A Folha de São Paulo impressa está fazendo uma série de matérias sobre a Imigração Japonesa e a Folha On Line colocou no ar uma matéria sobre os mangás no Brasil. Vale a leitura.
Brasil foi pioneiro na leitura de mangá no Ocidente
DAYANNE MIKEVIS
da Folha Online
No Brasil, os mangás vieram com os imigrantes japoneses que aqui desembarcaram. Logo que surgiram as primeiras importadoras de revistas e jornais japoneses, este tipo de quadrinho se tornou uma forma de acompanhamento do que acontecia no Japão.
"Ler mangá foi sempre uma forma de preservar a língua japonesa e também de atualização da mesma. Portanto o Brasil é um país que lê mangá muito antes de qualquer outro país ocidental do mundo. Somente nos anos 90 com o sucesso de alguns mangás e animês nos Estados Unidos é que a grande massa começou a ter conhecimento da cultura pop japonesa", afirma a pesquisadora Sônia Maria Bibe Luyten, autora de "Mangá, o Poder dos Quadrinhos Japoneses" e "Cultura Pop Japonesa: Mangá e Animê".
O contato com o universo dos mangás pela via familiar é o caso da estudiosa Christine Akune Sato, que desde a infância teve em sua casa as revistas, como uma forma dos avós a fazerem se interessar pelo idioma japonês.
"Meus avós assinavam revistas que vinham do Japão e com elas, mangás. Nos anos 50, 60, elas eram exaustivamente trocadas entre os parentes", afirma Sato.
De origem italiana e com sobrenome holandês devido ao casamento, Luyten foge à regra.
"Em 1972 comecei o primeiro curso universitário de histórias em quadrinhos. Foi na Universidade de São Paulo, na Escola de Comunicações e Arte, no departamento de Jornalismo e Editoração", disse a pesquisadora.
"Nos anos 1970 o Japão teve um grande avanço econômico que veio surgindo desde o final da 2º Guerra Mundial. Com este boom da economia a indústria editorial também cresceu muito e os quadrinhos japoneses - os mangás - também aceleraram muito em vendas. Este foi o grande motivo do meu interesse pois em nenhum país do ocidente uma revista alcançou vendagens de um milhão de cópias por semana", conta Luyten. Ela resolveu então entrar em contato com editoras japonesas para obter mais informações em um semestre no qual havia muitas alunas nisseis na turma.
Mangás no Brasil
Segundo Luyten, muitos descendentes de japoneses que liam mangá também tomaram gosto pelo desenho e entraram no mercado editorial brasileiro nos anos 60.
"É o caso de Julio Shimamoto, Paulo Fukue, entre outros. Portanto tivemos uma geração de nisseis desenhando mangá antes de qualquer outro país no mundo", disse a pesquisadora.
Já Sato, concorda, mas afirma que o boom do mangá foi nos anos 80, após a criação da divisão de quadrinhos da editora Abril, no qual uma área passou a esporadicamente publicar mangás, e as exposições na Sociedade de Cultura Japonesa.
A própria Abrademi foi criada naquela década, em 1984. Para Sato, o sucesso só não foi maior porque havia um certo preconceito com a publicação de mangás, pois estes eram considerados muito violentos e sem apelo para o público brasileiro em geral. A pesquisadora, que foi bolsista em 1987 no Japão, conta que também há dificuldades técnicas em decorrência da escrita, que é da direita para a esquerda, de baixo para cima. Isto muda o formato dos balões.
Sato cita, como tentativas de se publicar mangás no Brasil, "Akira", que foi lançado pela editora Globo. A especialista marca a metade da década de 90 como uma outra mudança crucial, com a vinda ao mercado das editoras Conrad e JBC, focadas na publicação de mangás para o público brasileiro.
"Atualmente há muitas publicações em forma de fanzines que estão experimentando a linguagem dos mangás, o que acho algo extraordinário pois a maioria nem é descendente de japoneses", afirmou Luyten.
Dentre os sucessos brasileiros de mangás em bancas, a pesquisadora cita "Holy Avenger", da dupla Marcelo Cassaro e Erica Awano. A publicação teve uma série completa e boa vendagem.
A pesquisadora também lembra a publicação de "Mangá Tropical", coordenada por Alexandre Nagado, que reuniu desenhistas e roteiristas com ou sem descendência japonesa e que tinha como principal característica histórias passadas no Brasil. Além disso, Luyten também citou Fábio Yabu, que desenhou Combo Rangers publicado primeiro na internet e que depois virou revista em quadrinhos, publicadas pelas editoras JBC e Panini. Ao todo, foram 25 revistas.
Desafios
Os principais desafios para este mercado, segundo Luyten, são os desafios que qualquer desenhista brasileiro enfrenta: encontrar editoras que aceitem o trabalho, ter um trabalho bom e com continuidade, enfrentar os ciclos altos e baixos da economia brasileira entre outros motivos.
"Há muita gente que acha o mangá está tirando o pão de cada dia do desenhista brasileiro. Antes a culpa era dos americanos e antes ainda dos europeus. Acredito que o mercado brasileiro tem capacidade de absorver tudo desde que seja bom, de preço acessível, que tenha continuidade. Há lugar para todos quando algo tem qualidade", disse Luyten.
Mangá, o desenho livre, sofreu revolução nos anos 1940
DAYANNE MIKEVIS
da Folha Online
Apesar de a palavra mangá ter origem muito antiga, foi no final da 2º Guerra Mundial (1939-1945) que um autor chamado Tezuka Ossamu ganhou destaque com seus desenhos de personagens com olhos grandes e esguio. Ele também inovou o conteúdo dos mangás e produziu "Princesa e o Cavaleiro", "Buddha", "Adolf" e "Astro Boy", segundo a pesquisadora Sônia Maria Bibe Luyten.
A acadêmica conta que, quando morou no Japão, de 1984 a 1991, a convite da Universidade de Estudos Estrangeiros de Osaka, Tóquio e Tsukuba, conheceu pessoalmente Ossamu e visitou seu estúdio.
O traço do mangá evoluiu desde então, mas ainda preserva as principais características deixadas por Ossamu, que é chamado no Japão de kamisama, ou seja, o deus do mangá, segundo Luyten.
A palavra mangá, segundo a pesquisadora, é formada por dois kandi (junção de caracteres que formam uma palavra) que significam "desenhos inconseqüentes, livres".
"Um dos famosos gravuristas japoneses chamado Hokusai [1760-1849], o mesmo que fez as famosas 'As 36 Vistas do Monte Fuji', 'A Grande Onda de Kanagawa', fez alguns esquetes não convencionais para a época retratando a vida comum das ruas, as prostitutas, as casas de banho e usou pela primeira vez a palavra mangá", afirma Luyten.
No final do século 19, um desenhista chamado Rakuten Kitazawa usou novamente a palavra mangá e o termo se consolidou e está em uso até hoje, segundo a pesquisadora.
No Ocidente
Outra estudiosa dos mangás, Christine Akune Sato, 42, membro da Abrademi (Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações) e autora do livro "Japop - O Poder da Cultura Pop Japonesa", afirma que no Ocidente a palavra mangá ganhou a conotação de quadrinhos no estilo japonês.
No entanto, no Japão, mangá quer dizer qualquer leitura de quadrinhos, que inclui uma gama variada de títulos, desde clássicos da Marvel, passando por nomes como René Goscinny e Albert Uderzo, Quino, e até mesmo Maurício de Sousa.
"No Japão, mangá é revista em quadrinhos, e no Ocidente são os japoneses, especificamente", afirmou Sato.
Ela afirma que os mangás, em seus diferentes gêneros e categorias, são uma leitura popular no Japão e abrangem qualquer público.
"O mangá é uma leitura de prazer, não um preconceito, uma tribo de quem lê. Lá todo mundo o faz e é muito comum ver este tipo de hábito em restaurantes, enquanto as pessoas esperam as refeições", disse a pesquisadora.
"Com as características editoriais que possuem [divisão por sexo e idade], ao estilo e conteúdo, o mangá faz parte da cultura pop japonesa. E dentro deste universo da cultura pop aparecem muitos traços da cultura tradicional japonesa. Existe também uma forte identificação entre o leitor e os personagens pois as histórias abrangem muitos aspectos que nem sempre os quadrinhos tradicionais abordam", afirma Luyten, sobre a importância do mangá na cultura japonesa.
Brasil foi pioneiro na leitura de mangá no Ocidente
DAYANNE MIKEVIS
da Folha Online
No Brasil, os mangás vieram com os imigrantes japoneses que aqui desembarcaram. Logo que surgiram as primeiras importadoras de revistas e jornais japoneses, este tipo de quadrinho se tornou uma forma de acompanhamento do que acontecia no Japão.
"Ler mangá foi sempre uma forma de preservar a língua japonesa e também de atualização da mesma. Portanto o Brasil é um país que lê mangá muito antes de qualquer outro país ocidental do mundo. Somente nos anos 90 com o sucesso de alguns mangás e animês nos Estados Unidos é que a grande massa começou a ter conhecimento da cultura pop japonesa", afirma a pesquisadora Sônia Maria Bibe Luyten, autora de "Mangá, o Poder dos Quadrinhos Japoneses" e "Cultura Pop Japonesa: Mangá e Animê".
O contato com o universo dos mangás pela via familiar é o caso da estudiosa Christine Akune Sato, que desde a infância teve em sua casa as revistas, como uma forma dos avós a fazerem se interessar pelo idioma japonês.
"Meus avós assinavam revistas que vinham do Japão e com elas, mangás. Nos anos 50, 60, elas eram exaustivamente trocadas entre os parentes", afirma Sato.
De origem italiana e com sobrenome holandês devido ao casamento, Luyten foge à regra.
"Em 1972 comecei o primeiro curso universitário de histórias em quadrinhos. Foi na Universidade de São Paulo, na Escola de Comunicações e Arte, no departamento de Jornalismo e Editoração", disse a pesquisadora.
"Nos anos 1970 o Japão teve um grande avanço econômico que veio surgindo desde o final da 2º Guerra Mundial. Com este boom da economia a indústria editorial também cresceu muito e os quadrinhos japoneses - os mangás - também aceleraram muito em vendas. Este foi o grande motivo do meu interesse pois em nenhum país do ocidente uma revista alcançou vendagens de um milhão de cópias por semana", conta Luyten. Ela resolveu então entrar em contato com editoras japonesas para obter mais informações em um semestre no qual havia muitas alunas nisseis na turma.
Mangás no Brasil
Segundo Luyten, muitos descendentes de japoneses que liam mangá também tomaram gosto pelo desenho e entraram no mercado editorial brasileiro nos anos 60.
"É o caso de Julio Shimamoto, Paulo Fukue, entre outros. Portanto tivemos uma geração de nisseis desenhando mangá antes de qualquer outro país no mundo", disse a pesquisadora.
Já Sato, concorda, mas afirma que o boom do mangá foi nos anos 80, após a criação da divisão de quadrinhos da editora Abril, no qual uma área passou a esporadicamente publicar mangás, e as exposições na Sociedade de Cultura Japonesa.
A própria Abrademi foi criada naquela década, em 1984. Para Sato, o sucesso só não foi maior porque havia um certo preconceito com a publicação de mangás, pois estes eram considerados muito violentos e sem apelo para o público brasileiro em geral. A pesquisadora, que foi bolsista em 1987 no Japão, conta que também há dificuldades técnicas em decorrência da escrita, que é da direita para a esquerda, de baixo para cima. Isto muda o formato dos balões.
Sato cita, como tentativas de se publicar mangás no Brasil, "Akira", que foi lançado pela editora Globo. A especialista marca a metade da década de 90 como uma outra mudança crucial, com a vinda ao mercado das editoras Conrad e JBC, focadas na publicação de mangás para o público brasileiro.
"Atualmente há muitas publicações em forma de fanzines que estão experimentando a linguagem dos mangás, o que acho algo extraordinário pois a maioria nem é descendente de japoneses", afirmou Luyten.
Dentre os sucessos brasileiros de mangás em bancas, a pesquisadora cita "Holy Avenger", da dupla Marcelo Cassaro e Erica Awano. A publicação teve uma série completa e boa vendagem.
A pesquisadora também lembra a publicação de "Mangá Tropical", coordenada por Alexandre Nagado, que reuniu desenhistas e roteiristas com ou sem descendência japonesa e que tinha como principal característica histórias passadas no Brasil. Além disso, Luyten também citou Fábio Yabu, que desenhou Combo Rangers publicado primeiro na internet e que depois virou revista em quadrinhos, publicadas pelas editoras JBC e Panini. Ao todo, foram 25 revistas.
Desafios
Os principais desafios para este mercado, segundo Luyten, são os desafios que qualquer desenhista brasileiro enfrenta: encontrar editoras que aceitem o trabalho, ter um trabalho bom e com continuidade, enfrentar os ciclos altos e baixos da economia brasileira entre outros motivos.
"Há muita gente que acha o mangá está tirando o pão de cada dia do desenhista brasileiro. Antes a culpa era dos americanos e antes ainda dos europeus. Acredito que o mercado brasileiro tem capacidade de absorver tudo desde que seja bom, de preço acessível, que tenha continuidade. Há lugar para todos quando algo tem qualidade", disse Luyten.
Mangá, o desenho livre, sofreu revolução nos anos 1940
DAYANNE MIKEVIS
da Folha Online
Apesar de a palavra mangá ter origem muito antiga, foi no final da 2º Guerra Mundial (1939-1945) que um autor chamado Tezuka Ossamu ganhou destaque com seus desenhos de personagens com olhos grandes e esguio. Ele também inovou o conteúdo dos mangás e produziu "Princesa e o Cavaleiro", "Buddha", "Adolf" e "Astro Boy", segundo a pesquisadora Sônia Maria Bibe Luyten.
A acadêmica conta que, quando morou no Japão, de 1984 a 1991, a convite da Universidade de Estudos Estrangeiros de Osaka, Tóquio e Tsukuba, conheceu pessoalmente Ossamu e visitou seu estúdio.
O traço do mangá evoluiu desde então, mas ainda preserva as principais características deixadas por Ossamu, que é chamado no Japão de kamisama, ou seja, o deus do mangá, segundo Luyten.
A palavra mangá, segundo a pesquisadora, é formada por dois kandi (junção de caracteres que formam uma palavra) que significam "desenhos inconseqüentes, livres".
"Um dos famosos gravuristas japoneses chamado Hokusai [1760-1849], o mesmo que fez as famosas 'As 36 Vistas do Monte Fuji', 'A Grande Onda de Kanagawa', fez alguns esquetes não convencionais para a época retratando a vida comum das ruas, as prostitutas, as casas de banho e usou pela primeira vez a palavra mangá", afirma Luyten.
No final do século 19, um desenhista chamado Rakuten Kitazawa usou novamente a palavra mangá e o termo se consolidou e está em uso até hoje, segundo a pesquisadora.
No Ocidente
Outra estudiosa dos mangás, Christine Akune Sato, 42, membro da Abrademi (Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações) e autora do livro "Japop - O Poder da Cultura Pop Japonesa", afirma que no Ocidente a palavra mangá ganhou a conotação de quadrinhos no estilo japonês.
No entanto, no Japão, mangá quer dizer qualquer leitura de quadrinhos, que inclui uma gama variada de títulos, desde clássicos da Marvel, passando por nomes como René Goscinny e Albert Uderzo, Quino, e até mesmo Maurício de Sousa.
"No Japão, mangá é revista em quadrinhos, e no Ocidente são os japoneses, especificamente", afirmou Sato.
Ela afirma que os mangás, em seus diferentes gêneros e categorias, são uma leitura popular no Japão e abrangem qualquer público.
"O mangá é uma leitura de prazer, não um preconceito, uma tribo de quem lê. Lá todo mundo o faz e é muito comum ver este tipo de hábito em restaurantes, enquanto as pessoas esperam as refeições", disse a pesquisadora.
"Com as características editoriais que possuem [divisão por sexo e idade], ao estilo e conteúdo, o mangá faz parte da cultura pop japonesa. E dentro deste universo da cultura pop aparecem muitos traços da cultura tradicional japonesa. Existe também uma forte identificação entre o leitor e os personagens pois as histórias abrangem muitos aspectos que nem sempre os quadrinhos tradicionais abordam", afirma Luyten, sobre a importância do mangá na cultura japonesa.
1 pessoas comentaram:
Muito interessante essa reportagem,ainda mais saindo na Folha de São Paulo.Os mangás são incrivéis mesmo com tanta variedade de gêneros e os únicos quadrinhos, que se direcionaram as garotas(embora eu seja uma grande fã de shonen).
Desculpa ser chata,mas já sendo(isso foi horrivél).Não sei se você chagou a receber um e-mail que eu mandei.Então pergunto outra vez:Existe algum shoujo que tenha o Heavy Metal como tema?Procurei muito,mas ainda não encontrei.
Beijos.
Karina.
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