Se você está lendo este post, deve ter passado pelo capítulo 1. Agora, você está na segunda parte do capítulo 2. Se caiu aqui por engano, clique para retornar para a parte anterior, se você clicar na tag Rosas, poderá acessar todos as partes que coloquei no blog até aqui. Eu gosto mais do capítulo 2 do que do capítulo 1, mas ele demora um pouco a esquentar, acho... o ideal seria postar mais uma parte hoje ou amanhã mesmo. Enfim, qualquer comentário, sugestão ou crítica será lida e desde já agradeço pela atenção.
Ventos de Mudança
Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 2)
Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 2)
— Aquele não é meu primo, Alan?
— Parece ser, Milady. — Erik respondeu a pergunta.
— O que ele faz aqui? — Marina perguntou curiosa. — Ele também foi envolvido pela luz... Vamos segui-lo. — E foi atrás dele, sem esperar resposta. Alda e Erik se olharam e seguiram, também. “Para certas coisas, você não é nada indecisa, não é mesmo?”, pensou Alda que também estava curiosa.
— Será que ele vem mesmo, Haroldo? — Elaine perguntou ansiosa.
— Ele disse que viria... fique calma. — Disse olhando apreensivamente para a porta da estrebaria entreaberta. — Ele está a caminho, tenha certeza.
Não demorou muito, a porta foi aberta lentamente, e um rapaz alto e moreno entrou. Elaine ficou de pé e os dois se olharam. Não se viam há tanto tempo... mas parecia que tinham se separado ontem. Alan lembrava-se bem de tudo e não esquecera os traços da sua irmã, no entanto, foi ela que sem esperar correu para ele com os olhos cheios de lágrimas e os dois se abraçaram.
— Alan, Alan, como eu senti sua falta! — Alan acariciava sua cabeça com carinho. — Às vezes... Às vezes, eu pensava que jamais veria você de novo!
— Como você cresceu! Se papai a visse agor... — Sua voz foi embargada pelas lágrimas. Ela era sua única família, a única família que lhe restara no mundo inteiro. — Ah, irmãzinha! Eu sempre tive certeza que nos encontraríamos, tão certo como sei que um dia farei justiça ao nosso nome.
Haroldo, também, não conseguiu segurar as lágrimas. Primeiro, porque adorava Elaine, era a pessoa mais especial sobre a face da terra para ele. Além disso, também perdera sua família. Quando chegaram a Corte, depois de caírem com a espaçonave, foram bem recebidos, afinal, a Rainha, mãe de Marina, sempre fora uma boa influência sobre o Rei e ela se tornou amiga da mãe de Haroldo. Só que ela morreu de parto, sua mãe, a médica, acabou sendo considerada culpada e toda a sua família caiu em desgraça. Com o segundo casamento do Rei tornaram-se mesmo fugitivos. Não sabia onde estavam seus pais, se mortos, se vivos e encarcerados em algum lugar. Na verdade, era melhor nem pensar sobre isso. Só sabia que ficou só, sob a guarda da Real. Consideravam-no perigoso, com certeza, embora não o suficiente para ser enjaulado! Alan pegou as mãos da irmã.
— Não são as mãos de uma dama. — Elas estavam maltratadas pelos duros trabalhos que lhe eram impostos. — Com certeza minha vida tem sido muito melhor que a sua. — A menina começou a soluçar alto e Alan beijou as mãos da irmã. — Mas juro que ela será melhor daqui para frente. Pode confiar em mim. — Já estava pensando em como fugir e levaria Elaine e Flora com ele.
Neste momento, Marina, que observava tudo por uma brecha da porta, se descuidou e a porta abriu com estrondo, assustando a todos.
— O que faz aqui? — Alan perguntou com toda a hostilidade que podia colocar em sua voz.
— É a princesa! — Elaine exclamou.
— Eu sei bem quem ela é. — Alan falou com seus olhos faiscantes e a voz grave. — Eu a vi hoje. — Os músculos do seu rosto se contraíram e fizeram com que parecesse mais velho do que realmente era.
Marina tinha caído no chão e Haroldo ajudou-a a se levantar. Acostumada a ser o centro das atenções, ela se recompôs rapidamente. E olhando para Alan, se desculpou, tentando dissimular o fato de que ficava muito perturbada na presença do rapaz.
— Desculpe-me, eu não queria interromper... — Ela tateava nas palavras. — Foi um acidente.
— Pois interrompeu e ficaria feliz se fosse embora! — Foi duro e Alda se meteu na conversa.
— Não precisa ser grosseiro com ela. Por que você sempre se comporta como se odiasse tudo e todos? — Ela respirou fundo. — A Princesa já se desculpou.
— Eu tenho motivos para odiar “tudo e todos”, se quer saber, Senhora. E principalmente, eu tenho motivos para odiar vocês duas pelo que seus pais fizeram.
— Eu não sou meu pai, Alan! E não pode me culpar pelo que ele fez. — “Se é que ele fez alguma coisa...”, pensou Alda, embora uma dúvida começasse a se aninhar dentro dela.
— Somos fruto daquilo que nossos ancestrais fizeram, está no nosso sangue!
— No seu sangue então, não, no meu! — Falou com voz alterada. — Aliás, temos o mesmo sangue, se bem me recordo. Somos primos-irmãos.
— Vocês, dois, poderiam gritar mais baixo, por favor. — Haroldo interrompeu. — Daqui a pouco todo o castelo vai aparecer por aqui prá saber o motivo dessa algazarra noturna. Não sei por vocês, mas se eu fosse descoberto as coisas iriam realmente ficar complicadas para mim.
— Alan, elas não têm culpa. Agindo assim, você estará fazendo o mesmo que fizeram conosco, que fizeram com nosso irmão. — Lembrar o incidente, fazia com que o rapaz visse a morte de Estevão, outra vez. — Não percebe isso? Não percebe?
— Se fizeram conosco, por que não teria o direito de fazer o mesmo? — Perguntou com voz furiosa.
— Porque é errado! — A voz de Elaine tinha um tom tão doce que qualquer um se acalmaria só de ouvi-la. — Um erro não justifica outro! Não as trate desta forma, eu suplico! — Ela o encarou com seus grandes olhos.
Alan baixou os olhos, ela tinha razão, ele sabia. Flora iria dizer a mesma coisa. Mas como esquecer tudo se ao olhar para elas só via seus pais? Marina, então, aproveitando que ele parecia mais calmo, perguntou:
— Você também foi envolvido pela luz... — Falou lentamente. — Tem alguma idéia do que seja?
— Luz!? Vocês, também? — Haroldo se espantou. — Por meio minuto, eu parecia um vaga-lume!
— E eu, também! — Elaine acrescentou. — Foi a sensação mais estranha de toda a minha vida.
— Todos nós e mais o Príncipe Guilherme, então. — Alda falou. — Precisamos descobrir o porquê.
Nisso pelo menos todos concordavam.
De repente, a mesma luz que os envolvera retornou e de dentro da parede saiu o velho mago que aparecera no salão e olhando bem para o rosto de cada um deles, falou:
— Por muitos anos, eu esperei por este dia. — Seu tom era solene. “Como nos Contos de Fada...”, pensou Marina. — As profecias finalmente hão de se cumprir, vocês foram escolhidos para libertarem o Reino da tirania de Dominique e entronizar o jovem Rei.
— Nós!? — Haroldo interrompeu. — O Senhor tem certeza que não pegou o grupo errado?
— Não! Eu tenho certeza. — Fez pausa. — Eis a Princesa que empunhará a Espada Sagrada como foi feito no passado, — Marina olhava para ele como se o velho estivesse louco e todos olhavam para a Princesa e pensavam que só um louco poderia achar que Marina poderia cumprir alguma missão. — Temos aquele cuja função será dar proteção a todos que precisarem. — Disse apontando Alan. — Aqui está aquela que cobrirá o inimigo com setas infalíveis como a chuva cobre a terra. — Falou apontando Alda. — Temos aquele que fará a mágica de onde ela não existe. — Pôs a mão no ombro de Haroldo. — Temos aquela cuja magia será tão grande quanto a da Rainha das Fadas. — Falou olhando para Elaine. — E, lá fora, ao relento, está o grande machado, e podem ter certeza de que seu braço poderoso não ficará em cadeias por muito tempo. Só falta um guerreiro, aquele que se abaterá sobre o inimigo como um vento furioso. Quando ele aparecer, então, venceremos.
— Isso é loucura! — Marina exclamou. — Minha madrasta não quer o mal do Reino. Foi a Rainha das Fadas quem levou meu irmão! Se Sua Majestade é dura, — E a moça pensou em Guilherme que sempre fora gentil com ela. — é para que o Reino não se esfacele por causa daqueles que não respeitam a lei e a ordem.
— Crê nisto, de verdade? — O Mago perguntou. — Ou tem medo de ver o que está acontecendo lá fora? — Ergueu seu cajado e ele brilhou com a mesma intensidade que no castelo. Parecia estar em chamas. — Poderes da Luz, que tudo permeia, mostre-nos o que se passa além deste castelo. — Como se fosse um filme, todos puderam ver morte e desolação, vilas queimadas, camponeses sendo expulsos de suas terras, violências feitas pelas tropas reais, reinos vizinhos invadidos.
— Tudo pode ser uma grande ilusão. Pode estar querendo me convencer para...
— Raios, mulher! Você é cega? — Alan explodiu. — Não vê que tudo isso é a pura verdade. É o que está acontecendo no mundo lá fora.
— Não pode ser verdade! Não pode! — Ela ia começar a chorar, com certeza. — Ela não faria isso!
— Talvez o passado seja mais convincente que o presente. — As imagens sumiram, e todos viram surgir o interior do palácio real o momento do nascimento do príncipe Eduardo. Lá estava a mãe de Haroldo e a Rainha jazia morta. — Marina não queria lembrar daquele momento, ver aquela cena, mas iriam obrigá-la a isso. — O Rei entra transtornado e toma a esposa morta nos braços, gritando que queria que ela vivesse e não aquela criança infeliz. Expulsa a mãe de Haroldo dizendo que eles deveriam sair do palácio real antes do pôr do sol, ou seriam todos executados, até mesmo o pequeno Haroldo. — Marina começou a chorar. Haroldo recordou que a ordem de deixar o palácio se transformou em uma espécie de permanência vigiada, já que o Rei temia “os poderes” de seus pais. — A criança indefesa também chorava. O rei, transtornado, a amaldiçoa dizendo que não viveria para sentar-se no trono e, em seguida, desembainha sua espada. Pretende matá-la, por certo, mas antes que pudesse cometer o ato tresloucado, um clarão inunda o quarto, e a grande Silena, a mais poderosa de todas as Rainhas das Fadas que já existiram, aparece imponente. Ela toma a criança nos braços e diz que o Rei jamais poria seus olhos sobre ela enquanto vivesse e que ele, sim, seria maldito, por amaldiçoar a sua Casa e que nunca haveria paz em seu reinado, não por obra de sua magia, mas, sim, devido a seus maus atos. Dito isto, ela desaparece, levando o menino. E a imagem se foi. — A criança vive e está em segurança, mas não neste mundo. Quando você, Princesa, abrir as portas do castelo de Kronnenveil, um novo reinado irá se iniciar.
— Eu vou perguntar à Rainha, ela não irá me esconder a verdade. — Balançou a cabeça, quase em prantos.
— Faça isso, sua tola, e irá ser a morte para todos nós! — Alan esbravejou e Marina olhou para ele espantada. Como poderia ousar chamá-la de tola?
— A Conspiração Sangrenta foi tudo uma mentira, então? — Alda perguntou tentando obter o máximo de informações possível.
— Sim, a maior de todas elas mas o Rei não sabia disso, até o último dos seus dias ele acreditou que havia sido traído. Ele era obcecado por essa idéia. — O velho fez pausa. — Somente quatro pessoas sabem que tudo não passou de uma mentira: o Marquês De Mülle, o Conde De Sayers, a Rainha e Richard Evilblood.
— Ele sempre tem um dedo em tudo... — Alda murmurou. — Mas, que devemos fazer então?
— Devem partir para o Castelo do Amanhecer, a Rainha das Fadas espera por vocês.
— Como chegaremos lá? — Haroldo perguntou e um mapa apareceu em suas mãos.
— Sigam este mapa. — Fez pausa. — Mas antes de partir devem libertar o Príncipe Guilherme.
— Como, se não temos armas? E são muitos os soldados. É uma tarefa impossível! — Alan perguntou.
— Estão sendo testados... Devem se mostrar dignos da grande missão que os aguarda. — Disse laconicamente. — Não se atrasem, a Fada Ádina espera por vocês.
— Eu não vou! — Marina gritou.
— O que disse? — Alan perguntou furioso. — Precisamos de você.
— Não vou, já disse. — Sua teimosia, traço mais evidente de sua personalidade, veio a tona com toda a força. — E se tudo não passar de uma mentira. Uma grande armadilha para me capturarem. Uma armadilha dos inimigos do Reino?
— Você é uma idiota! Não vê que tudo é a mais pura verdade!
— Quem me garante isso? Você, o filho de um traidor! — Alan estava tão furioso, e aquelas palavras o feriram tanto, que lhe deu uma bofetada.
— Alan! — Elaine gritou horrorizada. Alda também parecia chocada e no primeiro momento teve vontade de se atracar com ele, mesmo concordando que Marina era uma tola.
— Como ousa! Como ousa me tocar! — Gritou furiosa, passando a mão na face avermelhada. — Eu vou embora daqui.
— Lembre-se, Princesa, você é o eixo central da profecia. Ninguém pode fugir de sua missão.
— Pois encontre outra pessoa, Senhor Mago, porque eu não tenho nada a ver com isso! — E saiu. “Isso é uma loucura, uma grande loucura. Vou perguntar à Rainha, ela me dirá a verdade! A verdade!”
— É, pelo jeito alguém fundamental não quer embarcar nessa canoa... — “furada conosco”. Haroldo falou baixinho.
Alan estava olhando para a sua mão, sentia o rosto queimar um pouco, como se ele também tivesse levado uma bofetada. O olhar de reprovação de Alda e de sua irmã o incomodava. Nunca tinha batido em mulher alguma, nunca tinha sequer desejado, não tinha sido um bom começo aquele. Teria mais um inimigo dali para frente.
— Tenham certeza de que ela voltará. Ninguém pode fugir de sua missão, eu disse. — O velho começou a desaparecer. — Confio em vocês e minha missão termina aqui. Agora devem cumprir a sua, não desanimem! — Sumiu. Deixando todos com os corações pesados e cheios de dúvidas assustadoras.
— Parece ser, Milady. — Erik respondeu a pergunta.
— O que ele faz aqui? — Marina perguntou curiosa. — Ele também foi envolvido pela luz... Vamos segui-lo. — E foi atrás dele, sem esperar resposta. Alda e Erik se olharam e seguiram, também. “Para certas coisas, você não é nada indecisa, não é mesmo?”, pensou Alda que também estava curiosa.
XXX
— Será que ele vem mesmo, Haroldo? — Elaine perguntou ansiosa.
— Ele disse que viria... fique calma. — Disse olhando apreensivamente para a porta da estrebaria entreaberta. — Ele está a caminho, tenha certeza.
Não demorou muito, a porta foi aberta lentamente, e um rapaz alto e moreno entrou. Elaine ficou de pé e os dois se olharam. Não se viam há tanto tempo... mas parecia que tinham se separado ontem. Alan lembrava-se bem de tudo e não esquecera os traços da sua irmã, no entanto, foi ela que sem esperar correu para ele com os olhos cheios de lágrimas e os dois se abraçaram.
— Alan, Alan, como eu senti sua falta! — Alan acariciava sua cabeça com carinho. — Às vezes... Às vezes, eu pensava que jamais veria você de novo!
— Como você cresceu! Se papai a visse agor... — Sua voz foi embargada pelas lágrimas. Ela era sua única família, a única família que lhe restara no mundo inteiro. — Ah, irmãzinha! Eu sempre tive certeza que nos encontraríamos, tão certo como sei que um dia farei justiça ao nosso nome.
Haroldo, também, não conseguiu segurar as lágrimas. Primeiro, porque adorava Elaine, era a pessoa mais especial sobre a face da terra para ele. Além disso, também perdera sua família. Quando chegaram a Corte, depois de caírem com a espaçonave, foram bem recebidos, afinal, a Rainha, mãe de Marina, sempre fora uma boa influência sobre o Rei e ela se tornou amiga da mãe de Haroldo. Só que ela morreu de parto, sua mãe, a médica, acabou sendo considerada culpada e toda a sua família caiu em desgraça. Com o segundo casamento do Rei tornaram-se mesmo fugitivos. Não sabia onde estavam seus pais, se mortos, se vivos e encarcerados em algum lugar. Na verdade, era melhor nem pensar sobre isso. Só sabia que ficou só, sob a guarda da Real. Consideravam-no perigoso, com certeza, embora não o suficiente para ser enjaulado! Alan pegou as mãos da irmã.
— Não são as mãos de uma dama. — Elas estavam maltratadas pelos duros trabalhos que lhe eram impostos. — Com certeza minha vida tem sido muito melhor que a sua. — A menina começou a soluçar alto e Alan beijou as mãos da irmã. — Mas juro que ela será melhor daqui para frente. Pode confiar em mim. — Já estava pensando em como fugir e levaria Elaine e Flora com ele.
Neste momento, Marina, que observava tudo por uma brecha da porta, se descuidou e a porta abriu com estrondo, assustando a todos.
— O que faz aqui? — Alan perguntou com toda a hostilidade que podia colocar em sua voz.
— É a princesa! — Elaine exclamou.
— Eu sei bem quem ela é. — Alan falou com seus olhos faiscantes e a voz grave. — Eu a vi hoje. — Os músculos do seu rosto se contraíram e fizeram com que parecesse mais velho do que realmente era.
Marina tinha caído no chão e Haroldo ajudou-a a se levantar. Acostumada a ser o centro das atenções, ela se recompôs rapidamente. E olhando para Alan, se desculpou, tentando dissimular o fato de que ficava muito perturbada na presença do rapaz.
— Desculpe-me, eu não queria interromper... — Ela tateava nas palavras. — Foi um acidente.
— Pois interrompeu e ficaria feliz se fosse embora! — Foi duro e Alda se meteu na conversa.
— Não precisa ser grosseiro com ela. Por que você sempre se comporta como se odiasse tudo e todos? — Ela respirou fundo. — A Princesa já se desculpou.
— Eu tenho motivos para odiar “tudo e todos”, se quer saber, Senhora. E principalmente, eu tenho motivos para odiar vocês duas pelo que seus pais fizeram.
— Eu não sou meu pai, Alan! E não pode me culpar pelo que ele fez. — “Se é que ele fez alguma coisa...”, pensou Alda, embora uma dúvida começasse a se aninhar dentro dela.
— Somos fruto daquilo que nossos ancestrais fizeram, está no nosso sangue!
— No seu sangue então, não, no meu! — Falou com voz alterada. — Aliás, temos o mesmo sangue, se bem me recordo. Somos primos-irmãos.
— Vocês, dois, poderiam gritar mais baixo, por favor. — Haroldo interrompeu. — Daqui a pouco todo o castelo vai aparecer por aqui prá saber o motivo dessa algazarra noturna. Não sei por vocês, mas se eu fosse descoberto as coisas iriam realmente ficar complicadas para mim.
— Alan, elas não têm culpa. Agindo assim, você estará fazendo o mesmo que fizeram conosco, que fizeram com nosso irmão. — Lembrar o incidente, fazia com que o rapaz visse a morte de Estevão, outra vez. — Não percebe isso? Não percebe?
— Se fizeram conosco, por que não teria o direito de fazer o mesmo? — Perguntou com voz furiosa.
— Porque é errado! — A voz de Elaine tinha um tom tão doce que qualquer um se acalmaria só de ouvi-la. — Um erro não justifica outro! Não as trate desta forma, eu suplico! — Ela o encarou com seus grandes olhos.
Alan baixou os olhos, ela tinha razão, ele sabia. Flora iria dizer a mesma coisa. Mas como esquecer tudo se ao olhar para elas só via seus pais? Marina, então, aproveitando que ele parecia mais calmo, perguntou:
— Você também foi envolvido pela luz... — Falou lentamente. — Tem alguma idéia do que seja?
— Luz!? Vocês, também? — Haroldo se espantou. — Por meio minuto, eu parecia um vaga-lume!
— E eu, também! — Elaine acrescentou. — Foi a sensação mais estranha de toda a minha vida.
— Todos nós e mais o Príncipe Guilherme, então. — Alda falou. — Precisamos descobrir o porquê.
Nisso pelo menos todos concordavam.
XXX
De repente, a mesma luz que os envolvera retornou e de dentro da parede saiu o velho mago que aparecera no salão e olhando bem para o rosto de cada um deles, falou:
— Por muitos anos, eu esperei por este dia. — Seu tom era solene. “Como nos Contos de Fada...”, pensou Marina. — As profecias finalmente hão de se cumprir, vocês foram escolhidos para libertarem o Reino da tirania de Dominique e entronizar o jovem Rei.
— Nós!? — Haroldo interrompeu. — O Senhor tem certeza que não pegou o grupo errado?
— Não! Eu tenho certeza. — Fez pausa. — Eis a Princesa que empunhará a Espada Sagrada como foi feito no passado, — Marina olhava para ele como se o velho estivesse louco e todos olhavam para a Princesa e pensavam que só um louco poderia achar que Marina poderia cumprir alguma missão. — Temos aquele cuja função será dar proteção a todos que precisarem. — Disse apontando Alan. — Aqui está aquela que cobrirá o inimigo com setas infalíveis como a chuva cobre a terra. — Falou apontando Alda. — Temos aquele que fará a mágica de onde ela não existe. — Pôs a mão no ombro de Haroldo. — Temos aquela cuja magia será tão grande quanto a da Rainha das Fadas. — Falou olhando para Elaine. — E, lá fora, ao relento, está o grande machado, e podem ter certeza de que seu braço poderoso não ficará em cadeias por muito tempo. Só falta um guerreiro, aquele que se abaterá sobre o inimigo como um vento furioso. Quando ele aparecer, então, venceremos.
— Isso é loucura! — Marina exclamou. — Minha madrasta não quer o mal do Reino. Foi a Rainha das Fadas quem levou meu irmão! Se Sua Majestade é dura, — E a moça pensou em Guilherme que sempre fora gentil com ela. — é para que o Reino não se esfacele por causa daqueles que não respeitam a lei e a ordem.
— Crê nisto, de verdade? — O Mago perguntou. — Ou tem medo de ver o que está acontecendo lá fora? — Ergueu seu cajado e ele brilhou com a mesma intensidade que no castelo. Parecia estar em chamas. — Poderes da Luz, que tudo permeia, mostre-nos o que se passa além deste castelo. — Como se fosse um filme, todos puderam ver morte e desolação, vilas queimadas, camponeses sendo expulsos de suas terras, violências feitas pelas tropas reais, reinos vizinhos invadidos.
— Tudo pode ser uma grande ilusão. Pode estar querendo me convencer para...
— Raios, mulher! Você é cega? — Alan explodiu. — Não vê que tudo isso é a pura verdade. É o que está acontecendo no mundo lá fora.
— Não pode ser verdade! Não pode! — Ela ia começar a chorar, com certeza. — Ela não faria isso!
— Talvez o passado seja mais convincente que o presente. — As imagens sumiram, e todos viram surgir o interior do palácio real o momento do nascimento do príncipe Eduardo. Lá estava a mãe de Haroldo e a Rainha jazia morta. — Marina não queria lembrar daquele momento, ver aquela cena, mas iriam obrigá-la a isso. — O Rei entra transtornado e toma a esposa morta nos braços, gritando que queria que ela vivesse e não aquela criança infeliz. Expulsa a mãe de Haroldo dizendo que eles deveriam sair do palácio real antes do pôr do sol, ou seriam todos executados, até mesmo o pequeno Haroldo. — Marina começou a chorar. Haroldo recordou que a ordem de deixar o palácio se transformou em uma espécie de permanência vigiada, já que o Rei temia “os poderes” de seus pais. — A criança indefesa também chorava. O rei, transtornado, a amaldiçoa dizendo que não viveria para sentar-se no trono e, em seguida, desembainha sua espada. Pretende matá-la, por certo, mas antes que pudesse cometer o ato tresloucado, um clarão inunda o quarto, e a grande Silena, a mais poderosa de todas as Rainhas das Fadas que já existiram, aparece imponente. Ela toma a criança nos braços e diz que o Rei jamais poria seus olhos sobre ela enquanto vivesse e que ele, sim, seria maldito, por amaldiçoar a sua Casa e que nunca haveria paz em seu reinado, não por obra de sua magia, mas, sim, devido a seus maus atos. Dito isto, ela desaparece, levando o menino. E a imagem se foi. — A criança vive e está em segurança, mas não neste mundo. Quando você, Princesa, abrir as portas do castelo de Kronnenveil, um novo reinado irá se iniciar.
— Eu vou perguntar à Rainha, ela não irá me esconder a verdade. — Balançou a cabeça, quase em prantos.
— Faça isso, sua tola, e irá ser a morte para todos nós! — Alan esbravejou e Marina olhou para ele espantada. Como poderia ousar chamá-la de tola?
— A Conspiração Sangrenta foi tudo uma mentira, então? — Alda perguntou tentando obter o máximo de informações possível.
— Sim, a maior de todas elas mas o Rei não sabia disso, até o último dos seus dias ele acreditou que havia sido traído. Ele era obcecado por essa idéia. — O velho fez pausa. — Somente quatro pessoas sabem que tudo não passou de uma mentira: o Marquês De Mülle, o Conde De Sayers, a Rainha e Richard Evilblood.
— Ele sempre tem um dedo em tudo... — Alda murmurou. — Mas, que devemos fazer então?
— Devem partir para o Castelo do Amanhecer, a Rainha das Fadas espera por vocês.
— Como chegaremos lá? — Haroldo perguntou e um mapa apareceu em suas mãos.
— Sigam este mapa. — Fez pausa. — Mas antes de partir devem libertar o Príncipe Guilherme.
— Como, se não temos armas? E são muitos os soldados. É uma tarefa impossível! — Alan perguntou.
— Estão sendo testados... Devem se mostrar dignos da grande missão que os aguarda. — Disse laconicamente. — Não se atrasem, a Fada Ádina espera por vocês.
— Eu não vou! — Marina gritou.
— O que disse? — Alan perguntou furioso. — Precisamos de você.
— Não vou, já disse. — Sua teimosia, traço mais evidente de sua personalidade, veio a tona com toda a força. — E se tudo não passar de uma mentira. Uma grande armadilha para me capturarem. Uma armadilha dos inimigos do Reino?
— Você é uma idiota! Não vê que tudo é a mais pura verdade!
— Quem me garante isso? Você, o filho de um traidor! — Alan estava tão furioso, e aquelas palavras o feriram tanto, que lhe deu uma bofetada.
— Alan! — Elaine gritou horrorizada. Alda também parecia chocada e no primeiro momento teve vontade de se atracar com ele, mesmo concordando que Marina era uma tola.
— Como ousa! Como ousa me tocar! — Gritou furiosa, passando a mão na face avermelhada. — Eu vou embora daqui.
— Lembre-se, Princesa, você é o eixo central da profecia. Ninguém pode fugir de sua missão.
— Pois encontre outra pessoa, Senhor Mago, porque eu não tenho nada a ver com isso! — E saiu. “Isso é uma loucura, uma grande loucura. Vou perguntar à Rainha, ela me dirá a verdade! A verdade!”
— É, pelo jeito alguém fundamental não quer embarcar nessa canoa... — “furada conosco”. Haroldo falou baixinho.
Alan estava olhando para a sua mão, sentia o rosto queimar um pouco, como se ele também tivesse levado uma bofetada. O olhar de reprovação de Alda e de sua irmã o incomodava. Nunca tinha batido em mulher alguma, nunca tinha sequer desejado, não tinha sido um bom começo aquele. Teria mais um inimigo dali para frente.
— Tenham certeza de que ela voltará. Ninguém pode fugir de sua missão, eu disse. — O velho começou a desaparecer. — Confio em vocês e minha missão termina aqui. Agora devem cumprir a sua, não desanimem! — Sumiu. Deixando todos com os corações pesados e cheios de dúvidas assustadoras.
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