sexta-feira, 11 de abril de 2008

Ijime e outros tipos de preconceito



Encontrei essa matéria por aí e achei que valia a pena colocá-la aqui no blog. Sei que vocês estão esperando os meus comentários sobre as estréias de anime, eu baixei tudo, até Himitsu raw que junto com Tsubomi era o que eu mais esperava, mas estou sem saco e sem tempo. Talvez, no fim de semana, eu assista de enfiada.

Ontem terminei de escrever minha mattéria de Life para a NT, acho que vai sair na edição 30, fazia três meses que não escrevia nada. Foi assim que achei este texto. Enfim, ele é interessante, e só tenho uma crítica, lá no final a autora vem com aquele papo de “já aprontam e a TV fica dando idéia”. Bom, pode ser que no final a tal novela tenha o objetivo de conscientizar e educar. Afinal, ela nem se informou.


Ijime e outros tipos de preconceito

A pedido de um grupo de leitores, andei observando mais atentamente tudo que se refere a preconceito aqui na Terra do Sol Nascente. É verdade que os japoneses, como uma sociedade altamente apegada às tradições e ainda pouco acostumada à presença de estrangeiros, ainda torcem o nariz para costumes desconhecidos e não conseguem absorver tão rápido as influências dessas culturas, que silenciosamente começam a fazer parte do cotidiano deles. Entretanto, é importante ressaltar que não são comuns os maus-tratos com as visitas, ou seja, com os gaijins – nome que funciona como a palavra “gringo” aí no Brasil.

Mas embora conheça algumas histórias de retaliação contra não-japoneses, creio que há um tipo de preconceito ainda mais curioso, que costuma acontecer entre eles próprios, não apenas com quem é de fora. Existe até uma palavra para denominar esse sentimento, que algumas vezes acaba em tragédia – melhor explicando, suicídio. Infelizmente, isso é mais comum do que qualquer um de vocês possa imaginar. Como já mencionei aqui no blog, estima-se que cerca de 30 mil pessoas tirem suas vidas todos os anos no país, segundo dados do governo nipônico.

O ato de excluir alguém de um grupo social e não tratá-lo com respeito, aqui no Japão, recebe o nome de ijime (a forma correta de pronunciar é “idjimê”). Ser alvo de ijime é uma das piores coisas a se enfrentar para alguém que vive a fundo o espírito de coletividade, e o povo japonês desde cedo estimula essa convivência com os seus semelhantes.

As crianças, por exemplo, na faixa dos seis, sete anos de idade, vão sozinhas para o colégio, acompanhadas somente por seus coleguinhas. De manhã, é comum ver grupinhos enormes de crianças de mãos dadas, com chapeuzinhos e suas mochilas padronizadas atravessando a rua sozinhas, conversando, brincando... Em algumas províncias (aqui não há estados, e sim províncias), os pais são proibidos de levar os filhos à escola, justamente para que essa independência seja estimulada (na foto, as crianças estão na plataforma do trem esperando para voltar para casa, na cidade de Kamakura).

No campo profissional também costuma acontecer a mesma coisa: os jovens saem das universidades, ingressam no seu primeiro emprego e passam boa parte da vida trabalhando na mesma companhia, embora essa fidelidade tenha sido menos intensa nos últimos anos. O círculo social dessas pessoas acaba sendo composto pelos colegas de trabalho, com quem eles se divertem depois do expediente e também nos fins de semana, durante os eventos promovidos pela empresa. Sem falar que muitos encontram os seus maridos ou esposas neste mesmo grupo social. Logo, ser banido da convivência dos demais, realmente, acaba sendo uma condição difícil de agüentar.

Já cansei de ler nos jornais japoneses histórias de estudantes que se matam porque são alvo de zombaria dos colegas, coisa impensável no Brasil. E o pior é que são eles, crianças e adolescentes, que costumam ser os mais cruéis em matéria de preconceito. Tenho amigos estrangeiros que tiveram filhos aqui no Japão e precisam se desdobrar em atenção para que eles não se sintam rejeitados. Nessas horas é engraçado observar como a tal da exclusão é um negócio globalizado: se no Brasil é comum zombar dos descendentes de japoneses, aqui são eles que fazem graça com os que não têm olhos puxados. Isso entre as crianças, vale ressaltar.

Dia desses li em um jornal local que um garoto de 16 anos se enforcou porque vinha sendo alvo de ijime entre os seus colegas de classe. Os adolescentes criaram um sistema que consistia no seguinte: cada vez que o tal garoto falasse uma bobagem, teria que pagar 10 mil ienes (cerca de R$ 160) para os companheiros. Nesse embalo, os rapazes inventaram uma dívida milionária para o garoto, que vivia sendo aterrorizado com emails e mensagens pelo celular. Certa vez, criaram uma situação para lá de constrangedora: fizeram um moicano em seu cabelo, deixaram-no pelado e depois tiraram fotos, que acabaram sendo vistas por todos os estudantes do colégio. Resultado: um adolescente morto por não ter agüentado a pressão, uma família traumatizada e três inconseqüentes na cadeia. Tudo por causa do preconceito.

Li uma matéria na última edição da revista Alternativa, uma publicação brasileira que é distribuída no Japão, que o celular tem se tornado uma das principais ferramentas de terrorismo social usadas pelos jovens japoneses. A nova prática de maus-tratos consiste em torpedear a vítima com constrangimentos morais e difamações em sites especializados para celular. Batizada de “net ijime”, a mania vem se alastrando no país. De acordo com a revista, os adolescentes usam termos depreciativos para falar dos colegas, que até então eu não conhecia, como uza (inconveniente, intruso) ou kimoi (nojento, repulsivo). Em seguida, divulgam essas páginas em meio aos alunos, que passam a aumentar a lista de xingamentos e deboches.

O negócio é tão comum que dia desses estava zapeando os canais da TV e parei numa novelinha japonesa estilo Malhação, só com adolescentes, que não me recordo o nome. Fiquei impressionada com o nível de crueldade do elenco da tal novela...Eles mostravam uma turma de garotos torturando outros adolescentes, coisa de ditadura militar mesmo, com direito a queimadura com ponta de cigarro, para vocês terem idéia. E claro que tinha a patricinha poderosa que namorava com o líder da gangue, que mandava e desmandava na escola...Fiquei revoltada com o mau exemplo! Se eles já fazem isso normalmente, imagina então com a TV dando idéia...

5 pessoas comentaram:

Muito interessante mesmo esse texto.
Existem pessoas desenformadas no nosso país que acreditam que aqui é o único lugar onde acontece tudo de ruim. Mas quanto mais o tempo passa começamos a perceber que o tipo de comportamento humano descrito no texto (entre outros também) é uma atitude comum ao mundo todo.
Bem falando do estilo malhação, eu acredito que tais novelas adolescentes tenham sim níveis educacionais, mas avaliando por algumas pessoas que vejo nas ruas e até mesmo pessoas com quem ja convivi é inevitável dizer que muitas atitudes depreciativas de adolescentes sem uma postura pré determinada vem da mídia (o pior é que não são só adolescentes mas muitos adultos também). Bom temos é que torcer para que essa geração tenha dicernimento para diferenciar o que é conscientização do que é para se tornar moda.
Adorei o seu blog!
Vou passar sempre por aqui
Adoro animês e mangás Shoujo.
Parabéns pelas suas matérias!

T.A.C.Tarik

O texto é bom mas algumas coisas me irritaram.

Acho que o drama que ela tá falando é Life e dizer que é 'inconseqüente' é meio preconceito.

E dizer que suicidio por bullying no Brasil é impensavel... muito pelo contrário. Hoje em dia, suicido por bullying não é impensavel em lugar no mundo inteiro.

O texto me da a impressão que Ijime/bullying só ocorre no Japão,
deixemos de ser tão ingênuos, isso ocorre no mundo inteiro....
Impensável no Brasil?!
Isso é ridiculo!
Já passei por bullying por muitos anos e sei como é horrivel.
Não sei a intensidade que isso ocorre com frequencia lá no Japão.
Mas maquiar que no Brasil todo mundo se dá bem com todos, que somos todos um povo amigo é GENERICO d+

Acredito que sua percepção do texto foi exagerada. A autora não é perfeita - o André que comentou antes ponderou várias questões - mas o que ela apresenta é o bullying como é no Japão.

Quanto ao fenômeno bullying ao que aprece ele é universal. A professora Cléo Fante fez um estudo já publicado e a conclusão foi que o bullying ocorre em 100% das escolas aqui no Brasil. Agora, os desdobramentos, seja um Columbine (*facilidade de acesso à armas de fogo nos EUA*) ou suicídios em massa (*o Japão tem as mais altas taxas de suicídio do mundo*) nós não temos. É aí a diferença.

E mais, como todo estudante aparentemente normal, us sofri bullying. No meu caso no primário e ginásio. Só que os primeiros estudos de bullying iniciaram em 1982 na Noruega e, no caso do Brasil, somente no início da década de 1990.

Realmente,ijime e bulling não acontecem somente no japão.Porém e importante observar que casos de suicídios são frequentes diante da pressão psicólogica e do deterioramento humano que ele causa.Tenho um filho na escola japonesa e afirmo que é mais que frequente esses casos de ijime, e não é só com os estrangeiros, mas com os próprios japoneses.E tbém não é só por parte dos estudantes, mas envolve os professores tbém.
Convido à todos que quiserem participar da comunidade feita e divulgada na revista Alternativa citada,Ijime Zettai Dame, no orkut.
Conhecerão assim vários casos de ijime ocorridos na comunidade brasileira que reside no japão e o quanto a cultura do japão negligencia e acoberta tais fatos. O ijime traz consequências irreversíveis, é imprescindível que os pais saibam identificá-lo e repará-lo a tempo.

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