápido. Meu pai utilizou parte do que sobrou do nosso veículo para construí-la. Como ela é menor e gasta menos energia, o estoque de baterias que trouxemos do meu mundo pode durar por décadas. Desculpem... Vocês não estão entendendo nada, não é? — Alan tinha um olhar curioso e Marina estava com a boca abertas. — Quando meu pai a construiu, acho que pensava em fugir do reino, talvez cruzar o oceano. Vocês chamam de “Grande Mar”, não é? Mas ele se foi antes de poder fazer isso... — Suspirou. — Passo boa parte das minhas noites aqui, trabalhando e estudando. — Estava explicado o porquê da aparência doentia do rapaz. — Eu tinha que estar pronto para partir e aprender o máximo de coisas possíveis até então. — Ninguém entendeu muita coisa do que ele disse, e Alan interrompeu curioso:

— Meu amigo, como este... este... este “barco”, vai nos tirar daqui?

— Voando! Pelos ares como um pássaro e mais rápido do que vocês jamais sonharam. — Disse eufórico. — Ah, mas eu já tinha dito isso, não é? Você quer que eu explique... por onde eu começo... — Ficou parado olhando para a nave.

— Isso é loucura. Definitivamente... — Marina sussurrou para Elaine e Haroldo ouviu.

— Não é, não! — Ele tocou a superfície perto do que parecia ser uma porta, fazendo com que parte dela se erguesse deixando à mostra um painel de controle. O rapaz apertou alguns botões e a porta se abriu e uma voz, uma voz de mulher, o saudou:

— Olá, querido, boa tarde! — Marina e Alan se assustaram, mas Elaine simplesmente explicou:

— É Safira o comp... Como é mesmo, Haroldo?

— É o computador da nave. Isso não é mágica, é ciência. Essa voz, na verdade, procede de uma máquina construída por meu pai, seu timbre, sua intensidade, sua presença ou ausência pode ser programada por mim. — Tanto Alan como Marina ficaram na mesma, ainda ia demorar um pouco para que Haroldo pudesse aprender a traduzir melhor seus pensamentos e conhecimentos.

— Esta é uma forma muito fria de se referir a uma amiga, querido. — A nave reclamou.

— Claro, bem, como nada é perfeito, eu devo ter feito alguma coisa de errado e Safira pensa que é um ser humano. — Disse sorrindo, afinal estava com um humor maravilhoso. Poder mostrar aquilo tudo lhe dava enorme prazer. — Entrem. Não tenha medo, Marina. Entre. — Marina quase lhe perguntou quem lhe havia dado a permissão de chamá-la pelo nome, mas decidiu deixar pra lá. — Aqui dentro há lugar para todos nós, inclusive Alda e o Príncipe Guilherme. Tenho tudo pronto para esta noite basta que estejam aqui. — Explicou plenamente satisfeito da sua engenhosidade.

— Mas estamos sob a terra! — Alan exclamou. — Como...

— É um mero detalhe, mas se eu explicar agora perde a graça. — Alan suspirou frente o comentário.

— Quando partiremos então? — Perguntou Elaine.

— Durante o baile. — Alan falou. — Estarão todos tão ocupados que não irão notar nossa ausência. Ou não irão notar em tempo de nos impedir de partir.

— Então Elaine e eu estaremos a postos, para quando vierem. — Depois notando o medo nos olhos de Marina: — Você virá não é?

— Claro, claro que... — Respirou fundo. — Claro que sim.

— Pode ter certeza que ela virá. Nem que eu tenha de arrastar sua Alteza até aqui. — Alan ameaçou.

— Por que tem que ser sempre tão grosseiro comigo? Saiba que não estou acostumada a ser tratada desta forma tão rude. — Falou com indignação e Alan debochou.

— Creio que se tivessem lhe tratado como você merece, não seria tão mimada e irritante!

Marina ia replicar, mas Elaine interveio:

— Acho que não podemos perder tempo discutindo. — Era a voz da razão. — Tenho que voltar para as cozinhas, podem desconfiar de minha ausência e da de vocês, também.

— Corretíssimo. Vamos sair daqui. — Haroldo falou, subindo a escada e abrindo de novo o alçapão. — Até daqui a pouco, Safira. Esteja pronta.
— Como sempre, querido.

Chegando no estábulo, primeiro Elaine saiu, depois Marina e, por fim Alan que ao virar em direção à capela deu de cara com Sir Richard.

— Parece que nossos caminhos sempre se cruzam, jovem De Brier. — Falou com ironia, pois sabia exatamente da onde ele vinha e, depois do torneio, se sentia com um humor excelente.

— Acredito que seja o destino. Boas tardes, Sir Richard. — Cumprimentou e passou direto, sem muita cortesia e o outro simplesmente abriu-lhe caminho. “Jovem tolo, tão logo consiga a espada, eu terei seu sangue em minhas mãos, como tive o de seu pai!”, pensou com um brilho maligno nos olhos.

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