sábado, 6 de setembro de 2008

Editora cancela livro sobre esposa infante de Maomé



Sábado passado comentei sobre Sei☆Oniisan ou Saint☆Young Men (聖☆おにいさん), mangá seinen que sobre Buda e Jesus em Tokyo e a coragem em usar personagens-chave de outras religiões que não sejam a Islâmica (*vide, também, o caso JoJo*) em romances e outras obras. Pois bem, no mesmo post questionei sobre a intolerância e, sim, o obscurantismo religioso galopante que tem servido como fonte de censura, especialmente quando se trata de questões concernentes ao Islã e mais recentemente aqui no brasil do uso de símbolos Católicos. Em relação a isso, saíram duas matérias bem interessantes, a primeira uma coluna da repórter Ruth de Aquino na Época e a segunda notícia sobre o cancelamento do livro sobre Aisha, que se tornou esposa de um Maomé cinqüentão quando ainda não tinha nove anos completos.

Aisha é conhecida como a esposa favorita de Maomé, e fora a questão incomoda da pedofilia (*vista pelos olhos de hoje, mas já incomoda naquele momento e não é meu interesse aqui ficar tecendo outros comentários a respeito da vida sexual e amorosa de nenhuma personagem histórica*), foi uma das mulheres mais interessantes dos primórdios do Islã e eu não colocaria em dúvida o amor ou paisão e mesmo respeito do Profeta por ela. Aisha, em sua longa vida e atividade política, especialmente no confronto com Ali, genro de Maomé, e religiosa, como testemunha dos ditos do Profeta, vale por ela mesma. Mas o livro não será publicado pela Random House, porque eles têm medo. E, para justificar o terror cultural, isto é, o medo dos fundamentalistas e fanáticos que podem boicotar e mesmo praticar violências de toda a sorte, vide o assassinato de Theo VanGogh em Amsterdã e o do tradutor de Versos Satânicos em Tokyo, decidiram deixar que a autora fosse desqualificada como forma de sustentar a desistência.

Não pensem que estou diminuindo os riscos, estou, sim, denunciando a censura galopante e o quanto os fanáticos religiosos estão ganhando poder neste mundo. Mas enfim, eis que o Correio Braziliense noticiou que uma editora inglesa vai publicar o romance que se chama A Jóia de Medina (The Jewel of Medina) e tem como autora a americana Sherry Jones. Tomara que a editora ganhe muito dinheiro mesmo e quando aparecer no Amazon, faço questão de comprar. Aliás, esse absurdo todo me fez lembrar d euma passagem do livro Uma História da Leitura do Alberto Manguel, comentando sobre a condenação do livro Versos Satãnicos e de seu autoru, que considero muito ilustrativa das formas de resistência ao fanatismo e à censura:
Durante os primeiros meses da fatwa contra Salmon Rushdie, quando se tornou de conhecimento público que um autor fora ameaçado de morte por ter escrito um romance,John Innes, repórter da televisão americana, aparecia com um exemplar de Versos Satânicos sempre que fazia um de seus comentários sobre assuntos variados. Não se referia em momento algum ao livro, as Rushdie ou ao aiatolá [Komeini do Irã], mas a presença do romance junto ao seu cotovelo indicava a solidariedade de um leitor com o destino do livro e seu autor.

2 pessoas comentaram:

Este é um dos casos comentados pela Ruth de Aquino...

Por que o comentário d aGabriela não apareceu?

Esse tiro só sai pela culatra (pele menos para mim), agora deu vontade de ler Versos Satânicos e esperar assim que esse livro saia para eu ler.

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