Segue uma matéria interessante do Correio Braziliense sobre as adaptações da literatura (*e não vou falar de Ciranda de Pedra ainda, mas aquilo guarda pouco parentesco com o livro original*) para a TV e de como este tipo de produto vem sendo abandonado. Aliás, é lamentável, especialmente porque eu sou constantemente apresentada a certos livros pelos filmes, minisséries e mesmo novelas. Esse suposto abandono só me faz lamentar, especialmente quando há tantos bons livros para serem adaptados e em outros países isso é tão comum, vide a Inglaterra com a BBC, a ITV e sabe-se lá quais outros canais.
Bem, país sem história, povo sem memória, como dizia o slogan de uma das camisas do meu tempos de graduação. E a literatura é uma das formas de memória, também. Há excelentes livros da nossa literatura por aí para serem adaptados. Basta ver que nossa novela de maior sucesso internacional, Escrava Isaura, é baseado em um livro (menor) da nossa literatura. Não precisa ser livro sobre décadas ou séculos passados, pois Queridos Amigos foi uma das melhores minisséries que a Globo fez nos últimos tempos. Eu tive um prazer enorme em assistir e estou esperando o lançamento do DVD para comprar. Mas quando vejo que até fanfics são transformados em série (*e livro antes disso*) na Inglaterra, vide Lost in Austen, tenho vontade de chorar. E é isso que me resta, reclamar e assistir as séries inglesas, às vezes alguma francesa ou americana, e quando posso, aproveitando o dólar baixo, comprar albumas delas para a coleção.
NOVELAS
Para ler e ver
As tramas adaptadas de obras literárias se sobressaem pela qualidade do texto, mas perdem espaço na tevê
Mariana Trigo
TV Press
Há tempos, tramas inspiradas ou adaptadas de clássicos da literatura eram quase sempre garantia de êxito na tevê. Atualmente, nem sempre textos reconhecidos são sinônimo de boa audiência. Enquanto mutantes chamam a atenção na Record, por exemplo, a Globo pena com a insatisfatória audiência de Ciranda de pedra. A novela de Alcides Nogueira, adaptada do livro homônimo de Lygia Fagundes Telles, é exemplo de qualidade dramatúrgica que passa despercebida, quase que empoeirada em seus cenários de época. “Falo sobre relações muito delicadas, o universo duro e visceral da Lygia. É prazeroso levar uma obra literária a milhões de telespectadores”, consola-se o autor.
Manoel Carlos, que adaptou a novela A sucessora, em 1978 – do romance homônimo de Carolina Nabuco –, é um dos primeiros autores a defender os clássicos da literatura na tevê. O autor afirma que, após 30 anos, sonha em reescrever o romance para a telinha. “Mas a Globo não me deixa fazer adaptações. É uma pena! Nossa tevê precisa muito disso”, avalia Manoel. Segundo consta, depois da adaptação da minissérie Presença de Anita, do livro homônimo de Mário Donato, a emissora não permite que ele faça adaptações por ser um dos raros autores a assinar roteiros com credibilidade.
Já na Record, o panorama é outro. A atual fase bem-sucedida da emissora iniciou com duas adaptações literárias: A escrava Isaura, transposta em 2004 do romance de Bernardo Guimarães por Tiago Santiago, e Essas mulheres, de 2005. Assinada por Marcílio Moraes, a trama foi inspirada nos clássicos Senhora, Diva e Lucíola, de José de Alencar. “Tenho projetos para outras adaptações literárias, com textos de Shakespeare, Aluísio Azevedo, Dostoiévski, Goethe e José de Alencar”, entrega Marcílio, que no momento está ocupado em escrever uma série de ação para a emissora.
Mas nem sempre as tramas moldadas na literatura são de época. Recentemente, Maria Adelaide Amaral transformou seu romance Aos meus amigos na minissérie Queridos amigos. “No início, não me dei conta de que estava, pela primeira vez, fazendo um trabalho exclusivamente meu para a tevê”, lembra a autora, responsável por transpor para a televisão obras como A Muralha, de Dinah Silveira de Queiroz, Os Maias, de Eça de Queiroz, e A casa das sete mulheres, de Letícia Wierzchowski. Diferentemente da colega, Ana Maria Moretzsohn passou um sufoco quando adaptou Serras azuis, na Band, há 10 anos. Temeu as críticas do autor do romance, Geraldo França de Lima, ainda vivo à época. “Acaba sendo complicado porque queremos agradar o autor”, explica Ana.
Diversão didática
Bem, país sem história, povo sem memória, como dizia o slogan de uma das camisas do meu tempos de graduação. E a literatura é uma das formas de memória, também. Há excelentes livros da nossa literatura por aí para serem adaptados. Basta ver que nossa novela de maior sucesso internacional, Escrava Isaura, é baseado em um livro (menor) da nossa literatura. Não precisa ser livro sobre décadas ou séculos passados, pois Queridos Amigos foi uma das melhores minisséries que a Globo fez nos últimos tempos. Eu tive um prazer enorme em assistir e estou esperando o lançamento do DVD para comprar. Mas quando vejo que até fanfics são transformados em série (*e livro antes disso*) na Inglaterra, vide Lost in Austen, tenho vontade de chorar. E é isso que me resta, reclamar e assistir as séries inglesas, às vezes alguma francesa ou americana, e quando posso, aproveitando o dólar baixo, comprar albumas delas para a coleção.
NOVELAS
Para ler e ver
As tramas adaptadas de obras literárias se sobressaem pela qualidade do texto, mas perdem espaço na tevê
Mariana Trigo
TV Press
Há tempos, tramas inspiradas ou adaptadas de clássicos da literatura eram quase sempre garantia de êxito na tevê. Atualmente, nem sempre textos reconhecidos são sinônimo de boa audiência. Enquanto mutantes chamam a atenção na Record, por exemplo, a Globo pena com a insatisfatória audiência de Ciranda de pedra. A novela de Alcides Nogueira, adaptada do livro homônimo de Lygia Fagundes Telles, é exemplo de qualidade dramatúrgica que passa despercebida, quase que empoeirada em seus cenários de época. “Falo sobre relações muito delicadas, o universo duro e visceral da Lygia. É prazeroso levar uma obra literária a milhões de telespectadores”, consola-se o autor.
Manoel Carlos, que adaptou a novela A sucessora, em 1978 – do romance homônimo de Carolina Nabuco –, é um dos primeiros autores a defender os clássicos da literatura na tevê. O autor afirma que, após 30 anos, sonha em reescrever o romance para a telinha. “Mas a Globo não me deixa fazer adaptações. É uma pena! Nossa tevê precisa muito disso”, avalia Manoel. Segundo consta, depois da adaptação da minissérie Presença de Anita, do livro homônimo de Mário Donato, a emissora não permite que ele faça adaptações por ser um dos raros autores a assinar roteiros com credibilidade.
Já na Record, o panorama é outro. A atual fase bem-sucedida da emissora iniciou com duas adaptações literárias: A escrava Isaura, transposta em 2004 do romance de Bernardo Guimarães por Tiago Santiago, e Essas mulheres, de 2005. Assinada por Marcílio Moraes, a trama foi inspirada nos clássicos Senhora, Diva e Lucíola, de José de Alencar. “Tenho projetos para outras adaptações literárias, com textos de Shakespeare, Aluísio Azevedo, Dostoiévski, Goethe e José de Alencar”, entrega Marcílio, que no momento está ocupado em escrever uma série de ação para a emissora.
Mas nem sempre as tramas moldadas na literatura são de época. Recentemente, Maria Adelaide Amaral transformou seu romance Aos meus amigos na minissérie Queridos amigos. “No início, não me dei conta de que estava, pela primeira vez, fazendo um trabalho exclusivamente meu para a tevê”, lembra a autora, responsável por transpor para a televisão obras como A Muralha, de Dinah Silveira de Queiroz, Os Maias, de Eça de Queiroz, e A casa das sete mulheres, de Letícia Wierzchowski. Diferentemente da colega, Ana Maria Moretzsohn passou um sufoco quando adaptou Serras azuis, na Band, há 10 anos. Temeu as críticas do autor do romance, Geraldo França de Lima, ainda vivo à época. “Acaba sendo complicado porque queremos agradar o autor”, explica Ana.
Diversão didática
A tevê é um veículo de massa e a população tem muito pouco acesso à literatura no país. Para conseguir divulgar amplamente grandes clássicos literários, a inspiração e adaptação de obras funciona como entretenimento. Sem didatismos enfadonhos, atrair a atenção do público com grandes histórias de autores renomados pode fazer com que a população que mal abre livros seja contemplada com clássicos. Para muitos autores de novelas, o resgate de jóias literárias poderia ser mais incentivado nas emissoras. “Isso deveria ser obrigatório em todas as tevês”, defende Marcílio Moraes.
Ricardo Linhares não só concorda e acredita que, em diversos momentos, as emissoras não prezam pela qualidade das novelas que colocam no ar. Muitas vezes as histórias não passam de produtos que devem ser rentáveis e as emissoras apelam para textos rasteiros, em busca de uma satisfatória audiência. “Seria interessante se houvesse um horário dedicado a adaptações literárias, talvez numa emissora do governo, sem compromissos com a audiência. Mas que privilegiasse a qualidade e o resgate da nossa literatura”, argumenta Ricardo.
Em parceria com Aguinaldo Silva, Linhares foi responsável por adaptar algumas obras de Jorge Amado para a tevê. Porto dos milagres foi inspirada em Mar morto; Tieta, no romance homônimo. “Os personagens de Jorge são sempre humanos, pitorescos e contraditórios. O nome dele é uma grife. O grande problema da literatura é que ela não tem fôlego para segurar 200 capítulos na tevê”, constata o autor.
Mesmo assim, Gilberto Braga fez história com algumas de suas adaptações. Para implantar o horário das seis em novelas, a Globo pediu que o autor se inspirasse nas tramas Helena, de Machado de Assis, e Senhora, de José de Alencar. A primeira se transformou numa mininovela de 20 capítulos em 1975 e estreou a faixa das seis da emissora. Senhora, por sua vez, foi ao ar no mesmo ano, na seqüência. “Dias Gomes dizia que só havia desvantagens em adaptações. Se ficasse bom, o mérito seria do autor. Se fosse um desastre, a culpa seria do adaptador”, diverte-se Gilberto.
Nem todos concordam com Dias Gomes. Obras de grandes autores da literatura nacional e internacional podem sustentar, pelo menos, o esqueleto de uma boa história, com argumentos e personagens que trazem credibilidade a tramas bem estruturadas. Uma promessa disso é a minissérie Capitu, de Luiz Fernando Carvalho, adaptada do clássico de Machado de Assis, Dom Casmurro, prevista que estréia até novembro na Globo.
5 pessoas comentaram:
Ciranda de Pedra é dramaturgia de qualidade? Então tá...
A Globo não faz dramaturgia de qualidade há MUITO tempo.
Não que acho que os Mutantes sejam isso, claro. Mas eles são um sinal claro de que as velhas fórmulas não dão mais certo.
Como eu queria ver grandes romances da Literatura adaptados nas nossas tramas televisivas atuais.
Não era viva quando a TV Globo ainda prestava e transmitiu grandes trabalhos como os citados na reportagem. Deve ter sido maravilhoso assistir à minissérie Senhora. Queria muito que as emissoras ainda fossem assim, viradas pra Literatura.
Bem, eu adoraria poder assistir A Sucessora e a primeira versão de Ciranda de Pedra. O problema é que, como alguém bem disse no texto, alguns livros não têm conteúdo suficiente para uma novela nos moldes brasileiros.
Há livros e livros, verdade, mas o melhor seria o formato minissérie, ou novelas que no máximo chegassem aos 100 capítulos. Mas isso, no momento, é sonhar demais. Com a queda de audiência do horário das seis sendo associada às novelas de época (*Sinhá Moça é uma adaptação de livro*), a tendência é que elas sumam da TV. Eu tinha mais esperanças na Record, mas eles não vão dar continuidade. Essas Mulheres tinha um visual lindo, protagonistas lindos e talz, porém foi esticada demais e no seu retorno ao ar deu quase traço de audiência.
Eu me pergunto por que uma novela brasileira precisa ter 200 episódios. Não dá pra pensar na qualidade da adaptação antes da quantidade de capítulos? Em vez de tentar prender o público por uma infinidade de capítulos vazios de conteúdo, acho que as emissoras precisam começar a pensar em apresentar algo que valha a pena assistir, nem que seja por 1/4 do tamanho ao qual estão acostumados, ou quem sabe menos.
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