sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Capítulo 1: Ecos do Passado (parte 6)


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Ventos de Mudança
Capítulo 1: Ecos do Passado (parte 6)

— Sir Richard, Majestade. — Um criado anunciou.

— Diga que entre. — Richard não precisou receber o recado, pois já foi entrando e prestando reverencia a Rainha. — Pontual como sempre, meu caro Richard. Que novas me traz?

— Capturaram o rebelde, Guilherme de Auston, Majestade. O Capitão Gaston estará aqui com o prisioneiro ainda esta noite. Acredito que qeira exibi-lo em sua festa hoje à noite. — O cavaleiro fez uma pausa significativa. — Não considera perigoso que todos os elementos da profecia se encontrem aqui?

— Sente-se, Richard. Aceita um licor... Não, não claro. Eu sei bem de suas preferências. — Tocou um sinete e uma criada veio. — Traga a bebida preferida de Sir Richard. — A mulher se foi. — Sir Richard, eles vão se encontrar porque eu permiti, porque eu assim desejo. Estou provocando o encontro e permitirei que Ádina pense que ela está no controle da situação. Deixarei que as coisas aconteçam e, quando menos esperarem, eu me apoderarei da Espada de Rosas. E será o fim do jogo. — Tomou um pouco de licor e a criada entrou trazendo a bebida de Richard que pegou a taça sem se dignar a olhar para ela. — Você disse que seu pupilo está pronto. Ele é essencial para o nosso plano. Eu preciso do Guardião ao meu lado.

— Ele está pronto. Só que De Sayers ainda está vivo, Majestade, eu mesmo o vi a pouco, — Richard ouviu claro em sua mente: “Disse bem, ainda!” — em um incidente infeliz. — Ele contou o que ocorrera.

— O filho de Estevão esbarrou com você na estrada? — Ela sorriu. — Não acha isso um bom augúrio, belo Richard. A mosca se atirando sobre a aranha. Não sentiu vontade de devorá-lo de uma vez, caro Richard?

— Seu humor está excelente hoje, Majestade. — Richard comentou, não respondendo a pergunta.

— Claro que sim. Tenho todos os meus inimigos em minhas mãos ou sob controle e, além disso, recebi um reforço de 50 mil homens.

— 50 mil?! Quem é nosso novo aliado, Majestade? Ninguém oferece nada sem pedir algo em troca.

— Conhece o Conde De Dorsos e seu filho, Humberto?

— Os líderes da horda de bárbaros que saquearam todo o sul do continente? Quem não os conhece. — Falou com desprezo incontido, Richard conhecia bem a fama daqueles dois mercenários expulsos de sua pátria.

— Deverá tratá-los bem, Richard, pois eles serão muito úteis para debelar os últimos focos de revolta. Já imaginou o terror que eles vão inspirar? — Ela fixou os olhos frios do Cavaleiro. — Quanto ao pagamento, bem, não vou ser eu a pagar, vou simplesmente cobrar uma velha dívida, de uma pessoa que não pode me recusar coisa alguma. — Fez outra pausa e lançou um olhar malévolo para Richard. — Você viu a filha de Louis, como ela é?

— A filha de Louis De Mülle?! Ora, Dominique... Às vezes acho que você é pior do que eu... — Sua relação com a Rainha permitia que esporadicamente a chamasse pelo nome. — Ela não é o tipo de mulher que chame a atenção. Além disso, não me interesso por crianças gratuitamente, você bem sabe.

— Richard, eu fiz uma pergunta direta. Seja objetivo como de costume. — Falou com impaciência, pois sabia que Richard só atentava para as mulheres para tirar-lhes o sangue, ou a virtude, o que lhe interessasse mais no momento. A única mulher a quem ele realmente amou ou talvez amou, foi Elizabeth de Green.

— Se insiste... — Disse sorvendo a bebida vermelha que lhe trouxeram e cruzando suas longas pernas. — É uma menina mimada que fica apostando corridas com os rapazes nas estradas. Tem longas tranças negras, seu cabelo é o que mais se destaca, com certeza, deve cair pelo menos até os quadris que são muito estreitos, diga-se de passagem. Tem olhos verdes bem vivos, os olhos da mãe se bem me recordo. Tem um bom porte, mas é magra demais, e sua altura não ajuda o conjunto, pois ressalta este defeito já que é mais alta que muitos homens. Além disso, tem o nariz do pai o que faz com que seu rosto perca o equilíbrio requerido em uma mulher. Ainda não tem atrativos, talvez quando amadurecer um pouco mais. Há poucas mulheres que eu poderia chamar de belas e, no momento, sua majestade é a primeira delas. — Ela sabia que ele não a estava bajulando, pois eram bem conhecidos os altíssimos padrões de exigência de Richard.

— Creio que perguntei para a pessoa errada. Seu gosto é muito apurado, caro Richard, e poucas conseguiriam agradá-lo. Mas se o jovem Humberto não for atraído por sua beleza, irá adorar o seu riquíssimo dote, pois as terras de De Mülle são as mais prósperas de todo o Reino. — Fez pausa. — Nada é perfeito, afinal, e sempre há a possibilidade de ter amantes.

— Com licença, Majestade, o Conde De Dorsos e seu filho. — O criado anunciou.

Os dois homens que entraram não negavam que eram pai e filho. Tinham o mesmo formato de cabeça, os olhos muito juntos, o maxilar saliente e os dentes tortos. Só que o mais jovem além de bem mais alto, mais alto que a noiva que queriam lhe dar, pensou Richard, tinha uma terrível cicatriz que deformava ainda mais o seu já rosto pouco afortunado. Estavam vestidos com roupas feitas de peles que exalavam um odor fétido que feriu o apurado olfato de Richard.

— Saudações, Grande Rainha! — Falou o velho com um pesadíssimo sotaque e uma pronúncia que deixava muito a desejar. — Eu vim como acertado, com homens, armas e cavalos.

— São bem vindos em minha Corte, espero que tenham apreciado seus aposentos. — Virou-se para Richard. — Esse é um dos meus homens de confiança, Sir Richard.

Richard cumprimentou com a cabeça, e pôs-se a encará-los sem disfarçar sua repulsa e desdém. O jovem Humberto notou isso e inquiriu furioso.

— O que tanto olha, homem? Nunca pôs os olhos em guerreiros de verdade, antes?

— Eu só estou apreciando a graça com que se vestem e a cogitando em como são benevolentes.

— Benevolentes?! O que quer dizer?

— Por darem abrigo às pulgas e carrapatos.

— Retire o que disse ou... — Humberto pôs a mão no punho da espada e Richard permaneceu onde estava, rosto impassível e pernas cruzadas, afinal, poderia esmagar aquele gigante com uma das mãos somente, se desejasse.

— Richard, não quis ser impertinente, Sir Humberto. Abaixe sua arma e sentemos, pois temos muito que falar. — Humberto não queria obedecer, mas um olhar de seu pai, fez com que pusesse a espada na bainha e sentasse. — Cumpriram o prometido. E eu tenho um presente para oferecer-lhes. Uma aliança que garantirá poder, riqueza e a perpetuação de sua Casa.

— Como assim, Majestade? — O velho inquiriu, enquanto seu filho continuava a encarar Richard com ódio não disfarçado e o outro retribuía com um olhar de profundo desprezo.

— Uma esposa para seu filho, é isso que darei. A maior herdeira de todo o Reino, filha única de um poderoso senhor. — Richard imaginava qual a reação de Louis quando soubesse com quem Dominique pretendia casar sua filha. — Acertaremos o casamento amanhã.

— Ela é bonita? Tem quadris largos? Seios fartos? — O rapaz perguntou interessando-se de repente. — Não é velha, nem desdentada, vesga ou com o rosto deformado? — “Com um rosto como o seu deveria se satisfazer se lhe dessem um espantalho!”, Richard projetou este pensamento na mente do rapaz e ele, sem entender de onde vinha a voz, se levantou como se procurasse alguém.

— Sente-se, meu filho! — O velho Conde ordenou. — Que importa a aparência da mulher, contanto que ela lhe traga muitas riquezas? Sua mãe nunca foi uma beldade e, mesmo assim, serviu muito bem a minha cama enquanto a desejei! — Comentou de uma forma tão grosseira que a Rainha ergueu uma de suas sobrancelhas e Richard piscou seus olhos vítreos rapidamente. — Além disso, já deveria ter aprendido que as mais belas flores têm espinhos! — Este último comentário fez com que o rapaz, involuntariamente, levasse a mão ao rosto, tocando a terrível cicatriz. — Pois bem, quando veremos a noiva?

— Hoje á noite poderá vê-la no banquete, eu farei com que a indiquem e seu filho poderá lhe dirigir a palavra, se quiser. — A Rainha falou. — Amanhã, Humberto participará do torneio e poderá mostrar-lhe o quanto é bom cavaleiro. — Terminou a Rainha e aquele comentário despertou a atenção imediata de Richard. — Agora creio que desejam descansar, pois não? — Os dois levantaram e com um cumprimento se retiraram, Richard fez menção de sair e a Rainha o conteve: — Você, não, Sir Richard. — Esperou que os outros saíssem. — Sei o que pensou. Seu pupilo, Konrad De Sayers é um cavaleiro muito bom, já que foi treinado por você, e não tem a mínima dúvida de que possa vencer este paspalho. — O olhar de Richard foi de assentimento. — Só que eu quero agradar estes novos aliados. Konrad não vai participar do torneio.

— Ele será armado cavaleiro amanhã, Senhora. O costume pede que participe do torneio. — Falou alteando um pouco a voz.

— Eu faço os costumes aqui, Richard! — Falou com toda a sua autoridade. — Poderá exibi-lo depois. Faremos um concurso de esgrima, valendo um prêmio qualquer, para que ele não saia de mãos vazias. — Este último e desdenhoso comentário deixou Richard ainda mais contrariado. — Não quero que você e seu pupilo se aproximem da liça, amanhã. E aviso que está decidido, não adianta argumentar.

— Pretende me humilhar para agradar estes dois bárbaros repugnantes? É um despropósito! — Ele sabia que não adiantaria argumentar, mas não se conteve.

— Questiona as minhas decisões, Sir Richard? Faz muito tempo que ninguém ousa fazer isso! — Seu tom, agora, tornou-se ameaçador. — Eu quero que Humberto vença o torneio, e se você precisar engolir seu orgulho para que isso se faça, que seja... Fui clara Sir Richard? — Os olhos de Richard estavam faiscando de raiva contida. — Fui clara?

— Claríssima, Senhora. — A voz de Richard tinha assumido um tom de impaciência que ele quase nunca se permitia. — E eu também serei claro, Majestade. Esta é uma ofensa que demorarei a esquecer e que vai ferir a honra do rapaz. Ele se sentirá punido quando, na verdade, é o melhor de todos os seus jovens cavaleiros. Obedecerei pois é a Rainha e eu lhe jurei fidelidade. Sei o poder que tem e o que ele é capaz de fazer e a admiro por isso, mas creio que aquele aleijão precisará ganhar mais que um torneio para impressionar qualquer donzela. Com sua licença. — Fez pausa. — Sabe bem onde pode me achar caso eu seja necessário.

Saiu feito um furacão, seus olhos dardejando de raiva, apesar de manter no rosto uma expressão pacífica. “Preciso aplacar sua ira de alguma forma, afinal ele é meu mais fiel servidor e entendo suas razões. Mas o que eu poderia oferecer-lhe, no momento para selar a paz?”, pensou e olhando maliciosamente para uma das jovens aias, uma bela mocinha de faces rosadas e busto farto, recém chegada ao palácio para servi-la, teve uma idéia malévola. “Eu acho que já sei o que ...”

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