segunda-feira, 2 de junho de 2008

Japão imoral?! Poderia passar sem essa...



Todos os dias leio a Folha de São Paulo, é um ritual. Assim, todas as segundas, eu abro o jornal ansiosa por alguma resenha sobre quadrinhos, especialmente sobre mangás. Hoje, havia duas, uma "clássicos enquadrados", deixarei para a minha amiga Natania publicar no Gibiteca.com, a outra tinha este título "Japão Imoral". Já achei o titulo esquisito, Japão Imoral parece chamada de tablóide barato, talvez "A Face Imoral do Japão" soasse melhor, mas eu tinha que abrir a matéria. Pensei cá com meus botões "Um... será que publicarão o primeiro hentai no Brasil?" "Será que vão falar de pedofilia ou prostituição de menores?". Não, lançaremos um olhar sobre o Japão Imoral, guardem bem a palavra, lendo Utena. Vou comentar o texto, ele segue logo embaixo.

O autor do artigo quer chamar atenção para a imoralidade do Japão que se manifesta em seus mangás, Utena seria um exemplar emblemático de deste desvio. Mas o que Utena teria de imoral? Incesto e o fato da heroína não ser bem "feminina". Verdade! Se eu não li enviesado, homossexualidade - e eu sou uma das pessoas que acredita que a Utena dos mangás e da série de TV não é lésbica, embora isso pouco importe em absoluto - parece ser imoral para o articulista. Basta ler as colocações. Talvez conflitos de papéis de gênero o inquietem. Imagino uma resenha de Gravitation... Ou será que o espanto é porque Utena é mulher? Ou porque ao contrário de Safiri e Oscar ela escolhe conscientemente o seu caminho?

Talvez, a imoralidade seja só o incesto, muito embora a mim não pareça. Mas o incesto entre irmãos é imoral ou é cultural? Responderia com a segunda opção e acrescentaria que em certos casos imperam sobre todos os pressupostos religiosos de alguns. Esta é a minha posição, embora não negue que por conta das minhas condições de produção (*quem sou, como me construí atpe hoje*), eu não veja com bons olhos a prática do incesto entre irmãos. Pensando friamente, sem trazer minha carga religiosa, digo que desde que não exista violência, manipulação ou domínio de um sobre o outro, não vou crucificar ninguém. Aliás, este é o caso em Utena, o envolvimento entre Akio e Anthy não é afetivo é doentio. Logo, não é bem imoral a palavra a usar aqui, a atitude de Akio, o irmão mais velho em posição de poder, é criminosa mesmo. Aliás, pelas nossas leis seria ilegal em qualquer caso. Mas se o autor da resenha gosta de rotular as coisas de "imoral" ou "moral", qual rótulo receberia Angel Sanctuary? Mas aqui, cada um com seu cada um, mas no caso da homossexualidade, não, é discriminação mesmo.

Enfim, o texto não estaria ruim, se o autor mudasse o título ou o adaptasse, pois atirar o rótulo de "imoral" sobre um país é no mínimo complicado, e não passasse a impressão de que a suposta homossexualidade de Utena torna o mangá "imoral" aos seus olhos. Enfim, o pessoal assiste o anime e o movie, depois vaia trás do mangá e quer ver o mesmo. Já disse que vai ser uma decepção...

Japão imoral
O controverso mangá "Utena" tem até insinuação de incesto

DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando criança, Utena Tenjou quase se afogou -foi salva por um príncipe misterioso que lhe deu um anel com o símbolo de uma rosa vermelha. Desde então, a menina é fascinada por seu salvador e vai aguardar seu prometido retorno enquanto se envolve em aventuras mágicas com direito a castelos e espadas poderosas.

Até aqui, o enredo do mangá "Utena" se parece com o modelo clássico de "mahou shoujo" -termo que pode ser traduzido por "garota mágica", estilo bastante popular no Japão.

Mas a história criada por Chiho Saito vai se complicando quanto mais fundo entramos nela. A heroína, por exemplo, não é feminina. Aliás, é o oposto disso. Utena se veste e se comporta como homem porque quer se parecer com seu príncipe encantado. Sua masculinidade se desdobra em insinuações sutis de uma relação homossexual com a amiga Anthy Himemiya - que, diga-se de passagem, parece ter alguma espécie de envolvimento afetivo com seu próprio irmão.

O mangá "Utena", publicado no final dos anos 90 no Japão, não está sozinho na discussão dos papéis que homens e mulheres são levados a desempenhar na sociedade.

Na década de 50, Osamu Tezuka -considerado o pai do mangá moderno- desenhou "A Princesa e o Cavaleiro", sobre uma garota que, devido às trapalhadas de um anjo, recebe um coração masculino. Na década de 70, fez sucesso o título "A Rosa de Versalhes" -história de uma menina criada como menino que entra para o exército e se torna guarda pessoal de Maria Antonieta, rainha da França na época da Revolução Francesa.

O traço de "Utena" é delicado e a história flui bem, como na maior parte dos shoujos. O mangá será lançado mensalmente pela editora JBC em dez edições, a R$ 5,90 cada uma.

5 pessoas comentaram:

É, o problema dele tá mais pro lado do "armário" do que com o incesto.
Se ele soubesse que tem muita gente falando bem de Junjou Romantica,
um manga/anime estritamente "imoral", provavelmente teria um chilique.
=)
Eu também concordo que Utena não tem mais do que insinuação, afinal a
amizade entre duas garotas é bem diferente da amizade entre garotos. O
medo de perder a masculinidade cria o medo de expressar e sentir algo,
fica fácil entender porque chamar isso de imoral. O incesto é apenas
um agravante, a garota masculinizada, a relação "complicada" com a
amiga, isso sim vai contra a moral, ao correto, ao "biblico". E se eu
ainda pensasse assim, que seria menos homem só por ver esse "tipo de
coisa", como no fundo deve pensar p autor desse texto, perderia uma
excelente comédia romantica e não conheceria pessoas que mesmo sendo
"imorais" dentro desse padrão, ainda são mais morais que muita gente
por ai.

Enfim, moral nesse caso é só uma desculpa para julgar algo que não se
conhece a fundo. E não se conhece por um medo insensato e incoerente.
E não precisava ser dito, mas eu não me tornei menos homem por isso e
continuo tão hetero quanto antes. E não precisava ser dito porque não
é preciso provar nada, orientação sexual não é doença nem contagioso e
as pessoas não viram "monstros", enfim, ficou claro o ponto de vista o
autor quando ele critica o papel desempenhado por homens e mulheres
(não se fala em família, logo ele "deixou de lado" o incesto) dentro
da sociedade. Imoral é forçar crianças e mulheres em uma relação
sexual contra a vontade delas, roubar dinheiro dos cofres públicos,
desviando verbas da educação e saúde, práticar genocidio e deixar
pessoas morrendo de fome. E ver pelo em ovo também deveria ser imoral.
=)

Sempre tem alguém que solta aquela pérola.

Concordo contigo quando diz que o espanto se deve mais ao fato de Utena ser uma mulher livre. Sei lá, me soou um pouco de machismo velado. E se a questão é homossexualidade, por que ele não implicou com Gravitation? Imoral deveria ser criticar algo sem sequer ter o trabalho de se informar sobre o assunto.

Cara autora, acompanho o seu blog e costumo acompanhar a repercussão das minhas críticas de mangá aqui.
É justo que você deixe que eu me defenda das suas acusações (e das dos comentários dos leitores).
O título de uma matéria, em primeiro lugar, não é dado pelo repórter, mas pelo editor. Não é meu. Mas eu entendo a escolha do editor, de qualquer forma.
Quer queira, quer não, incesto e homossexualismo são assuntos controversos. Não há nenhum juízo de valor nessa afirmação. A informação foi a de que Utena desempenha um papel masculino, tal como Oscar e Safiri. E também que há uma relação sutil entre Anthy e seu irmão.
Essas características do mangá em nada mudam a minha opinião sobre ele. Eu gostei muito da história, tanto que a minha resenha é nitidamente positiva.
E respondendo aos comentários a respeito de Gravitation, sugiro a leitura deste link:

http://www.animepro.com.br/noticias.php?IdNoticia=72&Data=062007

Enfim, muito obrigado pelas críticas. Só te peço um pouco mais de ponderação. Nós, jornalistas, temos as nossas dificuldades. Mas na maior parte dos casos tentamos fazer o melhor que conseguimos.

Um abraço,

Diogo

Bem, está publicado. Mas continuo mantendo as críticas ao seu texto. Incesto e Homossexualidade vendem, um título bombástico também. Se o editor escolhe o título, ele só é responsável pela péssima escolha. Ele me incomodou muito, mas não foi o único incomodo, não. Quer ver?

Você usou a palavra "homossexualismo" no post que colocou aqui, o termo em si, já denota preconceito, pois se remete à doença. A maioria dos homossexuais e outros que trabalham/estudam a questão, usam o termo homossexualidade. O primeiro campo de batalha é o campo das palavras. É preciso cuidado aqui.

Eu vi que a crítica é positiva, mas da forma como começa, acaba saindo algo contraditório. Enfim, obrigada por vir aqui e colocar o seu ponto de vista, acho isso mais que positivo. E bem, se continuar visitando o site, pode postar suas críticas, também. Às vezes, a gente exagera sem perceber ou sentir. E de forma alguma pense que não respeito o trabalho que faz.

Bem, incesto e homossesualida realmente geram controversias.Ate ai nada demais, ninguem é obrigado a concordar com tudo só p/ ser politicamente correto.
Mas a escolha do titulo foi infeliz, e a resenha acabou tocando só em alguns aspectos do manga.Oq acaba dando uma visão parcial do assunto.afinal a muito mais no manga do que isso.

Sobre incesto, eu não vejo com bom olhos, mas desde que não exista violencia envolvida (oq ocorre principalmente no caso de abuso enfantil) não vou ser eu que vou bancar o juiz moral.

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