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Ventos de Mudança
Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 1)
Capítulo 2: A Decisão de uma Vida (Parte 1)
Depois do incidente, a festa foi dada por terminada e todos se retiraram para seus aposentos, ou foram fazer quaisquer outras coisas que considerassem importantes. Louis De Mülle, cumprindo a ordem da Rainha, apresentou-se em seus aposentos. Estava ansioso e temia que algo ruim pudesse acontecer, pois, via de regra, seus encontros com a Rainha sempre resultaram em algum desenlace indesejável ou trágico.
— Majestade, o Marquês De Mülle. — O criado anunciou e, segundos depois, o Marquês apareceu fazendo uma profunda mesura, que cheirava à subserviência, diante da Rainha. Dominique pôde então avaliá-lo melhor. Conseguia ver claramente o medo que ia em seu interior, afinal, sempre o intimidara, como bem sabia. Notou, também, o quanto ele envelhecera, apesar de ser bem mais jovem que o falecido rei, seu marido, ou mesmo que o Conde de Sayers. Na sua juventude, De Mülle fora um homem belíssimo, no entanto, agora, parecia um ancião precoce. Estava muito magro, seu rosto marcado pelo sofrimento e pela culpa, seus cabelos negros quase que totalmente embranquecidos. Tudo isso emoldurado por seu luto fechado que o empalidecia ainda mais. Parecia um fantasma do que fora quando jovem.
— Sente-se, caríssimo Louis. — Disse indicando uma cadeira. — Está ansioso em saber por que o mandei chamar, suponho. — Torturá-lo lhe dava ainda mais prazer.
— Com certeza, Majestade. Não consigo aventar um motivo para...
— Ora, Louis, somente a lembrança dos velhos tempos já valeria este encontro. — Disse interrompendo-o. — Mas deixemos isto de lado. Parece que recordar os eventos do passado é muito doloroso para você. Mas melhor ir logo ao assunto, chamei você aqui hoje para lhe fazer uma proposta.
— Proposta, Majestade?! Que espécie de proposta? — Perguntou aflito.
— Tem uma filha em idade de casar, creio que se preocupa com isso.
— A única preocupação de minha vida, Majestade, é minha filha. — Fez pausa. — É o maior bem que possuo.
— E, com certeza, sua companhia deve ser muito maçante para uma mocinha, se bem me recordo de seus hábitos tediosos... Continua tendo fixação por velhos livros e velhas “profecias”? — “As profecias... Ela também se preocupa com elas, por certo...” — Mas voltemos ao assunto que me fez chamá-lo até aqui, eu tenho uma proposta de casamento a lhe fazer. Um nobre estrangeiro, nosso aliado, deseja uma esposa e acredito que sua filha seja a melhor escolha. — Louis sentiu-se desconfortável em sua cadeira.
— Creio, Majestade, que minha filha pode esperar ainda. Considero que seja muito jo...
— Considera, Louis? Creio que não compreendeu, — Fez pausa. — sua recusa será uma declaração explícita de inimizade, — Ela sorriu lentamente, deixando ver uma fileira perfeita de dentes que poderiam mesmo ser comparados a um colar de pérolas. — o que vindo de você muito me entristeceria. Além disso, é direito e dever real zelar para que as órfãs casem bem... — Era uma ameaça de morte. — Ah, ela não é completamente órfã, é verdade. Só que você se mostra tão relutante em casar sua filha que talvez alguém tenha que lembrá-lo do quanto isso é egoísta.
— Majestade, compreenda...
— Sabe que apesar de levar o nome de seus domínios, não passa de mais um De Brier, e no que concerne a Sir Richard, tão inimigo quanto seu irmão Estevão. — Fez pausa. — Durante muito tempo, impedi que ele pesasse em você como mais um de seus inimigos, mas sua recusa... Posso retirar a minha proteção.
— Majestade, não se trata de uma recusa. — Engoliu em seco. — Sei bem o que lhe devo e sinto-me honrado de que se preocupe com minha filha, mas, definitivamente, ela não desejaria se casar agora.
— Ela fará o que você ordenar, caro, Louis, ou ela desejaria que algum ma lhe acontecesse. Aliás, quem sabe que destino ela teria se perdesse você, se deixasse de ser uma das mais ricas herdeiras do reino? — A ameaça era velada e Louis sabia que seria cumprida exemplarmente. — Acredito que tenha entendido, não é?
— Perfeitamente, Majestade. Eu irei preparar seu espírito... — Falou vacilante. — No próximo Verão, com certeza,... Ela estará...
— Não podemos esperar pelo Verão, caro Louis. — Ela começava a acha o jogo cansativo. — Como disse, meu aliado deseja se casar imediatamente. A véspera da execução do jovem Guilherme será um dia perfeito.
— Daqui a dois dias! Senhora, eu... — Disse levantando-se e foi categoricamente ignorado.
— Creio que gostaria de conhecer seu genro. — Tocou um sinete e o Conde De Dorsos e seu filho entraram. — Apresento-lhe o Conde De Dorsos e seu filho, Humberto, seu futuro genro. — O Marquês caiu sentado na cadeira, estava aterrorizado pela antevisão do futuro de sua querida filha. — Temos detalhes a acertar. Como o tempo é curto devemos utilizá-lo parcimoniosamente...
XXX
Alda estava ansiosa para saber o que seu pai conversava com a Rainha e não conseguia dormir. Tentou tocar sua harpa, mas não conseguiu se concentrar. O Marquês saíra há algum tempo e não retornara ainda. Além disso, os acontecimentos da noite a deixaram inquieta. O que seriam as tais profecias? O que foi tudo aquilo? Também sentia pena de Guilherme de Auston, e admirava a sua corae. De repente, alguém bateu em sua porta.
— Quem é?
— Sou uma das damas da princesa. Ela pede que vá vê-la.
“Isso são horas? Paciência! A verdade é que não consigo dormir mesmo...” Pegou um pedaço de papel e deixou um breve bilhete para seu pai, caso retornasse antes dela. Vestiu-se às pressas, orgulhava-se de poder fazer isso sozinha, sem a ajuda de aias, e jogou sua capa verde revestida de eles sobre os ombros, era uma forma de suportar o fio da madrugada. Minutos depois, batia na porta de sua prima.
— Disse que queria me ver. Aqui estou. — Alda notou que Marina estava visivelmente nervosa.
— O que sabe sobre o que aconteceu hoje na festa? Que história de profecia foi aquela? — Marina andava de um lado para o outro, absolutamente nervosa. — O que foi aquilo?
— Eu não sei. — Balançou a cabeça. — Não sei nada sobre as profecias às quais o mago se referiu, o porquê de tudo aquilo me escapa absolutamente. — Suspirou. “E estou curiosa, também.”
— Eu... Eu preciso saber. Preciso saber. — Seus olhos se encheram de lágrimas. — Acho que se ficar aqui dentro eu vou enlouquecer. Preciso de ar!
— Você!? De ar? — Perguntou irônica. — Quanta mudança!
— Não deboche de mim. — Fez pausa. — Eu quero ir lá fora.
— Não é muito seguro ficar vagando pela noite, Marina. — Alda falou com seriedade. — Deveria saber.
— Está com medo? Pensei que não tivesse medo de nada. — Provocou.
— Medo!? Não, absolutamente. — Balançou a cabeça. — Mas s você deseja se arriscar... Acredita mesmo que a deixaram sair quando já passou da meia noite?
— Eu sei como. — Não havia ninguém no quarto a não ser as duas. Marina ergueu a tapeçaria que recobria uma parede e empurrou um tijolo. — Isso vai dar lá fora, nas cavalariças. É uma saída de emergência, descobri por acaso quando era criança. Às vezes, muito tempo atrás, costumava me esconder aqui quando não queria ver ninguém. — “Deve ser muito difícil para ela conseguir ficar só, com tanta gente ao seu redor...”, Alda pensou. — Eu só não queria sair sozinha. — Falou com ar inocente. — Aceitaria vi comigo?
“Ótimo! Pretende se meter em encrencas e quer me levar junto!” Alda suspirou.
— Vamos então. — Entraram na passagem e em poucos minutos estavam no pátio.
— Está tão frio aqui fora. — Disse envolvendo-se mais na capa.
— É Inverno, tem que estar frio. Aonde pretende ir? — Perguntou, só que ouviu o som de uma gaita. Reconheceria essa melodia em qualquer lugar. — Venha comigo, eu sei quem está tocando. — Encostado em uma árvore havia um rapaz. — Erik! — O jovem se virou prontamente ao ouvir a voz de Alda, e uma imensa águia veio em direção a seu braço, assustando Marina. — Flecha, você também está aqui! — Falou acariciando a cabeça da ave como se fosse um cachorrinho. — Estava com saudades...
— Ele morde? — Marina perguntou sem ter coragem de tocar a ave.
— Ela não morde... Mas pode arrancar seu dedo ou um de seus olhos. — Marina recuou. — Só que conosco por perto, ela não fará isso. — Alda deu um sorriso rápido. — Pode passar a mão nela.
Marina sorriu sem graça, mas decidiu não tocar o grande pássaro.
— Milady, o que faz aqui? — Perguntou o jovem parando de tocar e olhando para Alda. Seu sotaque era carregado e em seus olhos era possível ler todo o carinho que tinha por ela.
— Andando. — Alda respondeu com impaciência e o rapaz soube que ela estava fazendo algo a contragosto. — Ah, sim, esta é Marina, minha prima. — Erik se curvou. — Este é Erik, filho de Connar, chefe do Clã McGuntar. — Marina não conhecia o sentido dos títulos que a outra a usou, mas entendeu que se tratava de um nobre estrangeiro. — Ele está na Corte de meu pai para se tornar um cavaleiro e é um grande amigo meu. — Alda sorriu.
— Amigo... eu não tenho nenhum! — Marina comentou com ar melancólico. — Mas vamos, se ficarmos aqui parados vamos congelar!
2 pessoas comentaram:
A Alda e a Marina me lembram de certa forma do anime Juuni Kokuki,a boazinha e medrosa Youko e a louca por aventura e temeraria Yuka. Uma que nasceu corajosa e outra que vai ter que ser depois de maus bocados. ^^ A historia está maravilhosa. Parabens!
Obrigada, Sett. :)
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