sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 4)


Se você está lendo este post, deve ter passado pelo capítulo 1. Agora, você está na quarta parte do capítulo 2. Se caiu aqui por engano, clique para retornar para a parte anterior, se você clicar na tag Rosas, poderá acessar todos as partes que coloquei no blog até aqui. Quem estiver perdido é só perguntar. Se estiver indo rápido demais, paro de postar por ma semana. Enfim, qualquer comentário, sugestão ou crítica será lida e desde já agradeço pela atenção. Estou postando hoje, porque ao que parece não há notícia alguma para o blog. Mais tarde, devo resenhar o volume de Honey & Clover que terminarei de ler hoje.


Ventos de Mudança
Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 4)

Ao entrar em seus aposentos seu pai já estava a sua espera. E bastou olhar para ele para saber que algo ocorrera. Algo ruim.

— Pai, o que o está atormentando? — Perguntou ajoelhando-se a seus pés e segurando sua mão.

— Tenho uma notícia... — Respirou pesadamente e pôs a mão na cabeça. — E espero que não me odeie pelo que irei que dizer.

— Odiá-lo, pai? Como poderia fazer isso? — Estava começando a ficar ansiosa, pois o pai era um homem equilibrado, não se lembrava de vê-lo em tal estado desde a morte de sua mãe... ou um pouco antes. — O que quer que seja, pai, eu jamais o odiaria. Eu, também, preciso fazer algumas perguntas... As profecias...

— As profecias!? Realmente, eu sei que precisa saber... Entenda que não é fácil para mim, nunca foi. — Fez pausa e respirou fundo. — Filha, sou um covarde, o pior de todos os vermes e, agora, tudo vem sobre mim. Só, que eu não queria que você sofresse, mas ela exigiu...
— O que a Rainha exigiu, pai?

— A Rainha deseja que você se case. — Falou sério e Alda contraiu o rosto involuntariamente.

— E é da sua vontade, pai. Pouco me importa o que a Rainha quer. — Em outra situação o marquês seria capaz de rir do comentário, pois só mesmo uma mente juvenil poderia vir a dizer coisas como estas. — Você é meu pai, a decisão é sua e sei que me quer ao seu lado...

— Recorda-se como herdei as terras que possuo, com certeza. Ao casar com a noiva que meu irmão rejeitou, herdei parte de suas terras. — Ela fez que sim com a cabeça. — Digo, que em nenhum momento, pude ter qualquer queixa contra sua mãe. Ela foi a melhor das esposas, mesmo que eu não a merecesse. “Ou a amasse.” — O marquês evitava deliberadamente o assunto.

— Pai, seja direto, por favor.

— Eu traí meu próprio irmão! — Fez pausa. — Mas eu realmente acreditei que Marc desejava o trono, e que o povo e os nobres o apoiariam. Ele era meio-irmão do Rei e todos o amavam, acreditavam que ele seria um governante muito melhor. — Fez pausa. — E com certeza, ele seria.

— A Conspiração Sangrenta, é a isso que se refere? Pelo que sei, Sir Marc desapareceu, nunca mais foi visto. Sabe do seu destino, pai? — Perguntou curiosa.

— Marc sempre teve o dom de atrair os piores perigos, seu irmão, o rei, sempre conspirou contra sua vida. Eu fui amigo de Marc... Antes mesmo de ele conhecer Estevão ou Michael de Sayers. O rei sabia que era menos competente, menos amado pelo povo... Não é muito fácil conviver com um irmão que seja tão superior. Eu sei bem disso... — Ele suspirou. — Marc desapareceu subitamente, por muito tempo, acreditei que teria fugido para não terminar nas mãos do carrasco... Mas ele era muito corajoso para isso e jamais abandonaria Estevão. — Falou em desalento. — Eu odiava Estevão, acreditei que apoiaria Marc em seus intentos, afinal, eles eram muito amigos. Eu tinha certeza de que fugiria para o além mar assim que fosse acusado mas, ao contrário de mim, ele nunca foi um covarde, nunca foi. — Alda estava compreendendo o que o atormentou por todos aqueles anos. — Ele ficou. Ficou para que o nome da família não fosse maculado, acreditou, até o último momento, que o Rei veria que era inocente, acreditou que Marc viria em sua defesa, como De Sayers o fez. Que tentaria esclarecer tudo. Só que ele não veio. Ele nunca mais foi visto. De Sayers tentou, mas não foi ouvido. E eu tive que acusá-lo no tribunal. Eu o acusei meu próprio irmão, entende? Sem ter certeza! — Cobriu o rosto com a mão. — Porque o odiava, queria suas terras, sempre quis! E a Rainha me garantiu que era verdade, disse que minha cooperação era uma demonstração de fidelidade, e que eu seria recompensado se apoiasse seus intentos.

Alda estava estarrecida diante das confissões e da angústia de seu pai.

— Só que eles, todos eles sofreram, não só meu irmão... Elizabeth, Estevão, Alan... Você viu seus olhos! Ele me mataria se pudesse... No fim, eu descobri que tudo era parte de uma vingança de Evilblood. De Sayers me avisou e eu não acreditei. Eu não quis acreditar, mesmo sabendo que Michael sempre dizia a verdade. Só que não foi Richard quem o acusou, fui eu. — Sua voz era do mais profundo desespero e ele batia no peito. — Lembrar do olhar de Estevão quando compreendeu a traição, o desprezo de Elizabeth, o desprezo de todos. Dezenas de vidas foram destruídas com meu auxílio! — Fez pausa. — Todos os mortos eram fiéis ao Rei, todos os pilares do Reino foram derrubados e ela tem poder absoluto agora. Absoluto! — Sua voz estava absolutamente estraçalhada pela dor. — Se você não existisse... Se você... Com certeza, eu teria me matado. Mas você precisava de mim, por pior que eu fosse...

— E a Rainha das Fadas, pai? Por que nada fez? E o Conde por que ele não foi morto, também?

— A Grande Silena estava morrendo e Ádina, bom, eu até hoje não compreendo porque ela se ausentou do mundo... De Sayers só está vivo porque é intocável. É o Guardião da Espada! Mas tomaram seu filho como penhor. — Alda não compreendeu muito bem o que isso significava. — Ah, minha filha! Se eu pudesse fazer o tempo voltar, se pudesse...

— Mas não pode, pai. — Poderia ter falhado em tudo, mas nunca falhara como pai e ela o amava, mesmo sabendo que era um covarde. Agora conseguia compreender a reação de Alan. Como se sentiria se estivesse em seu lugar? — Mas não é isso que o atormenta, pai. É o casamento, não é?

— Ela ameaçou me matar, deixar você ao desalento, ou pior... Disse que deixaria Evilblood nos destruir, porque, também, sou um De Brier. Fazia tanto tempo que ninguém me fazia recordar disso, eu quase tinha me esquecido. — Sorriu amargo. — Ela quer que se case com um homem horrível. Eu sei que vai odiá-lo, vai odiá-lo, e eu vou me odiar se permitir. — Ele segurou a filha pelos ombros. — Quando me casei com sua mãe, casei porque era a única forma de cair nas graças de meu pai, porque ele odiava Estevão por se recusar a casar com a noiva que ele lhe escolhera, só por isso. Só que quando a vi percebi que poderia amá-la e me esforcei até a sua morte.

— É o homem da cicatriz, não é pai? Um homem alto e feio? — Ele assentiu. — Eu o vi hoje. — Alda olhou o pulso que o outro havia segurado e percebeu que havia uma mancha roxa.

— Você o viu? Quando? — De Mülle perguntou aflito. — Ele ousou tocar em você? Ele a feriu. — O homem estava pálido e Alda optou por fazer pouco caso.

— Ele é forte, pai. Mas só segurou o meu pulso. — Alda imaginou o que poderia ser aquele colosso descarregando sua raiva em alguém. — Com certeza, ele deve ser um aliado importante. — Ela se levantou, pois teve uma idéia súbita. — Eu só preciso me casar com ele, não é pai? Se não fizer isso ela irá destruir você?

— Querida, ele é um monstro, falei com ele. — Olhou para o pulso da filha e imaginou que coisas horríveis poderiam acontecer com ela. — Fala em casar como se fosse algo simples. — Balançou a cabeça. — Terá que viver com esse homem, terá que dormir com ele, ter os filhos dele... — Estava enojado. — Eu... Se pedir ajuda à De Sayers, talvez,... ou se fugirmos...

— Pai ela irá achá-lo e será pior. Além disso, eu tenho uma missão aqui, não tenho? — Ele empalideceu. — Não tente se enganar nem mentir para mim. O senhor sabe mais do que quer me dizer. — Respirou fundo. — Eu conheço o meu dever, pai. Farei o que esperam de mim. Eu só preciso me casar com ele e você estará a salvo e é isso o que farei, nem mais, nem menos. — Ele esperava que ela explodisse, era o que seu gênio indicava que faria, essa reação passiva, quase cínica o desconcertou.

— Filha, filhinha, se é por mim que faz isso... Não, não faça. Vai se destruir como eu me destruí.

— Pai, você não tem escolha, nem eu. — Fez pausa. — Odiaria qualquer um por isso mas você é meu pai. Eu o amo e quando se ama alguém, mesmo que saibamos que a pessoa tem falhas, as aceitamos, porque o amor não impõe condições. — Se levantou. — Você é meu pai e me ensinou isso. Acredite em você pelo menos uma vez, pode ter falhado em todo o resto, mas não falhou comigo. Só peço que confie em mim e não se espante com nada que eu vier a fazer daqui para frente, nem tente me impedir. Eu peço que me jure isso. — Falou solenemente e ele obedeceu com voz embargada:

— Eu juro... não juro pela minha alma, pois sei que está perdida, mas juro pelo espírito de sua mãe, que sei que descansa em paz. — Fez pausa. — Juro que não a impedirei.

— Boa noite, então, pai. Creio que precisamos descansar para o que quer que aconteça amanhã — Disse beijando-o e indo se deitar, só que o marquês, com certeza, não conseguiria fazer o mesmo, pois se via atormentado, por seu passado, por seu presente e pela sua perspectiva de futuro.

Alda também não estava calma. Quando entrou no seu quarto sentiu as lágrimas nos olhos viu que suas mãos tremiam e suas pernas pareciam não querer obedecê-la. Mas se começasse a corar, talvez não parasse mais e precisava descansar, se preparar para o que viria depois. Precisava ser forte, mas forte do que nunca fora antes.
XXX

A manhã do outro dia chegou, rápida para uns, não tanto para outros. Guilherme fora acorrentado no pátio, ao relento e chicoteado, estava muito ferido e o frio tornava seu suplício ainda pior, não fosse sua constituição física privilegiada, teria perecido, com certeza. Fora um tolo, sabia, aquela parada na taverna deveria poderia sido evitada. Mas, raios, como poderia saber que era uma armadilha? Que o vinho estava com drogas e que as mulheres tinham sido pagas para distraí-los e entregá-los aos homens da Rainha? Agora seus companheiros estavam mortos e ele iria se juntar a eles em breve, muito breve... Só uma lembrança o consolava neste momento. Quem seria a dama que se arriscou para lhe dar de beber? Quem seria ela? Não vira seu rosto e sua voz... Mas de nada adiantava isso agora! “Se escapar daqui, hei de encontrá-la de novo! Eu juro que farei isso!” De onde estava viu quando os postulantes saíram da capela rumo ao palácio, o mesmo percurso que ele fizera alguns anos antes. Suspirou, saudoso de sua inocência perdida e de seus sonhos estraçalhados. Alguém, sem que percebesse, se aproximou dele, saído das sombras:

— Perdão, cavaleiro! Se soubesse o que ocorreria, palavra eu não tomaria parte nisso. — Era o rapaz moreno que estava no grupo que o capturou, seus olhos negros estavam cheios de piedade. — Se eu tivesse algum poder, tais penas seriam abolidas. — Guilherme ergueu sua cabeça orgulhosamente:

— Não preciso de sua piedade, nem da piedade de ninguém! — Havia muito ressentimento em sua voz. — Vivi como um homem e vou morrer como um. Se veio aqui pensando que me veria suplicar por minha vida, esqueça. Prefiro morrer da forma mais cruel a macular minha honra.

— Nunca vou conseguir compreender as loucuras que os homens fazem pelo que chamam de honra... — Comentou com sua voz melodiosa, marcada pelo doce sotaque do sul. — De qualquer forma, eu lamento o desperdício de sua vida. É uma pena. — Disse se afastando, iria vagar até que fosse hora de se apresentar no grande salão.

Ele era sobrinho da Rainha e havia sido chamado com um propósito determinado que o desagradava, mas que deveria cumprir. Afinal, não tinha nada a perder. Não herdaria nada de seu pai, mas a vida da corte e as artes da cavalaria o entediavam tanto! Queria seguir na academia, ou na igreja, mas o desentendimento de sua família com o pontífice fechou-lhe todas as portas, assim sendo, deveria buscar um casamento vantajoso. Era uma questão de sobrevivência. Só que casar, era a última coisa que desejava, não quando havia tantos livros para ler e tanto para descobrir! Para piorar sua situação, detestava as futilidades femininas e a perspectiva de se ver obrigado a cortejar uma dama qualquer, embrulhava seu estômago. Sua aversão era tão intensa que muitos pensavam que era efeminado, o que não era absolutamente verdade. “Mesmo que um dia encontre uma mulher que me agrade e com quem possa conversar mais do que dez minutos sem me entediar, é óbvio que jamais me deixarão desposá-la. Além disso, como poderia encontrar alguém assim?”

Ia absorto em seus pensamentos quando viu uma cena: uma pessoa vestindo uma armadura em uma cocheira deserta. Mas havia algo de inusitado nesta cena banal, pois não era uma pessoa qualquer, era uma das damas que estava no salão na noite anterior. “O que ela pretende fazer? Não, ela não teria coragem... Mas, com certeza, seria bem divertido.” Afastou-se, antes que alguém, a dama, claro, percebesse a sua presença. Só que a bela imagem da moça que se vestia, para sua surpresa, permaneceu bem nítida em sua mente.
XXX

— Todos nos sentimos honrados, por este dia e creio que suas famílias ainda mais. — A Rainha falava antes de ordenar os novos cavaleiros. — Vocês se mostraram dignos desta grande honra e espero que seus nomes possam se cobrir das glórias que somente os atos virtuosos e justos podem trazer.

De Sayers sentia-se orgulhoso e ao mesmo tempo indignado. “Como esta mulher ousa dizer tais coisas? Ela que não passa da mais vil das criminosas!” Olhou para Konrad, ele estava resplandecente em sua túnica branca, bordada de dourado, seus olhos cristalinos cheios de lágrimas, parecia um anjo, só que, atrás dele, estava a sombra maligna de Richard Evilblood. Flora olhou para ele por um instante, admirando sua beleza quase sobrenatural, só que seus doces sentimentos não eram para Konrad, mas para Alan que estava a seu lado. Sabia que o coração de Alan estava pesado, mesmo que ele mesmo não dissesse nada, afinal, entre eles as palavras eram desnecessárias. Konrad notou que no decorrer da cerimônia, mesmo quando Flora olhava para ele, seus “olhos” eram para Alan e sentiu seu coração inundou com um súbito ciúme, um sentimento que desconhecera até então, mas que viria a acompanhá-lo por muito tempo dali para frente. Só voltou sua mente para o que ocorria quando ouviu solenemente a Rainha pronunciar:

— Levante-se Sir Konrad De Sayers! — Pôs-se de pé, imponente e recebeu das mãos de Richard uma belíssima espada. “Esta espada... Não, não pode ser.”, De Sayers achou que deveria estar se confundindo.

— Mostre-se digno de usá-la, meu jovem. — Richard falou com ar orgulhoso.

A visão daquele jovem cavaleiro, de beleza perfeita e ar gracioso, feriu particularmente um dos homens que assistia a cena, fazendo com que acariciasse a cicatriz horrenda que lhe deformava o rosto. Humberto de Dorsos apreciava a beleza, por certo, mas ela sempre o fazia lembrar daquilo que não possuía. Ele procurava insistentemente encontrar com os olhos de certa jovem. Ela não estava presente.

— “Pai, ela não está aqui! Como vou me aproximar dela se ela não está aqui!” — Comentou em sua língua materna, para que ninguém mais pudesse entender.

— “Não seja tolo, Humberto! Está levando muito à sério a idéia de casamento.” — Depois condescendendo o velho disse. — “Pois, bem, está certo, é a primeira vez que passa por isso, é natural que esteja ansioso. Eu vou procurar saber o motivo da ausência, não se preocupe.”

— Estais dispensados, meus nobres. Ver-nos-emos no torneio. — Disse a Rainha se retirando.

— Senhora, preciso falar-lhe. — Marina pediu, pois não conseguira conciliar o sono durante toda à noite e tivera pesadelos terríveis, nos quais se via presa em um cristal mágico.

— Mais tarde, querida. Mais tarde. — Disse se afastando.

Marina procurou Alda com os olhos, mas não a viu, em compensação seus olhos encontraram os de Alan e estes pareciam tão cheios de desprezo por ela que a moça desviou os seus e foi em busca do Marquês De Mülle.
— Senhor Marquês, onde está Alda?

— Ela está indisposta, Alteza. — Mentiu, porque ele mesmo não sabia da filha. — Mas creio que mais tarde estará melhor.

XXX

Cerca de uma hora depois, todos estavam reunidos para o torneio. As arquibancadas eram amplas e estavam enfeitadas com as cores do Reino. Havia espaço para a nobreza e parte dos burgueses mais importantes. Já os populares se aglomeravam a certa distância para assistir, afinal, não era todo o dia que um espetáculo desses acontecia. Alan estava profundamente aborrecido de ter que ficar na audiência ao invés de participar, mas teve que se conformar e sentar-se ao lado de Flora que fazia de tudo para animá-lo. Ela, por sua vez, estava bem perto de Marina que usava um belíssimo vestido azul da mesma cor do véu que lhe enfeitava os cabelos. Ela fazia o possível para não olhar para os dois, mas algo dentro dela latejava.

A Rainha tinha escolhido os lugares com cuidado e simetria e isto não ocorrera por acaso. No entanto, algo a preocupava e ela procurava Richard com os olhos. “Ele não ousará me desobedecer! Não quando fui tão enfática!” Entretanto, lá estava Konrad, na liça prestes a enfrentar Humberto de Dorsos. O jovem usava as cores de Flora na forma de um lenço vermelho amarrado em seu pulso direito, já Humberto não tinha recebido prenda alguma de nenhuma das damas presentes. O arauto anunciou os dois cavaleiros. “Não se preocupe, Majestade.”, Richard falou subitamente ao seu ouvido embora ela soubesse que corporeamente, ele não estava ali. “Tudo ocorrerá como espera.”

Os dois cavaleiros partiram para o embate, só que sem motivo aparente, o cavalo de Konrad tropeçou e corcoveou, e terminou caindo por terra violentamente. Não fosse Humberto um cavaleiro experiente e contido a tempo seu animal, teria acontecido um acidente ainda maior. Konrad foi arremessado da cela. Com a queda, o rapaz destroncou o ombro direito, entre outros ferimentos menores, já seu belíssimo cavalo quebrou a pata, tendo que ser sacrificado.

— Sir Konrad, o senhor está bem? — Perguntou um escudeiro que veio em seu auxílio.

— Sim, estou e posso voltar à liça. Ai! — Gemeu involuntariamente, pois o escudeiro tocou seu braço direito para ajudá-lo a se erguer. — Isso não é nada. Não é nada. Dê-me outro cavalo! Qualquer cavalo! — Sua ordem não foi cumprida, pois o médico da Rainha, se aproximando concluiu:

— Sir Konrad, o senhor não tem condições de lutar hoje!

— Ridículo, eu estou muito bem posso segurar as rédeas com o braço direito e lutar com o esquerdo. — Bravata de adolescente! Por mais hábil que fosse, todos sabiam que tal manobra era pouco provável.

— Eu repito meu diagnóstico, Majestade, Sir Konrad está impossibilitado.

— Sir Konrad, seja prudente e sente-se na audiência, isto é uma ordem. — Ela sabia que este espetáculo tinha sido proporcionado pelos poderes de Richard. — Haverá outros torneios no futuro, meu jovem.

Konrad foi retirar a armadura e obedeceu a contragosto. Seu lábio inferior estava sangrando e seu ombro doía muito. Humberto foi considerado vencedor do primeiro combate, por desistência do oponente e isso fez com que Konrad se sentisse profundamente humilhado. Os próximos a entrarem na liça seriam Sir Denis que acabara de ser armado, também, e um cavaleiro que havia se inscrito em nome do Marquês De Mülle. Este cavaleiro se aproximou de Marina e pediu-lhe uma prenda. A moça aquiesceu cedendo um lenço azul, mas corou profundamente. “Eu não acredito! É loucura!”

— Não sabia, Louis, que havia trazido um cavaleiro. — A Rainha comentou tentando esconder sua curiosidade. — Espero que seja habilidoso o bastante para valorizar a vitória do jovem Denis. — A Rainha falou com desdém. — A propósito, onde está sua filha?

— Indisposta, Majestade. Coisas de mulher. — Fez pausa. — A notícia de ontem à noite não lhe fez bem. — Falou com ar desconfortável e sem olhar nos olhos da Rainha.

— Espero, para o seu próprio bem, que a indisposição seja passageira...

Os dois cavaleiros se lançaram ao combate. Denis era pesado, corpulento e seus golpes mais violentos, só que o outro cavaleiro era ágil, apesar de sua altura. Além disso, era mais leve e usava a força do inimigo contra ele mesmo. Depois de algum tempo, Denis se cansou de tentar uma estratégia mais refinada e decidiu investir na derrubada do oponente usando todo o seu peso. O cavaleiro Desconhecido – como a torcida já o estava chamando – esquivou-se e conseguiu desequilibrá-lo. Antes que o jovem cavaleiro se pusesse em guarda, o Desconhecido saltou do cavalo e colocou-lhe a espada na garganta, pondo fim ao combate.

Alan notou que já conhecia aquele cavalo, mas achou que deveria estar imaginando coisas, deveria ter guardado a imagem de algum dos cavalos que vira nas cocheiras reais. Já Flora, entretanto, teve certeza do que via, mas guardou para si as suas descobertas.

1 pessoas comentaram:

Tive que encadernar para ler, mulher!!! Se não tiver fim eu vu a Brasília e te pego! :-P

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