segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Capítulo 1: Ecos do Passado (parte 9)


Vou postar o resto do capítulo antes de viajar de volta para casa. Agora, você está na nona parte. Se caiu aqui por engano, clique para retornar para a parte anterior, se você clicar na tag Rosas, poderá acessar todos as partes que coloquei no blog até aqui. Qualquer comentário, sugestão ou crítica será lida e desde já agradeço pela atenção.

Ventos de Mudança
Capítulo 1: Ecos do Passado (parte 9)

Alda sabia que seu pai tinha razão, não era adequado se comportar daquela maneira e a comprovação veio com a confusão em que Alan e ela haviam se metido. Seu pai explicou-lhe quem era Richard Evilblood, mas, em sua opinião, não contara tudo. Independente disso, o fundamental era se manter afastada dele e isto ela faria. “Não vou ficar aqui para sempre! Breve vou voltar para casa, para meus livros, meus cavalos, tudo enfim...” Seu pai lhe mandara, com um presente nas mãos, visitar sua prima. Ao invés de se engalfinhar em carreiras com os rapazes era com ela que deveria ficar... só que a perspectiva era entediante.

As duas foram apresentadas, ou reapresentadas, já que se conheceram na infância. Alda entregou o presente e ficou observando o ambiente. O quarto era amplo, muito bem decorado e com belas tapeçarias. Só que tudo parecia excessivo, luxuoso demais, pesado e as cortinas de veludo estavam fechadas, o que somado ao fogo da lareira, provocava em Alda uma sensação de claustrofobia. O frio lá fora era grande, mas o quarto parecia sufocante.

A moça, sua prima Marina, parecia uma boneca enfeitada. Muito loura com os cabelos em cachos perfeitos caindo sobre o colo rosado, seu busto bem desenvolvido apertado em um vestido negro com um corpete rebordado de pedrarias. Aliás, a cor do vestido era a única coisa nela que lembrava que estava saindo do luto, pois tudo nele era muito vivo e até sensual. Seus olhos, de um azul belíssimo, lembravam o mar, daí o seu nome. E havia, claro, também, um batalhão de criadas que fazia com que o aposento se tornasse apertado, apesar do tamanho.

— Oh, sente-se, por favor! Estou esquecendo os meus modos... — Alda se sentou bem ereta e colocou as mãos sobre o colo vazio, tão vazio quanto lhe parecia aquele lugar. — É verdade prima, que seu pai fundou uma universidade só para que você pudesse freqüentá-la? E que seu pai permite que use armadura? E... — Marina começou a perguntar, de repente, para quebrar o silêncio e Alda ficou pensando sobre que histórias contavam sobre ela e seu pai na Corte.

— Não, a universidade já existia antes. — “Que bobagem achar que meu pai fundaria uma universidade por minha causa!” — Meu pai simplesmente renovou os privilégios e atraiu mestres famosos. — Fez pausa. — Quanto a freqüentá-la, sim, eu a freqüento, assisto aulas lá desde que tinha 11 invernos. — Fez outra pausa e olhou para o rosto da prima. — Minha armadura, eu a trouxe comigo, e posso mostrá-la, se quiser, ou vesti-la, se desejar. — Fez pausa. “Desde que meu pai não fique sabendo disso!” Afinal, trouxera a armadura às escondidas, e nem sabia bem para que. — Não sabia que contavam tantas histórias sobre meu pai e eu aqui na Corte.

— Ah, não muitas! — Marina respondeu sacudindo sua cabeça. — Mas, é verdade, que você derrubou Sir Richard na estrada? Todos que o viram disseram que está furioso. — Ela baixou o tom de voz. — Ele é muito gentil na maioria das vezes... Mas quando se enfurece... — “Outra pessoa que teme este homem.”

— Eu estava apostando uma corrida com nosso primo Alan, você o conhece? É filho de meu tio, o Duque Estevão. — Marina fez que não com a cabeça. — E esbarramos com Sir Richard, foi um acidente. Creio que ele nos perdoou, eu acho. — Este último comentário fez com que as mulheres presentes começassem a rir. — Por que riem, afinal?

— Sir Richard não perdoa ninguém, Senhora. — Uma delas explicou. — Não deve se aproximar dele, ele vai se vingar.

— Não deveriam se meter em nossa conversa. — Marina irrompeu. — Não lhes dei permissão. — Disse com o que achava ser dignidade, mas não passava de petulância, ou assim era na opinião de Alda que deu de ombros, afinal, já se propusera a fazer isso mesmo, não é verdade? Assim, decidiu mudar o rumo da conversa:

— Marina, você sempre diz que “ouviu dizer” ou que lhe contaram. Você nunca vê nada com seus próprios olhos? — Alda provocou.

— Eu não saio muito do meu quarto, bom, e do castelo, também, desde que papai morreu, eu não vou até lá fora. — Alda estava perplexa. Como alguém pode passar quase três anos sem ver a luz do sol? — Mas eu não gosto de sair mesmo, eu prefiro ficar aqui. Minha saúde é frágil.

— Quem lhe disse isso? — Alda perguntou com ar de interesse. — Você me parece perfeitamente saudável.

— Quem? Ora, todos. Papai, minha Madrasta, as damas de companhia. Todos sabem disso.

— Seu conceito de todos é muito restrito, a meu ver. — Alda olhou para a janela cerrada. — Mas por que não começamos com... Esta janela, por exemplo. — Abriu as cortinas, com violência, e a luz do sol invernal invadiu o aposento, inundando-o. — Venha ver o que está perdendo. — Disse apontando o mundo lá fora.

Marina se aproximou, e viu um rapaz alto e ruivo, vestido com muito luxo, que parecia estar chegando naquele momento.

— Jerôme!? Aqui!? — Espantou-se Marina, ao mesmo tempo em que enrubescia. — Pensei que ele não voltaria mais! É maravilhoso! E como está bonito! — Disse corando ligeiramente.

— Quem é este? Por que tanta excitação?

— Ah! Ele é um cavaleiro... Muito bom... E bonito, também! — Suspirou. — Toca flauta e harpa muito bem. — Fez pausa. — Minha modéstia me impede de dizer mais. — Quem suspirou agora foi Alda. Dizer o que, se não disse nada?” Neste momento, o trio, de que falamos à pouco, passou pela sua janela. — Aquele é Konrad, vai ser armado cavaleiro amanhã. Você não o acha lindo, também? Só não é tão galante como Jerôme... Ele parece frio às vezes, sabe? — Alda não respondeu, só suspirou entediada. “Como pode ser tão volúvel!” — E o outro rapaz quem é? — Pigarreou. — Quer dizer a moça, também,... Quem são? — Perguntou mas, na verdade, queria saber somente quem era o rapaz alto e moreno que estava no grupo.

— A moça é sobrinha do Conde De Sayers, Flora é seu nome. É bem simpática e gentil. O rapaz é Alan De Brier, nosso primo, o da corrida... — Quando Alda falou isso, Marina fechou as cortinas rispidamente. — O que foi?

— Já vi demais. Sabia que o pai dele queria matar o meu? Conspirou para colocar outro no trono? — Falou indignada. — Ele é filho de um traidor!

— É o que dizem. Só que foi o seu pai quem matou o pai de Alan. — Alda provocou. — O Rei venceu e Alan carregará este estigma enquanto viver.

— É o que merece. — Falou com os olhos cheios de raiva, mas dentro de si se recriminava por tê-lo achado bonito e ter sua imagem na sua mente, enquanto falava.

— Ele não fez nada para merecer, nem a infâmia, nem o desprezo. Ele era um garoto quando tudo aconteceu. — Alda estava profundamente aborrecida. — É lamentável que por causa de um parente inconseqüente, todos tenham que pagar.

— Não quero ver mais nada!

— Ótimo! Feche-se no seu palácio de cristal sempre que algo a incomoda. Aqui é bem seguro, com certeza, só que é lá fora, longe de seus brocados e aias que a vida acontece. E lá fora, no caminho do castelo, tudo o que vi foi fome e desolação! Seus camponeses passam fome.

— Meus?! Eu não sei nada sobre isso.

— Muito cômodo. Até que se prove o contrário você é herdeira deste reino. Deveria se preocupar com seu povo. É dever do rei cuidar de seu povo!

— Isso não é assunto para mulh... — Lembrou-se de que a Rainha era mulher e governava o Reino em nome de seu irmão que nunca vira. — Não cabe a mim resolver isso, eu não tenho poder para intervir. Se pudesse, eu... se pudesse eu faria alguma coisa, com certeza! Mas por que você tem que ser assim, tão irritante? — Perguntou olhando fixo para Alda, com raiva e curiosidade, afinal, sendo pouco mais velha do que ela como poderia falar com tanta confiança quando ela mal podia olhar para Rainha sem tremer?

— Eu não consigo resistir! — Falou ofendida, lembrando-se depois que fizera de novo, aborrecera sua prima! — Mas saiba que não tinha intenção de magoar você, às vezes, sei que exagero.

— Tudo bem, eu também tenho um gênio terrível, eu sei — Disse balançando sua cabeça loura. — Fale-me mais do mundo lá fora, por favor. — Pediu e depois entendendo o olhar de Alda, ordenou: — Vocês todas, podem sair. — As damas ficaram sem entender porquê. — Saiam, já disse. — Esperou que saíssem. — Agora que se foram pode falar sem restrição.

0 pessoas comentaram:

Related Posts with Thumbnails