quinta-feira, 14 de junho de 2007

Pow! Romance! Comics Cortejam as Garotas



Traduzi uma matéria que saiu no Wall Street Journal falando do interesse feminino pelos mangás e de como a indústria de comics tem reagido a isso. Meus comentários estão nas notas. Sinceramente, acho que o autor está há léguas de entender o que está acontecendo.

Pow! Romance! Comics Cortejam as Garotas
Inspiradas pelos Mangás, as Grandes Editoras Americanas Miram em Novas Fãs do Sexo

Por MATT PHILLIPS

A nova onda de heróis nos quadrinhos parecerá mais com “Plain Janes” [1] do que com os X-Men.

Os peso-pesado da indústria, incluindo aí a Time Warner Inc.'s DC e a Marvel Entertainment Inc. estão apostando que as garotas representam uma grande oportunidade de crescimento para a a mídia que é tradicionalmente dominada por homens. Tudo isso é parte de um renovado impulso nos últimos anos por parte das duas gigantes dos comics de cortejar uma nova audiência com produtos abertamente direcionados ao publico de meninas adolescentes.

Os novos títulos são inspirados em parte no rápido crescimento dos quadrinhos japoneses chamados de mangás. Enquanto os temas sangrentos e violentos são o material dos mangás direcionados aos garotos, fantasia e roteiros românticos têm maior apelo junto às garotas e tem ajudado os mangás a capturarem as leitoras, uma audiência que as editoras de quadrinhos há muito tempo lutam por atrair. [2]

No mês passado, a DC Comics lançou um uma linha de quadrinhos originais, apelidados de Minx, que incluem “Te Plain Janes,” sobre um grupo de párias que formam uma “guangue secreta de artistas”. Outras graphic novels da Minx incluem “Re-Gifters,” – sobre uma menina coreana-americana entusiasta de artes marciais que se apaixona e sofre por um garoto que dá um presente que ela lhe deu para outra pessoa – e "Clubbing," que acompanha Charlotte "Lottie" Brook, uma garota londrina enviada para viver no pouco atraente country club dos avós após ser apanhada com uma identidade falsa em uma casa noturna chique de West End.

As editoras estão seguindo a liderança das editoras de mangás – como a Tokyopop de Los Angeles e a Viz Media de São Francisco, ambas quase empatadas – que conseguiram ser bem sucedidas em atrair as leitoras com um conteúdo atraente para as garotas e uma distribuição nos comic shops e nas grandes livrarias. O ICV2, que avalia tendências de mercado na área, estabeleceu que o mercado de quadrinhos e graphic novels rendeu no últimos anos cerca de 640 milhões de dólares nos estados Unidos e Canadá, com os mangás representando 200 milhões deste montante.

Os mangás estão se expandindo rápido. As vendas totais dos mangás subiram 22% para 9,5 milhões em 2006, sendo que perfaziam 7,8 milhões no ano anterior, de acordo com Nielsen BookScan, que coleta informações nos 6.500 pontos de venda dos EUA, incluindo os operados pelo Borders Group Inc. e Barnes & Noble Inc. A seção de mangá correspondia a dois terços (68.5%) de todas as graphic novels vendidas nas livrarias americanas, elevando-se do que era mais ou menos a metade (53.8%) em 2004, de acordo com Nielsen BookScan. (Essas estatísticas não incluem as comic shops.)

O crescimento rápido ajudou a convencer a DC de que era mais do que hora de dar atenção a uma base significativa de consumidores que são as adolescentes. [3] “Nos estamos de olho no sucesso dos mangás como um grande sinal de que as meninas estão realmente lendo quadrinhos outra vez,” disse Karen Berger, vice-presidente sênior da DC Comics responsável pela linha Minx.
“Garotas historicamente tendem a ler mais do que garotos, e o fato de não existir tanto material nos quadrinhos e graphic novels direcionadas às adolescentes antes deixa esse novo campo bem aberto.”

Ler mangá pode ser uma experiência diferente para os não iniciados. Publicados em formato de brochura, geralmente traduzidos do japonês, [4] lidos de cima para baixo da direita para a esquerda e custando aproximadamente 10 dólares. (Em alguns livros a primeira página lembra o leitor de que deve começar pelo final.) Mangá também tem um ritmo diferente e um estilo de contar a história diferente dos comics tradicionais. Por exemplo, ao invés de serem conduzidos pela ação que é pontuada por freqüentes cenas de luta, os títulos de mangá – especialmente os direcionados para garotas – geralmente dedicam um espaço significativo a incômodos silêncios, momentos embaraçosos e closes em olhos cheios de lágrimas. A amizade e o romance tendem a aparecer com destaque, mesmo em contraposição com um pano de fundo fantástico que inclua robôs, ninjas ou vampiros.

“Vampire Knight” publicado pela Viz segue as aventuras de Yuki Cross, que freqüenta um colégio interno cheio de vampiros. Cada página apresenta a sua justa medida de tiroteios e mordidas no pescoço. Mas mesmo neste ambiente, um complicado relacionamento emerge entre Yuki e Zero Kiryu – que são ambos responsáveis por proteger os alunos comuns do contingente de vampiros – e um alto, moreno e fascinante vampiro chamado Yuki and Zero Kiryu.

As convenções artísticas e técnicas dos mangás podem diferir bastante das usadas nos comics americanos. Por exemplo, personagens femininas nos mangás tendem a ser menos voluptuosas do que as super-mulheres dos comics. Essas curvilíneas personagens podem dificultar o relacionamento com as jovens leitoras, diz Nicole Lewis, uma leitora de mangá de 19 anos no seu segundo ano na Universidade de Massachusetts em Amherst. “É um pouco perturbador,” [5] Lewis fala de algumas personagens de comics. “Especialmente para mulheres jovens que não parecem com elas de forma alguma.” Lewis diz que ela gosta de verdade do fato das personagens femininas que estrelam os mangás serem geralmente garotas sem nenhum poder especial, que vestem roupas normais, freqüentam o colégio e estão tentando resolver alguns problemas de sua vida. “Elas não precisam ser mordidas por uma aranha ou serem de outro planeta,” ela diz.

A DC Comics tem uma linha de mangás, chamada CMX, que é traduzida do japonês. [6] A nova série Minx irá imitar a aparência geral e o preço dos mangás. Mas Berger enfatiza que os livros serão feitos com os leitores americanos em mente. Eles lêem de forma padrão, da esquerda para a direita. E eles serão escritos em inglês, não traduzidos. [7]

Por enquanto, a grande rival da DC, a Marvel, também está mirando nas leitoras, embora com estratégia diferente. Ao invés, de começar uma linha separada dedicada a esse público, a companhia tem contratado roteiristas conhecidos por terem uma audiência feminina já estabelecida. No formato, esses quadrinhos serão mais parecidos com as tradicionais revistas dfe super-heróis, mas a estratégia da companhia também envolve reencadernar o material em formato hardcover ou graphic novel.

No ano passado, a Marvel lançou a série “Anita Blake, Vampire Hunter” de quadrinhos, baseada na série de romances de Laurell K. Hamilton que é muito bem vendida. A personagem título persegue criminosos em um ambiente underground de St. Louis muitas vezes recheado de vampiros. A série se mostrou popular entre as mulheres e trouxe uma série de novas leitoras para a Carol & John's Comic Book Shop em Cleveland, diz o co-proprietário John Dudas. “Elas apareceram do nada,” disse Dudas.

A Marvel já havia contratado outros escritores populares entre as mulheres antes. Em 2006, a Marvel começou a publicar a minissérie sobre a personagem Tempestade, uma mutante membro dos X-Men que foi escrita pelo novelista Eric Jerome Dickey. Antes disso, a Marvel contratou Joss Whedon, o criador da cultuada série de televisão “Buffy, a Caça Vapiros,” para escrever o título da Marvel "Astonishing X-Men", em parte por causa da sua popularidade entre o público feminino. Estes movimentos tem sido parte de um esforço da Marvel nos últimos três anos de tentar novas estratégias para atrair leitores para os seus títulos, diz David Gabriel, vice-presidente sênior de vendas e circulação da editora. “Antes disso, o pensamento era, se você produzir ‘She-Hulk’ vai atrair as garotas,” ele disse.

Essa movimentação para atrair as leitoras veio em um momento dos mais saudáveis da recente memória da indústria de quadrinhos. Em 2006, as vendas em dólar da distribuidora principal a Diamond Comics cuja especialidade são quadrinhos cresceu 15% – o maior salto desde que o ICV2 começou a monitorar as vendas do setor de comic-and-hobby em 2001. No ano passado o rendimento do setor editorial da Marvel Entertainment – que inclui venda em livrarias e comic shops – subiu 17% atingindo 108.5 milhões. (A Time Warner não revela os números da DC.) [8]

O comprador da Barnes & Noble, Jim Killen, diz que as vendas de mangás são aproximadamente divididas meio a meio entre os sexos. O que é muito diferente da audiência tradicional dos comics, dominadas por consumidores do sexo masculino. “Nós queremos que todos os nossos clientes compreendam que não se trata de um clube exclusivo para alunos de faculdade do sexo masculino,” diz Cliff Biggers, dono da Dr. No's Comics & Games em Marietta, Ga. “Há material para todo mundo. E é isto que nós enfatizamos sempre.” [9]


[1] “Plain Jane” é o nome de um quadrinho Americano, mas, também, é uma gíria que quer dizer garota ou mulher comum, normal, sem nada de especial.
[2] Mentir é feio. Até o boom dos mangás poucos esforços tinham sido feitos para atrair a audiência feminina, na verdade, a indústria de quadrinhos americanas age desde os anos 60 como se as adolescentes e mulheres não existissem. Basta ler os livros de Trina Robbins ou o Reinventando os Quadrinhos de Scott MacCloud.
[3] Agora começamos a falar a verdade. Dinheiro, dinheiro perdido, porque os mangás mostraram que meninas também lêem quadrinhos desde que eles sejam feitos pensando em seus interesses.
[4] Se são japoneses... De qual língua deveriam ser traduzidos?!
[5] Ou desagradável, ou nojento, ou... Bem, são as definições de “off-putting” do site http://www.dictionary.com/
[6] Deus do céu! Mangás deveriam ser traduzidos de qual língua?!
[7] Poderia ser diferente, se são americanos? Parece que o autor do texto se preocupa muito em pontuar esse tipo de questão.
[8] O que indica que eles não continuam precisando do público feminino ao que parece. Afinal, tudo vai muito, muito bem.
[9] Falar é fácil... Ofereçam algo que as adolescentes queiram ler, escrito por mulheres ou gente que entenda o público feminino, com personagens femininas que não estejam lá para oferecer somente fanservice. Talvez assim, quem sabe...

3 pessoas comentaram:

legendas [4] e [6]: Talvez ele esteja tentando destacar os mangás japoneses dos mangás coreanos (manhwas) e mangás chineses (manhuas)...

Sinceramente? Acho que não. Se não porque enfatizar que a linha da DC, feita nos EUA seria em inglês e não material traduzido? Ou então, porque falar de sentido de leitura? Isso não se aplicaria ao material coreano, por exemplo.

Bom, eu gosto muito de comics, sempre gostei, mas não do material tradicional, de super-heróis e tudo mais.
Gosto de coisas alternativas, Vertigo, Fábulas... e muitas garotas que eu conheço também.

Acho que é um material realmente bom e por isso mesmo tem mulheres sem ser como fanservice, tem uma identificação com seus leitores. Não é meramente lutas e seios.
Não vende horrores, principalmente por ser um material mais adulto, menos palatável.
Mas acredito que esse seria um caminho mais fácil para os comics conquistarem o público feminino do que simplesmente fazer "mangás americanos". Não é uma questão do formato. É fazer histórias verdadeiras e belas, simplesmente.

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