terça-feira, 24 de julho de 2007

Vôo JJ 3054 da TAM: 1 SEMANA


Não, você não entrou no blog errado. Este é um blog sobre shoujo anime e mangá, porém pertence a uma cidadã brasileira que paga os impostos e se sente abandonada pelo poder público e mal atendida pelas empresas privadas. Lucro vem em primeiro lugar, corrupção impera e a vida das pessoas não vale nada. Por isso, dezenas de famílias estão chorando e outras tantas ainda vão chorar. Se você não é solidário, não se importa, ou acha uma bobagem discutir a questão, pode parar aqui. E se for até o fim e continuar sentindo o mesmo, não precisa deixar comentário, como dona do blog, garanto a você que ele não será publicado. Então não precisa gastar as energias.

Faz uma semana que a tragédia com o avião da TAM aconteceu. As versões são conflitantes, as autoridades fogem às suas responsabilidades. Não foi acidente, foi crime, como o colunista da Folha de São Paulo, Francisco Daudt, escreveu no dia 19. As manchetes do dia 18, para sewrem verdadeiras, deveriam ser "GOVERNO ASSASSINA MAIS DE 200 PESSOAS". Afinal, dias depois, mesmo a pista sendo "segura", as empresas aéreas dizem se recusar a pousar lá com chuva, logo... Só que a inércia persiste, já vi gente dizendo que foi somente um acidente e que todo dia morrem milhares de crianças na África sem que ninguém dê conta. Cada vida faz diferença, mas sei que este tipo de resposta é característico da cultura do "deixa disso" brasileira. Sempre há um problema pior que, claro, eu não posso resolver, logo, deixa prá lá, continuo a minha vidinha...

Uma semana depois, a diretoria da ANAC, INFRAERO, o Comando da Aeronáutica (*para quem a culpa é sempre dos controladores*), o assessor que comemorou o defeito na aeronave com gestos obscenos, todos continuam nos seus lugares, ganhando seus gordos salários. Gosto de voar para Congonhas, acho emocionante, verdade, mas não quero ser um cadáver em potencial, porque o poder público gasta 20 milhões vindos dos nossos impostos e não conserta a pista. Voar exige segurança, para dizer o mínimo. Nos últimos meses, o que vemos, quando mostram os aeroportos lotados e os passageiros desamparados, é a mesma situação dos hospitais públicos (*já freqüentei vários*) e outros lugares freqüentados pelas camadas mais pobres da população. Interessante é ver que as classes médias e além também se submetem ao mesmo ordálio e reclamam também da boca para fora, pois se sentem impotentes. Não há muita esperança, brasileiros e brasileiras parecem todos iguais afinal.

Enquanto isso, Miriam Leitão no Bom Dia Brasil diz que a saída é aumentar as passagens e que fechar Congonhas é economicamente inviável. Como as indenizações no brasil são muito baixas e demoram anos a serem pagas, é possível arriscar a vida dos cidadãos e cidadãs sem medo de perda de lucros. Tivéssemos trens rápidos, não seria problema ir do Rio até São Paulo, ou interligar o centro econômico do Brasil até seus aeroportos. Mas falar em trem nesse país...

Ando esporadicamente de avião desde 1996, pouco depois do primeiro acidente da TAM, minha primeira experiência foi exatamente Porto Alegre-São Paulo-Rio de Janeiro. Voei com medo e meio sem alternativa, mas diziam que era o transporte mais seguro do mundo e no fim foi uma experiência maravilhosa. Gosto de voar mesmo tendo medo de voar. Mas agora penso nos riscos que venho correndo. Só que ninguém pensava antes (*ou quase ninguém, pois você pode pensar e ter suas idéias ridicularizadas*), não seriamente, até os últimos incidentes com os aviões da GOL e da TAM e a evidência do descaso das "autoridades".

Na segunda-feira, exatamente no mesmo percurso, talvez no mesmo avião e no mesmo horário, estava um amigo meu, um dos meus melhores amigos, uma das pessoas mais brilhantes que conheço. Talvez, se ele decidisse voltar um dia depois, ou se a tragédia se adiantasse, eu estaria chorando também, junto com outros tantos amigos, parentes, sua esposa e a filha.

Não preciso ser parente dos mortos para ser solidária, porque eu também tenho família. Não preciso ser parente dos mortos para sentir profundo desprezo pelos poderes públicos, porque também sofro e poderei sofrer os efeitos de seu descaso. O drama dessas famílias é o drama de uma nação que sofre com o descaso diário das autoridades. Só que, mesmo assim, 70% da população se diz "feliz". Não sei qual o motivo da felicidade. Para alguns, a felicidade se resume a vencer a Argentina no futebol. Isso basta! Mas, talvez o jogo do contente tenha exatamente a ver com a comparação com o pior do mundo, "morrem milhares de crianças de fome na África”. Poxa, então as coisas não andam tão mal assim por aqui, não é mesmo? E, afinal das contas, eu não sou parente de ninguém que morreu no acidente.

Quando vamos acordar? Quantos outros acidentes e tragédias vamos testemunhar?

3 pessoas comentaram:

Engraçado vc mencionar, mas minha primneira viagem de avião foi tb Rio-Congonhas-POA... Aliás, ano passado eu pousei em Congonhas duas vezes e foram dois pousos horríveis. O aeroporto estava em reforma. Tive que esperar meu outro vôo lá e odiei. Geralmente eu passava por Congonhas sem sair do avião. Enfim, parece que minha má impressão tinha lá sua razão.

Realmente o descaso das autoridades assusta. Nessa semana teve uma pane no controle aéreo daqui de Manaus, mas ninguém nem toca no assunto. Estavam voando às cegas, por ordem de autoridades militares; por providência divina não aconteceu algum acidente. Há o chamado "buraco negro" entre Manaus e Brasília, denunciado depois do acidente da GOL; não fizeram nada a respeito. E vão continuar inertes até Deus-sabe-quando, porém mesmo assim está tudo muito bem. O presidente acha isso. A população, ao que parece, também.

Na verdade, não fizeram porque a FAB nega que ele exista. Mas aquele grande acidente com o avião da VARIG anterior ao da GOL em vários anos é evidência da falta de contato de rádio... o piloto "se perdeu". Mas é a regra no braisl, jogo de empurra.

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