Depois de O Capital em formato mangá, a mesma editora japonesa lançará Mein Kampf (Minha Luta) de Adolf Hitler. O livro apresenta as idéias e projetos do ditador e foi proibido em vários países. O lançamento é polêmico, mas a editora tem o compromisso de publicar grandes clássicos em formato quadrinhos. Abaixo segue a matéira da BBC falando da questão, com informações sobre essas publicações, as mais vendidas, além da defesa do projeto feito pelo editor. No final da matéria, o autor diz que no Japão tudo pode virar mangá. Bem, nós aqui já sabíamos disso, certo? Vale a leitura e eu agradeço à Izabela por ter me enviado o link.
Livro de Hitler ganha versão em mangá no Japão
Ewerthon Tobace
De Tóquio para a BBC Brasil
Dois polêmicos e famosos livros ganharam os traços do mangá no Japão. Mein Kampf (em português, Minha Luta), escrito na prisão por Adolf Hitler, chegou às livrarias japonesas em novembro. Agora, em dezembro, é a vez de O Capital, de Karl Marx.
A iniciativa foi da editora japonesa East Press, que resolveu incluir estas duas obras na sua coleção Clássicos da Literatura em Mangá.
“A idéia é oferecer ao leitor a possibilidade de ler um clássico e entender os conceitos em apenas uma hora”, explicou o editor-chefe Kosuke Maruo à BBC Brasil.
Mein Kampf é um livro polêmico, pois contém as sementes da ideologia anti-semita e nacionalista que marcou o nazismo. “A idéia não é apresentar Hitler como vilão ou herói, mas apenas mostrar quem era e o que ele pensava. Não estamos preocupados com polêmicas”, disse Maruo.
O editor lembra também que o livro, cuja publicação e venda são proibidas em alguns países, já foi editado no Japão. “Além disso, todo mundo já conhece a história inteira e como os nazistas pensavam”, reforça ele, que diz não ter recebido até agora nenhuma reclamação de leitor.
O mangá conta a história do líder nazista, desde a infância, até culminar na Segunda Guerra Mundial. Fala também do ódio que ele sentia pelos judeus. “Vendo a história de vida dele, não dá para achar que era uma pessoa totalmente ruim. Ele era apenas uma pessoa triste”, defendeu o editor-chefe.
Entre as obras conhecidas da literatura e da filosofia que viraram mangá pela East Press estão Crime e Castigo, de Dostoiévski, Fausto, de Goethe, Rei Lear, de Shakespeare, e Guerra e Paz, de Tólstoi.
No total são 27 títulos lançados até agora, sendo 13 de autores estrangeiros.
Outros dois – Os Miseráveis, de Victor Hugo, e O Desespero Humano - Doença até a Morte, do teólogo e filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard – já estão no forno e devem chegar às livrarias no começo de 2009.
O campeão de vendas é Kanikousen, inspirado na obra do escritor japonês Takiji Kobayashi. Na seqüência vem Os Irmãos Karamasov, de Dostoiévski. “Os títulos da série são obras que as pessoas conhecem, mas não têm muita paciência para ler até o fim”, justificou o editor-chefe. Daí o sucesso de vendas.
Ao todo, segundo Maruo, já foram impressos 1,2 milhão de exemplares da série toda. Marx e o recém lançado mangá de Hitler chegam ao mercado com 30 mil cópias cada.
Teorias complexas
O lançamento de O Capital em mangá não poderia vir em um momento mais apropriado. Muitos no Japão culpam o capitalismo - principal alvo de crítica na obra de Marx - pela atual crise financeira global.
Entre os principais conceitos da obra de Marx levados para a história do mangá estão a exploração do trabalhador, as diferenças de classes sociais e o surgimento da moeda geradora do lucro. “Com a recessão econômica que o país enfrenta agora, esperamos uma boa saída de O Capital”, disse Maruo.
O editor-chefe garante, porém, que não foi proposital o lançamento da obra neste atual momento de crise. “Já estava nos planos da editora”, disse ele, ao lembrar que um mangá, para ficar pronto, demora até cinco meses.
Diversidade de temas
Apesar da East Press ser uma das poucas no mercado a trabalhar com clássicos da literatura mundial, o segmento de mangás no Japão já vem usando há anos os traços orientais dos desenhos para explicar diversos temas.
Relações diplomáticas com a China, degustação avançada de vinhos, epidemia da gripe aviária, parábolas da Bíblia e até a nossa capoeira já viraram mangá no país. O formato compacto, o baixo custo e a linguagem popular ajudam a transformar este tipo de publicação em sucesso de vendas.
Livro de Hitler ganha versão em mangá no Japão
Ewerthon Tobace
De Tóquio para a BBC Brasil
Dois polêmicos e famosos livros ganharam os traços do mangá no Japão. Mein Kampf (em português, Minha Luta), escrito na prisão por Adolf Hitler, chegou às livrarias japonesas em novembro. Agora, em dezembro, é a vez de O Capital, de Karl Marx.
A iniciativa foi da editora japonesa East Press, que resolveu incluir estas duas obras na sua coleção Clássicos da Literatura em Mangá.
“A idéia é oferecer ao leitor a possibilidade de ler um clássico e entender os conceitos em apenas uma hora”, explicou o editor-chefe Kosuke Maruo à BBC Brasil.
Mein Kampf é um livro polêmico, pois contém as sementes da ideologia anti-semita e nacionalista que marcou o nazismo. “A idéia não é apresentar Hitler como vilão ou herói, mas apenas mostrar quem era e o que ele pensava. Não estamos preocupados com polêmicas”, disse Maruo.
O editor lembra também que o livro, cuja publicação e venda são proibidas em alguns países, já foi editado no Japão. “Além disso, todo mundo já conhece a história inteira e como os nazistas pensavam”, reforça ele, que diz não ter recebido até agora nenhuma reclamação de leitor.
O mangá conta a história do líder nazista, desde a infância, até culminar na Segunda Guerra Mundial. Fala também do ódio que ele sentia pelos judeus. “Vendo a história de vida dele, não dá para achar que era uma pessoa totalmente ruim. Ele era apenas uma pessoa triste”, defendeu o editor-chefe.
Entre as obras conhecidas da literatura e da filosofia que viraram mangá pela East Press estão Crime e Castigo, de Dostoiévski, Fausto, de Goethe, Rei Lear, de Shakespeare, e Guerra e Paz, de Tólstoi.
No total são 27 títulos lançados até agora, sendo 13 de autores estrangeiros.
Outros dois – Os Miseráveis, de Victor Hugo, e O Desespero Humano - Doença até a Morte, do teólogo e filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard – já estão no forno e devem chegar às livrarias no começo de 2009.
O campeão de vendas é Kanikousen, inspirado na obra do escritor japonês Takiji Kobayashi. Na seqüência vem Os Irmãos Karamasov, de Dostoiévski. “Os títulos da série são obras que as pessoas conhecem, mas não têm muita paciência para ler até o fim”, justificou o editor-chefe. Daí o sucesso de vendas.
Ao todo, segundo Maruo, já foram impressos 1,2 milhão de exemplares da série toda. Marx e o recém lançado mangá de Hitler chegam ao mercado com 30 mil cópias cada.
Teorias complexas
O lançamento de O Capital em mangá não poderia vir em um momento mais apropriado. Muitos no Japão culpam o capitalismo - principal alvo de crítica na obra de Marx - pela atual crise financeira global.
Entre os principais conceitos da obra de Marx levados para a história do mangá estão a exploração do trabalhador, as diferenças de classes sociais e o surgimento da moeda geradora do lucro. “Com a recessão econômica que o país enfrenta agora, esperamos uma boa saída de O Capital”, disse Maruo.
O editor-chefe garante, porém, que não foi proposital o lançamento da obra neste atual momento de crise. “Já estava nos planos da editora”, disse ele, ao lembrar que um mangá, para ficar pronto, demora até cinco meses.
Diversidade de temas
Apesar da East Press ser uma das poucas no mercado a trabalhar com clássicos da literatura mundial, o segmento de mangás no Japão já vem usando há anos os traços orientais dos desenhos para explicar diversos temas.
Relações diplomáticas com a China, degustação avançada de vinhos, epidemia da gripe aviária, parábolas da Bíblia e até a nossa capoeira já viraram mangá no país. O formato compacto, o baixo custo e a linguagem popular ajudam a transformar este tipo de publicação em sucesso de vendas.
8 pessoas comentaram:
Bem, resteito a dedicação das editoras em levar os mais diversos materiais aos leitores, mas essa é uma daquelas vezes que não sentirei inveja de um manga que não será lançado no Brasil.
Sabe, Anderson, eu não vejo este mangá como algo que eu tenha vontade de ver por aqui, porém, o possível efeito daninho (*o nível de imbecilidade de certos seres ditos humanos é enorme*), poderia ser minimizado por uma boa introdução escrita por um especialista, um historiador especializado nesse tema. Claro, a editora poderia não querer pagar...
Olha, antes disso teriamos que ver a questão da legislação.
Se não me engano, no Brasil esse livro tb é proibido, embora vc ache scans dele facilmente.
De fato, seria necessario um otimo trabalho de apresentação, contexto etc, seria o minimo necessario p/ essa obra, mas acho que o que pesaria mesmo seria a questão da polêmica.
Haveriam muitas criticas a essa publicação e não imagino nenhuma editora brasileira querendo comprar essa briga.
E sinceramente eu discordo de classifica-lo como um classico.
Anderson, a possibilidade de publicação não existe. A gente nem precisa dar tratos à bola nesse sentido. ^_^ Eu realmente não sei se é proibido por aqui ou não, mas já foi publicado por aqui, com certeza.
No mais, eu qualificaria de clássico pela sua importância histórica. Gostemos dele, ou não. Mas é isso, com tanto material que não sai por aqui, não seira a coleção de clássicos que sairia. A única editora que pdoeria ser interessar pela coleção de 27 títulos até o momento, seria a Conrad, mas ela visivelmente não "existe" mais no mercado de mangás. Pelo menos por enquanto, claro. ^_^
O pior que apesar de eu ser realmente contra a publicação de livros pró-nazistas, acho que o Mein Kampf em si deveria estar disponível – porque ele foi um livro que teve um efeito histórico devastador e deveria haver acesso a ele por estudantes de história e até sociologia. Querer evitar a difusão do nazismo, eu concordo, mas vetar o que na prática é um documento histórico é miopia.
Bom eu gostei bastante da matéria, e até gostaria que fosse lançado algum manga do tipo aqui no Brasil (se já não foi). Enquanto a esse do Hitler, acho vale mesmo só para conhecer o "clássico".
“Vendo a história de vida dele, não dá para achar que era uma pessoa totalmente ruim. Ele era apenas uma pessoa triste”, defendeu o editor-chefe.
Me lembrou Tokyo Babylon: "Talvez as pessoas que fazem coisas más sejam todas 'solitárias'".
Eu nunca li o Minha Luta e nem pretendo, mas também considero válido o seu valor histórico. E acho que não faz sentido proibir um livro pelo que seu autor fez, e todo o cuidado é pouco na hora de definir o que (especialmente livro) deve ser proibido/restrito pelo conteúdo.
Ainda há um detalhe extra. Ao contrário dos outros livros dessa coleção, Mein Kampf NÃO ESTÁ em domínio público! Os direitos dele pertencem ao estado da Bavária, que basicamente usa desse privilégio para impedir sua publicação o máximo possível (caso estejam curiosos, os lucros das edições já publicadas foram cedidos para organizações de ajuda aos sobreviventes do Holocausto).
Portanto acho dúbio que a editora possa sequer publicar esse livro - e mesmo que o faça tem de pagar royalties!
Hunter (Pedro Bouça)
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