quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

A Mangá Mania Européia


O link para esta matéria estava no Comipress. Trata-se de uma análise feita pela revista Business Week do mercado de mangá europeu. Não é uma matéria profunda, ignora a Itália e a Espanha, nem do “mangá francês”, mas toca em alguns pontos importantes, como o crescente interesse por mangá, o quanto ele atrai o público jovem e feminino que prefere mangá aos quadrinhos franco-belgas, além de falar daquilo que quem viu está careca de saber, Uderzo fez um álbum de Asterix para atacar a Mangamania. Os mangás estão incomodando. E nem adianta caras supostamente intelectualizados de mais de 30 anos apareceram para falar da superioridade ariana de Tintin, Corto Maltese e Asterix, o fato é que esse tipo de quadrinho também ignora o público feminino, ou não o tem como seu alvo, isso sem falar nos leitores no início da adolescência, deixando pelo menos flanco aberto para o avanço dos mangás. Resta agora vencer a barreira da maioridade. O texto original está aqui. Fiz uma tradução corrida, então posso ter atropelado coisas. Resta agora saber que "mangás alemães" vão sair aqui no Brasil em 2008.

A Mangá Mania Européia

Os jovens leitores estão abandonando referências como Asterix em troca dos quadrinhos japoneses, conhecidos como mangás. Agora, os editores europeus estão criando os seus próprios.

Por Jennifer Fishbein

Na maior livraria de Farnkfurt, Hugendubel, Svenja Malis, de 18 anos, passa pelos Best-sellers e se dirige para a seção de quadrinhos. Ela não está procurando pelo último número de Betty e Veronica e Supergirl, mas mangá, os quadrinhos japoneses ricamente ilustrados que contam histórias de amor, mistério e mesmo horror. Uma amiga viciou Malis em mangá há três anos e, como muitas garotas da sua turma, ela começa a financiar o hábito com sua própria mesada. “Eu poderia também ler comics, mas eu prefiro mangá porque eles são mais bem feitos,” ela diz.

Enquanto os quadrinhos ocidentais tais como Pato Donanld, Tintin e Asterix dominaram por muito tempo o mercado europeu, jovens leitoras como Malis estão olhando para o que vem do oriente. A Organização de Comércio Exterior do Japão diz que as vendas totais de mangá na Alemanha e na França totalizaram U$212.6 milhões [1] no ano passado, tornando a Europa o maior consumidor de mangás fora do Japão. Quase dois terços das vendas são francesas, onde adultos e jovens sem distinção são desde muito tempo ávidos leitores de grandes formatos, quadrinhos em capa dura conhecidos como bandes dessinées.

Mangá Nacional

Na Alemanha, onde a leitura de quadrinhos tem sido tradicionalmente menos disseminada, os mangás agora totalizam 70% das vendas de todos os quadrinhos, diz Joachim Kaps, diretos da filial de Hamburgo da editora Tokyopop. “Mangá é uma das mais bem sucedidas histórias de sucesso do mercado editorial da última década.” Tão bem sucedido, de fato, que a Alemanha está agora produzindo e exportando o seu próprio mangá.

Tokyopop, por exemplo, licenciou títulos de quatro de seus autores no Japão, assim como na França, Escandinávia, Leste Europeu, e Brasil. A companhia, fundada em 2004, é um ramo da matriz de Los Angeles, também chamada de Tokyopop.

Carlsen Manga, parte da editora de Hamburgo chamada Carlsen Comics fundada em 2005, licenciou livros de seus autores de ponta na Coréia, nos EUA, e em outros países europeus, diz Kai-Steffen Schwartz, diretor editorial da Carlsen Manga. Para cultivar novos talentos, a companhia começou a vender no ano passado mangás de 60 páginas em formato pocket dos seus autores locais. Os livros, que custam cerca de U$2,80, tem 300,000 cópias sendo impressas.

As sementes do mercado europeu de mangá foram plantadas no final dos anos 70, quando a Itália e a França começaram a transmitir desenhos animados japoneses. Um programa infantil francês popular, Club Dorothée, começou a exibi-los no final dos anos 80, criando uma geração de garotos e garotas que preferiam a animação japonesa aos quadrinhos franco-belgas.

Destronando Asterix

Os entusiastas dizem que os mangás são visualmente mais impressionantes que os quadrinhos tradicionais, e que as histórias geralmente abordam as preocupações dos adolescentes, tais como o despertar da sexualidade e o pertencimento a algum grupo. “Eu amo Asterix – eu tenho todos os álbuns em casa – mas é um estilo totalmente diferente,” diz Jean-Christophe Hamard, 19 anos, folheando os títulos de mangá em uma livraria de Paris.

Em 2005, o ilustrador francês Albert Uderzo escreveu Asterix - o Dia Em que o Céu Caiu, no qual o baixinho e bigodudo gaulês luta contra invasores do espaço chamados Nagma, anagrama de mangá. Há atualmente 40 editoras que lançam mangá em língua francesa, mais de um terço lançaram somente mangá no ano passado, segundo a Associação Francesa de Críticos e Jornalistas de quadrinhos.[2] Em 2007, um total de 1.152 títulos mangás do Japão foram publicados na França, 42 a mais que no último ano.

A Mangamania atingiu a Grã-Bretanha também. A Tokyopop britânica, criada em 2004, viu as vendas dobrarem em relação ao último ano, para U$8 milhões. Outras editoras britânicas lançaram versões mangá de Shakespeare e da Bíblia neste ano. Mesmo a Monocle, uma nova revista de negócios publicada pelo jornalista Tyler Brûlé, traz mangá na última página de todas as suas edições.

Quadrinhos para Adultos

O próximo passo para as editoras é descobrir como reter os leitores quando estes atingem a idade adulta. Enquanto é muito comum para o homem de negócios japonês ler mangá, a audiência européia consiste basicamente de adolescentes. “Esta geração está crescendo, então o tipo de material também vai crescer [com ela],” diz Paul Gravett, jornalista britânico e autor do livro Mangá: Como os Japoneses Reinventaram os Quadrinhos.[3]

A Tokyopop alemã está prestes a adaptar uma série de novelas [romances curtos] para jovens adultos para o formato mangá. E não será tão cedo para Malis, cujos amigos começaram a abandonar está mídia. “Com a idade de 18 anos, eu estou deixando a base de fãs de mangá,” ela diz.

Fishbein é repórter da BusinessWeek na Agência de Paris.


[1] Estou presumindo que o $ seja de dólares, mas pode ser que sejam euros. Em nenhum momento do texto a moeda fica clara.
[2] Aqui não sei se a tradução foi precisa. Realmente, acho que o texto está confuso:
“There are now 40 francophone publishers of manga, up one-third in the past year alone, according to the French Association of Comic Critics and Journalists.”
[3] O livro, que se chama originalmente Manga: 60 Years of Japanese Comics, foi publicado em nosso país pela Conrad.

4 pessoas comentaram:

Oi, moça! Tudo bom?
Dei uma olhada no tópico, e gostaria de dar minha opinião. Como leitora assídua de produções em quadrinho europeu - espanhol, franco-belga e etc - acho que o caminho que a banda-desenhada (o quadrinho europeu por si)trilha é o da integração. Não creio que haja uma segregação, ou uma segmentação tão forte como o que ocorre aqui no Brasil, onde leitor de mangá não se mistura com leitor de comics - e ambos nem sonham com o que é publicado além-mar.
Como neste assunto as imagens falam mais alto, posso citar autores jovens, que estão fazendo uma promissora carreira e que são respeitados no que fazem.
Enrico Marini - Em Rapaces (http://www.bedetheque.com/serie-264-BD-Rapaces.html) ele está muito sob a influência do comic americano. Se Rapaces virasse filme, ninguém ia nem lembrar de Anjos da Noite! XD Já quando ele desenha Gipsy (http://www.bedetheque.com/serie-79-BD-Gipsy.html), ele mostra bastante do mangá, numa construção meio Akira, de planos, rostos... Coisas que se tornam quase a regra visual de Olivier Varese (http://www.bedetheque.com/serie-633-BD-Dossiers-d-Olivier-Varese-(Les).html)
e ainda assim, ele flerta com o clássico/cinematográfico quando (se deixa levar pela inveja e) desenha Les Aigles de Rome (http://www.bedetheque.com/serie-16560-BD-Aigles-de-Rome-(Les).html).

Em outra mão, e até mesmo por serem as mulheres presença rara na Banda Desenhada, Algesiras (http://fr.wikipedia.org/wiki/Alg%C3%A9siras_%28auteur%29) não esconde que é fã de mangá - yaoi! - e mete o pé na jaca ao produzir a série Candelabres, que tem numa banda-desenhada muito do yaoi, porém com mais discrição. Ela traz nos desenhos e no enredo um jeito mais simples de gerir a historia, mais proximo do mangá do que das complicações da BD tradicional. site oficial http://candelabres.com/
Marco Nizzoli - Ele trabalha numa (minha opinião) derivação da *linha clara*, porém encontro nele muito da linguagem do mangá, principalmente quando ele desenha Le Jour des Magiciens!

bom, são 3 autores distintos, que eu posso citar sem entupir esse comentário! XD Mas um fato que ocorre na Europa, e que nisso se diferencia do Brasil é a produção de um material próprio, que embora preze pelo "estilo" mangá não consegue estar completamente preso a ele.
Particularmente, eu *ainda* gosto de mangá, mas estou tremendamente mais seletiva com o que leio - e por isso acabo não lendo nada ou quase nada - do que 10 anos atrás. Eu olho com desconfiança para uma série de 10 volumes de extensão, sendo cada um de 200 pags lançado um por ano, onde situações se arrastam e fico me sentindo burra por ter demorado 3 volumes para descobrir o que já sabia.
É a minha opinião: a banda-desenhada me supre neste sentido, como leitora de quadrinhos. Em média, cada album tem 50 páginas (alguns mais, outros menos, etc), não raramente coloridas (bem ou mal desenhadas, já é assunto pra outra conversa hehehehe) e na maioria das vezes um enredo sólido as vezes até demais para uma obra em quadrinhos. E muitas vezes os autores tem de rebolar, juntar tudo isso e fazer uma obra interessante em apenas um one-shot de 48 pags! Aí quando eu pensei nisso e olhei os 10 volumes da série Blame, eu me senti burra mesmo...

Acredito que a questão aqui no Brasil não é de segmentação. Muita gente que lê quadrinhos lê de tudo, e muita gente não lê quadrinhos em absoluto. Agora o fenômeno que essas matérias sobre Europa, EUA e outros lugares apontam é que o mangá ganha um público que é negligenciado no Ocidente: as mulheres. Não adianta dizer que você é mulher, e não sei sua idade, mas aposto que passou da adolescência, e lê quadrinhos, mas perceber que você deve ser uma minoria. E é isso que o mangá traz de novo: há quadrinhos para todos.

As matérias sobre mercado europeu normalmente apontam para a Alemanha como um lugar exemplar. O mercado de quadrinhos ali não era grande e o mangá atraiu um público "outro" e um público que começa a produzir seus próprios quadrinhos. Espero que isso ocorra aqui no brasil, também. Quem sabe.

Você é portuguesa, certo? Ou é italiana ou francesa que domina o português (*maravilhosamente bem*)? Porque mesmo na Europa há países que são quase somente consumidores. Sei que em Portugal se lança muito anime, mas se publica pouco mangá.

E é aquilo, o mercado amadurece com os consumidores. Cada vez sai mais josei na França e na Itália. Nem vou falar de seinen, mas é o material para o público que permanece.

Quanto a álbuns fechados, bem, há alguns excelentes, mas eu prefiro modelos com prin´cipio, meio e fim, não com personagens atemporais. Gosto do Will Eisner que faz bem o álbum fechado, e há japoneses que dominam muito bem isso, a gente não pdoe achar que todo mangá é longo, porque isso não corresponde à realidade. Mas eu gosot também de uma Satrapi que contou sua biografia em capítulos. A questão maiora para mim é que o quadrinho tenha algo a me oferecer. Eisner tem, Satrapi tem, um corto maltese, por exemplo, não parece ter e olha que eu já tentei. Fora outras coisas que pelo conteúdo e abordagem eu rejeito mesmo. Meu dinheiro tem que ser investido naquilo que me interessa, afinal, há tanta coisa que eu realmente quero ler.

Olá!! Bom, eu procuro ver o tópico sem olhar o rumo que as publicações apontam, porque acho - sinceramente - forçado que eu (digamos, por exemplo) pegue uma publicação e exija dela um pleno feedback pelo fato de ser uma mulher leitora. Divergências à parte, o mangá voltado para as mulheres *de fato* supre um nicho de mercado que não havia. Claro, 20 anos atrás, o desenhista Yslaire trabalhava com a "linha clara", numa publicação de temática romântica; pouco depois disso, ele "rompeu" com a linha clara e iniciou uma sequencia de trabalhos autorais que - eu penso - tem muito mais a ver com um universo feminino do que masculino. Recomendo neste sentido - até por curiosidade sociológica - uma olhada na série Trois Vierges (Três Virgens: http://www.coinbd.com/bd/series/1131/trois-vierges.html )

Eu noto que existe uma natural resistência das leitoras européias de estender um olhar mais benevolente para a banda-desenhada. Emmanuel Lepage não decepciona quando libera geral um romance homossexual nas páginas da série de dois tomos "Muchacho" (http://www.bedetheque.com/serie-9206-BD-Muchacho.html)! XD Cena com direito a ambiente e borboletas voando ao redor do casal!! Claro, não tiro a razão das leitoras. Décadas aturando TimTim e similares acabam com qualquer um (e existe um movimento de séria crítica à estagnação da banda-desenhada, em alguns foruns belgas).

Voltando à pauta: concordo no que o mangá tem sempre algo para todo mundo! Foi o que me atraiu nele quando comecei a ler. Sou mulher e já estou no nicho de "mature reader". Bom, e eu sou brasileira, lembra? (www.astasia666.deviantart.com)

Como desenhista, fiz alguns trabalhos de ilustração junto a uma editora alemã, que publica mangá. Lá dentro fui gentilmente apontada mais ou menos como "aquela que vai na contramão" porque o meu trabalho já não tem o que eles enquadram como "visual de mangá". O ponto de que eles estão produzindo seu próprio material é muito interessante e muito forte. Mas há essa produção porque há mercado para isso, e o mercado valoriza esta produção. No Brasil, como uma vez comentamos, o publico ainda não parece pronto para dar valor ao que vem dele mesmo (quantas novelas já vimos na Globo, ambientadas na região Norte do Brasil?). Também espero - e talvez demore muito para acontecer - que esse processo de valorização e abertura interna ocorra.

Portugal apenas consome, poucas vezes esbarrei em material produzido lá, e as traduções são medonhas. A Espanha produz e exporta mão de obra (aliás, o Brasil também exporta. O desenhista Miguel, da série Mirkos, publicada pela Dargaud, é brasileiro). A Inglaterra é um enigma. A Itália fez cara feia, mas abriu os fumetti para o mangá, e se deixou influenciar. Se você visse como o visual dos mocinhos melhorou nos fumetti, ia concordar comigo!

Quanto ao Corto Maltese, eu vou ter de discordar veementemente! Hehehehehe É uma historia de aventura, e segue um molde mais clássico. Eu leio e sinto uma ressonância do que leio. Pelo menos vejo mais de mim em Corto Maltese do que na obra do Neil Gaiman! ^^'''' Mas claro, não é a minha obra favorita do Hugo Pratt. "A Macumba do Gringo" é muito melhor...

A propósito, eu estava lembrando de uma série, quando vi no seu profile que você é especialista em historia medieval. A série "Les Tours de Bois-Maury" ("Las torres del bosque Maury", na edição espanhola) é uma série de 12 volumes, com uma reconstituição de época quase doentia e impecável do período medieval. (http://www.bedetheque.com/serie-1091-BD-Tours-de-Bois-Maury-(Les).html). Porém, em termos narrativos, e principalmente porque o autor tem um enfoque mais feminino, "Les Compagnons du crépuscule"
(Los Compañeros del Crepusculo na edição espanhola http://www.bedetheque.com/serie-109-BD-Compagnons-du-crepuscule-(Les).html) é bem superior.

Ô, Astásia, por que você não assinou? Mandando um monte de páginas francesas e falando "banda desenhada" eu realmente achei que não era uma brasileira. :P Você me enganou! Estou de mal!

Enfim, o que eu quero dizer é que quadrinho ocidental para mulheres inexiste enquanto nicho. E a Trina Robbins tem livros excelentes falando disso nos EUA. É nadar contra a corrente e nesse sentido o mangá veio suprir, sim. Mostrando para as meninas que elas podem ser consumidoras e produtoras dos seus próprios quadrinhos.

Quanto ao quadrinho romântico. Sabemos que shoujo não é só romance é bem mais que isso. Basta pegar gente como Hagio Moto ou até mesmo algumas autoras contemporâneas.

Quanto ao ser mulher leitora, bem, se um autor não se preocupa comigo como consumidora, eu posso até gostar dele, mas se não gostar, o ônus é de quem produz o material. E boa parte do material em HQ feito no Ocidente ignorava as meninas e mulheres leitoras. Há o quadrinho infantil, por assim dizer, e depois as mulheres pegavam carona em obras que muitas vezes tinham um recorte até misógino. Mas na falta do que ler...

Bem, gosto é gosto e Corto Maltese não precisa de mim como leitora para ser considerado quadrinho de primeira linha. Gosto de Sandman, mas não me enche os olhos também. Dos americanos é Will Eisner quem nunca me decepciona em roteiro ou em narrativa. Genial sempre.

Falando em desenhistas francesas, tem umas meninas que colocam material no Deviantart que são excelentes e não tem influência mangá. Só não sei se se dedicam a fazer quadrinhos de verdade ou só mesmo ilustrações.

E o Brasil, bem... Vamos torcer para daqui dez anos as coisas estejam melhores. ^_^

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