quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 3)


Se você está lendo este post, deve ter passado pelo capítulo 1. Agora, você está na terceira parte do capítulo 2. Se caiu aqui por engano, clique para retornar para a parte anterior, se você clicar na tag Rosas, poderá acessar todos as partes que coloquei no blog até aqui. Quem estiver perdido é só perguntar e qualquer comentário, sugestão ou crítica será lida e desde já agradeço pela atenção.


Ventos de Mudança
Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 3)

Alda não foi correndo atrás de Marina, ela que voltasse sozinha, já que estava tão disposta. Esperou um pouco até que a outra se afastasse e decidiu retornar para seu quarto deixando Alan, sua irmã e o outro rapaz para trás. Tinham decidido se encontrar no outro dia, quando surgisse a primeira chance. Sabia, porém, que o primo desconfiava dela, já os outros dois pareciam as pessoas mais plácidas e agradáveis do mundo, ainda mais em condições estranhas como aquelas. “São crianças ainda... Ou parecem ver o mundo com olhos benevolentes.”

Na verdade, a coisa era bem diferente. Elaine seguiria Alan para aonde ele fosse, ainda mais agora que o reencontrara, e Haroldo seguiria Elaine sem pensar duas vezes, especialmente porque nada tinha a perder, ou pelo menos ele pensava assim. Ambos, no entanto, tinham medo. Mas com tanta gente gritando e esperneando, era melhor que não aumentassem a confusão.

Para chegar até o palácio sem atrair muita atenção, Alda deveria passar pelo lugar onde o jovem Guilherme estava sendo supliciado. Tinha pena dele e ao mesmo tempo admiração, pois estava lutando pelo que era direito e, agora, estava sendo humilhado por isso. “Deve ter sede, fome e frio...” Decidiu que podia e devia fazer algo por ele. “Pouco me importa o que pensem!”

— Erik, Me dê o seu cantil. — O outro obedeceu prontamente, mas quando viu o que ela estava prestes a fazer, tentou impedir.

— Milady, não deve fazer isso! É temerário...

— Eu sei! — Deu um sorriso rápido, envolveu-se mais ainda em sua capa e subiu os degraus. Os guardas tentaram impedir.

— Pare onde está! A Rainha proibiu!

— Como sabe se não estou aqui seguindo ordens de sua Majestade? — Falou usando de toda a autoridade e imponência que poderia arregimentar. Era nessas horas que agradecia o fato de ser tão alta, pois poderia se tornar ainda maior aos olhos de gente simplória. — Ouse me tocar e assuma as conseqüências. — Aproveitando a hesitação do guarda, ela chegou até o Príncipe que olhou para sua figura envolta pelo pesado manto verde e pela escuridão como se fosse uma aparição. — Beba! — Deu-lhe um gole d’água. — Saiba que virão resgatá-lo em breve. — Sussurrou e não teve certeza de que o outro escutara, mas ele esboçou um sorriso.

— O que acha que está fazendo, mulher? — Uma voz plena de autoridade. O homem a interpelou e teria mesmo agarrado seu braço, não fosse a intervenção de um jovem cavaleiro.

— Deixe-a em paz, Capitão! Ele está fadado a morrer, esta água só irá reavivar seus sentidos. — Fez pausa. — Não é isso que deseja? — Era o belo rapaz que Marina apontara, o que tocava harpa e flauta e tinha se ausentado da corte por algum tempo.

O Capitão parou onde estava, o que queria dizer que o outro era alguém importante. Mais importante do que o homem que arrastara Guilherme pelo salão.
— Permita-me que termine esta tarefa, Senhora. — Ele fez uma mesura profunda. — Este não é um lugar adequado a uma dama. — Ele tinha um corpo elegante e movia-se com a languidez e flexibilidade de um gato. Alda não deixou de notar que Marina tinha bom gosto para homens, mas beleza não era tudo.

— Uma dama deve estar onde sua presença se faz necessária... Mas creio que é hora de ir. — Voltou-se para Guilherme: — Coragem, Senhor! Não me decepcione! — O rapaz acorrentado agarrou sua mão com tanta força que ela quase não conseguiu se mover. Era uma demonstração de que estava bem vivo. E o olhar que lhe lançou era intenso. “Deve estar com febre... as feridas podem estar infeccionando.” Os olhos azuis do rapaz brilhavam e havia fogo neles... Febre? Vontade de viver? Desejo de vingança? Tudo isso junto.

— Jamais faria isso, Senhora. — Ele a soltou. — Sua imagem estará para sempre em meus pensamentos, dama de verde. — Ela se foi e tão logo ela desapareceu das vistas deles, Jerôme derramou todo o conteúdo do cantil sobre a cabeça de Guilherme.

— Não esperava que eu o mimasse como aquela tola, não é Guilherme De Auston. — Ele sorriu lentamente. — Mas não deixou de ser um espetáculo interessante... um consolo para o heróico cavaleiro preste a encontrar a morte. Talvez eu escreva uma balada sobre seus últimos dias. — E se foi.

XXX

Depois do incidente, Erik a acompanhou até a entrada do palácio, temeroso de que sua Senhora pudesse se meter em alguma confusão pelo caminho, ou que o Capitão viesse atrás dela tomar satisfações. Até onde sabia, Alda estava desarmada, e mesmo se estivesse, o Capitão era um homem grande e poderia não estar sozinho. Alda baixou o capuz e se identificou. Os guardas do palácio a deixaram passar sem perguntas. Lá dentro, somente a tênue luz das velas iluminava o corredor, gelado. Estava quase em seus aposentos quando alguém, saindo das sombras, se interpôs:

— Não deveria vagar sozinha pelo castelo a essas horas, Senhora. — O homem era estrangeiro, como seu sotaque pesado e a dificuldade com as palavras, indicavam. Alda notou, também, apesar da escuridão, que seu rosto era deformado por uma terrível cicatriz. Como não o conhecia, simplesmente tentou passar, só que o homem, com uma força descomunal, segurou seu pulso. — Falo, porque me preocupo.

— Não preciso que se preocupe comigo, Senhor. Sei me cuidar sozinha. Eu garanto. — Disse se esforçando para soltar o pulso. — Além disso, Senhor, — Sua voz assumiu o tom orgulhoso que a tornava ainda mais imponente. — não o conheço. Talvez de onde venha seja comum abordar as moças em lugares escuros, mas aqui convém que haja uma apresentação preliminar. Peço que solte o meu pulso ou vou gritar por socorro. — Ele soltou. — Com sua licença. — Deu-lhe as costas e foi embora.

“Ainda nos veremos de novo, minha noiva... Ainda nos veremos!” O homem era Humberto de Dorsos, e embora Alda não soubesse ainda, seriam apresentados no dia seguinte.

0 pessoas comentaram:

Related Posts with Thumbnails