segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 2)


Se você está lendo este post, deve ter passado pelo capítulo 1. Agora, você está na segunda parte do capítulo 2. Se caiu aqui por engano, clique para retornar para a parte anterior, se você clicar na tag Rosas, poderá acessar todos as partes que coloquei no blog até aqui. Eu gosto mais do capítulo 2 do que do capítulo 1, mas ele demora um pouco a esquentar, acho... o ideal seria postar mais uma parte hoje ou amanhã mesmo. Enfim, qualquer comentário, sugestão ou crítica será lida e desde já agradeço pela atenção.


Ventos de Mudança
Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 2)

— Aquele não é meu primo, Alan?

— Parece ser, Milady. — Erik respondeu a pergunta.

— O que ele faz aqui? — Marina perguntou curiosa. — Ele também foi envolvido pela luz... Vamos segui-lo. — E foi atrás dele, sem esperar resposta. Alda e Erik se olharam e seguiram, também. “Para certas coisas, você não é nada indecisa, não é mesmo?”, pensou Alda que também estava curiosa.

XXX

— Será que ele vem mesmo, Haroldo? — Elaine perguntou ansiosa.

— Ele disse que viria... fique calma. — Disse olhando apreensivamente para a porta da estrebaria entreaberta. — Ele está a caminho, tenha certeza.

Não demorou muito, a porta foi aberta lentamente, e um rapaz alto e moreno entrou. Elaine ficou de pé e os dois se olharam. Não se viam há tanto tempo... mas parecia que tinham se separado ontem. Alan lembrava-se bem de tudo e não esquecera os traços da sua irmã, no entanto, foi ela que sem esperar correu para ele com os olhos cheios de lágrimas e os dois se abraçaram.

— Alan, Alan, como eu senti sua falta! — Alan acariciava sua cabeça com carinho. — Às vezes... Às vezes, eu pensava que jamais veria você de novo!

— Como você cresceu! Se papai a visse agor... — Sua voz foi embargada pelas lágrimas. Ela era sua única família, a única família que lhe restara no mundo inteiro. — Ah, irmãzinha! Eu sempre tive certeza que nos encontraríamos, tão certo como sei que um dia farei justiça ao nosso nome.

Haroldo, também, não conseguiu segurar as lágrimas. Primeiro, porque adorava Elaine, era a pessoa mais especial sobre a face da terra para ele. Além disso, também perdera sua família. Quando chegaram a Corte, depois de caírem com a espaçonave, foram bem recebidos, afinal, a Rainha, mãe de Marina, sempre fora uma boa influência sobre o Rei e ela se tornou amiga da mãe de Haroldo. Só que ela morreu de parto, sua mãe, a médica, acabou sendo considerada culpada e toda a sua família caiu em desgraça. Com o segundo casamento do Rei tornaram-se mesmo fugitivos. Não sabia onde estavam seus pais, se mortos, se vivos e encarcerados em algum lugar. Na verdade, era melhor nem pensar sobre isso. Só sabia que ficou só, sob a guarda da Real. Consideravam-no perigoso, com certeza, embora não o suficiente para ser enjaulado! Alan pegou as mãos da irmã.

— Não são as mãos de uma dama. — Elas estavam maltratadas pelos duros trabalhos que lhe eram impostos. — Com certeza minha vida tem sido muito melhor que a sua. — A menina começou a soluçar alto e Alan beijou as mãos da irmã. — Mas juro que ela será melhor daqui para frente. Pode confiar em mim. — Já estava pensando em como fugir e levaria Elaine e Flora com ele.

Neste momento, Marina, que observava tudo por uma brecha da porta, se descuidou e a porta abriu com estrondo, assustando a todos.

— O que faz aqui? — Alan perguntou com toda a hostilidade que podia colocar em sua voz.

— É a princesa! — Elaine exclamou.

— Eu sei bem quem ela é. — Alan falou com seus olhos faiscantes e a voz grave. — Eu a vi hoje. — Os músculos do seu rosto se contraíram e fizeram com que parecesse mais velho do que realmente era.

Marina tinha caído no chão e Haroldo ajudou-a a se levantar. Acostumada a ser o centro das atenções, ela se recompôs rapidamente. E olhando para Alan, se desculpou, tentando dissimular o fato de que ficava muito perturbada na presença do rapaz.

— Desculpe-me, eu não queria interromper... — Ela tateava nas palavras. — Foi um acidente.

— Pois interrompeu e ficaria feliz se fosse embora! — Foi duro e Alda se meteu na conversa.

— Não precisa ser grosseiro com ela. Por que você sempre se comporta como se odiasse tudo e todos? — Ela respirou fundo. — A Princesa já se desculpou.

— Eu tenho motivos para odiar “tudo e todos”, se quer saber, Senhora. E principalmente, eu tenho motivos para odiar vocês duas pelo que seus pais fizeram.

— Eu não sou meu pai, Alan! E não pode me culpar pelo que ele fez. — “Se é que ele fez alguma coisa...”, pensou Alda, embora uma dúvida começasse a se aninhar dentro dela.

— Somos fruto daquilo que nossos ancestrais fizeram, está no nosso sangue!

— No seu sangue então, não, no meu! — Falou com voz alterada. — Aliás, temos o mesmo sangue, se bem me recordo. Somos primos-irmãos.

— Vocês, dois, poderiam gritar mais baixo, por favor. — Haroldo interrompeu. — Daqui a pouco todo o castelo vai aparecer por aqui prá saber o motivo dessa algazarra noturna. Não sei por vocês, mas se eu fosse descoberto as coisas iriam realmente ficar complicadas para mim.

— Alan, elas não têm culpa. Agindo assim, você estará fazendo o mesmo que fizeram conosco, que fizeram com nosso irmão. — Lembrar o incidente, fazia com que o rapaz visse a morte de Estevão, outra vez. — Não percebe isso? Não percebe?

— Se fizeram conosco, por que não teria o direito de fazer o mesmo? — Perguntou com voz furiosa.

— Porque é errado! — A voz de Elaine tinha um tom tão doce que qualquer um se acalmaria só de ouvi-la. — Um erro não justifica outro! Não as trate desta forma, eu suplico! — Ela o encarou com seus grandes olhos.

Alan baixou os olhos, ela tinha razão, ele sabia. Flora iria dizer a mesma coisa. Mas como esquecer tudo se ao olhar para elas só via seus pais? Marina, então, aproveitando que ele parecia mais calmo, perguntou:

— Você também foi envolvido pela luz... — Falou lentamente. — Tem alguma idéia do que seja?

— Luz!? Vocês, também? — Haroldo se espantou. — Por meio minuto, eu parecia um vaga-lume!

— E eu, também! — Elaine acrescentou. — Foi a sensação mais estranha de toda a minha vida.

— Todos nós e mais o Príncipe Guilherme, então. — Alda falou. — Precisamos descobrir o porquê.

Nisso pelo menos todos concordavam.

XXX

De repente, a mesma luz que os envolvera retornou e de dentro da parede saiu o velho mago que aparecera no salão e olhando bem para o rosto de cada um deles, falou:

— Por muitos anos, eu esperei por este dia. — Seu tom era solene. “Como nos Contos de Fada...”, pensou Marina. — As profecias finalmente hão de se cumprir, vocês foram escolhidos para libertarem o Reino da tirania de Dominique e entronizar o jovem Rei.

— Nós!? — Haroldo interrompeu. — O Senhor tem certeza que não pegou o grupo errado?

— Não! Eu tenho certeza. — Fez pausa. — Eis a Princesa que empunhará a Espada Sagrada como foi feito no passado, — Marina olhava para ele como se o velho estivesse louco e todos olhavam para a Princesa e pensavam que só um louco poderia achar que Marina poderia cumprir alguma missão. — Temos aquele cuja função será dar proteção a todos que precisarem. — Disse apontando Alan. — Aqui está aquela que cobrirá o inimigo com setas infalíveis como a chuva cobre a terra. — Falou apontando Alda. — Temos aquele que fará a mágica de onde ela não existe. — Pôs a mão no ombro de Haroldo. — Temos aquela cuja magia será tão grande quanto a da Rainha das Fadas. — Falou olhando para Elaine. — E, lá fora, ao relento, está o grande machado, e podem ter certeza de que seu braço poderoso não ficará em cadeias por muito tempo. Só falta um guerreiro, aquele que se abaterá sobre o inimigo como um vento furioso. Quando ele aparecer, então, venceremos.

— Isso é loucura! — Marina exclamou. — Minha madrasta não quer o mal do Reino. Foi a Rainha das Fadas quem levou meu irmão! Se Sua Majestade é dura, — E a moça pensou em Guilherme que sempre fora gentil com ela. — é para que o Reino não se esfacele por causa daqueles que não respeitam a lei e a ordem.

— Crê nisto, de verdade? — O Mago perguntou. — Ou tem medo de ver o que está acontecendo lá fora? — Ergueu seu cajado e ele brilhou com a mesma intensidade que no castelo. Parecia estar em chamas. — Poderes da Luz, que tudo permeia, mostre-nos o que se passa além deste castelo. — Como se fosse um filme, todos puderam ver morte e desolação, vilas queimadas, camponeses sendo expulsos de suas terras, violências feitas pelas tropas reais, reinos vizinhos invadidos.

— Tudo pode ser uma grande ilusão. Pode estar querendo me convencer para...

— Raios, mulher! Você é cega? — Alan explodiu. — Não vê que tudo isso é a pura verdade. É o que está acontecendo no mundo lá fora.

— Não pode ser verdade! Não pode! — Ela ia começar a chorar, com certeza. — Ela não faria isso!

— Talvez o passado seja mais convincente que o presente. — As imagens sumiram, e todos viram surgir o interior do palácio real o momento do nascimento do príncipe Eduardo. Lá estava a mãe de Haroldo e a Rainha jazia morta. — Marina não queria lembrar daquele momento, ver aquela cena, mas iriam obrigá-la a isso. — O Rei entra transtornado e toma a esposa morta nos braços, gritando que queria que ela vivesse e não aquela criança infeliz. Expulsa a mãe de Haroldo dizendo que eles deveriam sair do palácio real antes do pôr do sol, ou seriam todos executados, até mesmo o pequeno Haroldo. — Marina começou a chorar. Haroldo recordou que a ordem de deixar o palácio se transformou em uma espécie de permanência vigiada, já que o Rei temia “os poderes” de seus pais. — A criança indefesa também chorava. O rei, transtornado, a amaldiçoa dizendo que não viveria para sentar-se no trono e, em seguida, desembainha sua espada. Pretende matá-la, por certo, mas antes que pudesse cometer o ato tresloucado, um clarão inunda o quarto, e a grande Silena, a mais poderosa de todas as Rainhas das Fadas que já existiram, aparece imponente. Ela toma a criança nos braços e diz que o Rei jamais poria seus olhos sobre ela enquanto vivesse e que ele, sim, seria maldito, por amaldiçoar a sua Casa e que nunca haveria paz em seu reinado, não por obra de sua magia, mas, sim, devido a seus maus atos. Dito isto, ela desaparece, levando o menino. E a imagem se foi. — A criança vive e está em segurança, mas não neste mundo. Quando você, Princesa, abrir as portas do castelo de Kronnenveil, um novo reinado irá se iniciar.

— Eu vou perguntar à Rainha, ela não irá me esconder a verdade. — Balançou a cabeça, quase em prantos.

— Faça isso, sua tola, e irá ser a morte para todos nós! — Alan esbravejou e Marina olhou para ele espantada. Como poderia ousar chamá-la de tola?

— A Conspiração Sangrenta foi tudo uma mentira, então? — Alda perguntou tentando obter o máximo de informações possível.

— Sim, a maior de todas elas mas o Rei não sabia disso, até o último dos seus dias ele acreditou que havia sido traído. Ele era obcecado por essa idéia. — O velho fez pausa. — Somente quatro pessoas sabem que tudo não passou de uma mentira: o Marquês De Mülle, o Conde De Sayers, a Rainha e Richard Evilblood.

— Ele sempre tem um dedo em tudo... — Alda murmurou. — Mas, que devemos fazer então?

— Devem partir para o Castelo do Amanhecer, a Rainha das Fadas espera por vocês.

— Como chegaremos lá? — Haroldo perguntou e um mapa apareceu em suas mãos.

— Sigam este mapa. — Fez pausa. — Mas antes de partir devem libertar o Príncipe Guilherme.

— Como, se não temos armas? E são muitos os soldados. É uma tarefa impossível! — Alan perguntou.

— Estão sendo testados... Devem se mostrar dignos da grande missão que os aguarda. — Disse laconicamente. — Não se atrasem, a Fada Ádina espera por vocês.

— Eu não vou! — Marina gritou.

— O que disse? — Alan perguntou furioso. — Precisamos de você.

— Não vou, já disse. — Sua teimosia, traço mais evidente de sua personalidade, veio a tona com toda a força. — E se tudo não passar de uma mentira. Uma grande armadilha para me capturarem. Uma armadilha dos inimigos do Reino?

— Você é uma idiota! Não vê que tudo é a mais pura verdade!

— Quem me garante isso? Você, o filho de um traidor! — Alan estava tão furioso, e aquelas palavras o feriram tanto, que lhe deu uma bofetada.

— Alan! — Elaine gritou horrorizada. Alda também parecia chocada e no primeiro momento teve vontade de se atracar com ele, mesmo concordando que Marina era uma tola.

— Como ousa! Como ousa me tocar! — Gritou furiosa, passando a mão na face avermelhada. — Eu vou embora daqui.

— Lembre-se, Princesa, você é o eixo central da profecia. Ninguém pode fugir de sua missão.

— Pois encontre outra pessoa, Senhor Mago, porque eu não tenho nada a ver com isso! — E saiu. “Isso é uma loucura, uma grande loucura. Vou perguntar à Rainha, ela me dirá a verdade! A verdade!”

— É, pelo jeito alguém fundamental não quer embarcar nessa canoa... — “furada conosco”. Haroldo falou baixinho.

Alan estava olhando para a sua mão, sentia o rosto queimar um pouco, como se ele também tivesse levado uma bofetada. O olhar de reprovação de Alda e de sua irmã o incomodava. Nunca tinha batido em mulher alguma, nunca tinha sequer desejado, não tinha sido um bom começo aquele. Teria mais um inimigo dali para frente.

— Tenham certeza de que ela voltará. Ninguém pode fugir de sua missão, eu disse. — O velho começou a desaparecer. — Confio em vocês e minha missão termina aqui. Agora devem cumprir a sua, não desanimem! — Sumiu. Deixando todos com os corações pesados e cheios de dúvidas assustadoras.

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