Comprei ontem Deja-Vu da Panini aqui na Kingdom Comics de Brasília. Havia Gravitation também, mas gostei do que li sobre o Deja-Vu e não foi difícil decidir apesar do dinheiro a mais que tive que desembolsar. O autor é Youn In-Wan mas o volume traz desenhistas - não sei se todos homens, não descobri ainda - com estilos bem diferentes e com as quatro primeiras histórias tendo por nome uma das estações do ano. A graça de uma antologia é exatamente a diversidade e os vários desenhistas, alguns mais ao meu agrado que outros, claro.
Li as duas primeiras e mantive o meu estranhamento em relação ao quadrinho coreano. Minha sensação é que "falta alguma coisa" e que ninguém venha dizer que é preconceito, porque li parte de algumas obras, logo, é conceito estabelecido, opinião formada com base na avaliação de algum material publicado ou em forma de scanlations. Posso mudar de idéia, claro, mas estímulo para ler material coreano eu não tenho. Só que há um detalhe a relatar, tinha acabado de ler Contrato com Deus de Will Eisner. OK, depois de ler Eisner não é muito fácil descer tão rapidamente, é um outro nível de discussão e mesmo em se tratando de mangá, eu teria que escolher a dedo para dissipar essa sensação de perda. Mas voltando à Deja-Vu.
Primavera de Yang Kyung-Il é uma história que se passa em 673 e acredito que a Coréia estivesse dividida em clãs que lutavam entre si. Meu conhecimento de história coreana é quase zero e a situação do protagonista no início trouxe ecos das lutas de Chonchu (*só para lembrar de um quadrinho coreano que eu acompanhei*). O protagonista é expulso do clã porque transgrediu às regras sociais. O princípio de voltar vitorioso ou morto que vigorava também na grega Esparta. Ele então se torna um pária e se sente indigno de usar o nome de seu clã. Interessante, ao que parece os indíviduos declinavam o nome do clã e depois o seu próprio, não sei se na mesma ordem que os japoneses fazem, isto é, nome de família e depois prenome. Dada a importância da coletividade, acredito que devesse ser assim. O rapaz errante salva uma raposa branca que caíra em uma armadilha, mesmo que tivesse sido ensinado que esses animais eram mágicos - bruxas - e deveria ser mortos. Mas ele decidira que nunca mais voltaria a matar na vida. Outra regra cultural que ele transgride. A raposa, um filhote, realmente é mágica, e volta para visitá-lo na forma de uma bela e encantadora moça, alegre e inocente, que parece adulta e criança ao mesmo tempo. A raposa era pouco mais que um filhote. Ele não desconfia da sua origem, os dois se apaixonam, mas transgredir tantas regras e esperar a felicidade em uma sociedade como aquela é desejar demais. A história é sensível, bonita, simples e bem desenhada, sem exageros de SD, embora eles apareçam. Digo que gostei, mas ela nada teve de excepcional.
Verão de Yoon Seung-Ki se passa em 1945 em uma prisão em Fukuoka. Uma médica militar de 24 anos com patente de capitã se apaixona por um prisioneiro político coreano que tentara o suicídio mesmo às vésperas de ser libertado. Pois bem, poderia ser uma história séria que discutisse a política japonesa em relação aos seus vizinhos, fonte até hoje de grandes ressentimentos, mas não é. A médica parece uma daquelas heroínas de shoujo mangá mediano que só pensa em agarrar um namorado, acredita em destino e se apaixona à primeira vista, ou mesmo shounen com aquela menina que faz tudo apra agradar só para no final ficar sem mesmo receber um beijo. Ela não usa uniforme, usa cabelo solto, tem ar infantil, está mais preocupada com seu batonzinho que com a guerra e trata os outros oficiais com uma familiaridade perigosa. Eu trabalho em uma instituição militar, existe subserviência e discriminações, mas nenhuma oficial se comporta assim. O comportamento da moça, que lá pelas tantas decide desfilar de quimono no trabalho e convence (*SDs e piadinhs visuais*) o diretor a deixá-la levar o prisioneiro para passear, é ridículo. Lembrei-me de um filme gay israelense, Yossi & Jagger ("Delicada Relação", em português) que é muito sensível e humano ao apresentar o romance gay entre dois oficiais e criticar o serviço militar compulsório do país, mas mostra as mulheres - também obrigadas ao serviço militar - como servis, caçadoras de maridos ou amantes de oficiais de alta patente e não como profissionais que estão lá para fazer o seu trabalho e são respeitadas por isso. Voltando ao Verão de Deja-Vu, a protagonista kawai, joga por terra toda a seriedade do plot, mesmo que tudo tenha um desfecho trágico e exista à crítica à truculência dos japonesas, a capitão médica é tão ridícula e a história de amor tão inverossímel que quase tudo se perde. Difícil acreditar que o conto original fosse pelo mesmo caminho.
Faltam agora o Outono e o Inverno, mas as histórias extras. Mas falei que li Contrato com Deus e recomendo. Eisner é genial e muitas coisas dele estão disponíveis em português e talvez em sebos os preços sejam mais acessiveis. Leiam as histórias e depois a introdução, assim a leitura não fica direcionada, afinal, ela foi escrita depois e o autor está avaliando a obra e a si mesmo. Eu gostei muito, mas nunca li nada de Eisner que não em encantasse, única crítica é que ele diz que foi o primeiro a trabalhar questões tão profundas e sérias em quadrinhos com a sua graphic novel (*ele diz que inventou o termo e eu acredito*) de 1978 Nos EUA, talvez, mas no Japão a coisa já era exercitada havia muito tempo por autores e autoras de mangá.
Primavera de Yang Kyung-Il é uma história que se passa em 673 e acredito que a Coréia estivesse dividida em clãs que lutavam entre si. Meu conhecimento de história coreana é quase zero e a situação do protagonista no início trouxe ecos das lutas de Chonchu (*só para lembrar de um quadrinho coreano que eu acompanhei*). O protagonista é expulso do clã porque transgrediu às regras sociais. O princípio de voltar vitorioso ou morto que vigorava também na grega Esparta. Ele então se torna um pária e se sente indigno de usar o nome de seu clã. Interessante, ao que parece os indíviduos declinavam o nome do clã e depois o seu próprio, não sei se na mesma ordem que os japoneses fazem, isto é, nome de família e depois prenome. Dada a importância da coletividade, acredito que devesse ser assim. O rapaz errante salva uma raposa branca que caíra em uma armadilha, mesmo que tivesse sido ensinado que esses animais eram mágicos - bruxas - e deveria ser mortos. Mas ele decidira que nunca mais voltaria a matar na vida. Outra regra cultural que ele transgride. A raposa, um filhote, realmente é mágica, e volta para visitá-lo na forma de uma bela e encantadora moça, alegre e inocente, que parece adulta e criança ao mesmo tempo. A raposa era pouco mais que um filhote. Ele não desconfia da sua origem, os dois se apaixonam, mas transgredir tantas regras e esperar a felicidade em uma sociedade como aquela é desejar demais. A história é sensível, bonita, simples e bem desenhada, sem exageros de SD, embora eles apareçam. Digo que gostei, mas ela nada teve de excepcional.
Verão de Yoon Seung-Ki se passa em 1945 em uma prisão em Fukuoka. Uma médica militar de 24 anos com patente de capitã se apaixona por um prisioneiro político coreano que tentara o suicídio mesmo às vésperas de ser libertado. Pois bem, poderia ser uma história séria que discutisse a política japonesa em relação aos seus vizinhos, fonte até hoje de grandes ressentimentos, mas não é. A médica parece uma daquelas heroínas de shoujo mangá mediano que só pensa em agarrar um namorado, acredita em destino e se apaixona à primeira vista, ou mesmo shounen com aquela menina que faz tudo apra agradar só para no final ficar sem mesmo receber um beijo. Ela não usa uniforme, usa cabelo solto, tem ar infantil, está mais preocupada com seu batonzinho que com a guerra e trata os outros oficiais com uma familiaridade perigosa. Eu trabalho em uma instituição militar, existe subserviência e discriminações, mas nenhuma oficial se comporta assim. O comportamento da moça, que lá pelas tantas decide desfilar de quimono no trabalho e convence (*SDs e piadinhs visuais*) o diretor a deixá-la levar o prisioneiro para passear, é ridículo. Lembrei-me de um filme gay israelense, Yossi & Jagger ("Delicada Relação", em português) que é muito sensível e humano ao apresentar o romance gay entre dois oficiais e criticar o serviço militar compulsório do país, mas mostra as mulheres - também obrigadas ao serviço militar - como servis, caçadoras de maridos ou amantes de oficiais de alta patente e não como profissionais que estão lá para fazer o seu trabalho e são respeitadas por isso. Voltando ao Verão de Deja-Vu, a protagonista kawai, joga por terra toda a seriedade do plot, mesmo que tudo tenha um desfecho trágico e exista à crítica à truculência dos japonesas, a capitão médica é tão ridícula e a história de amor tão inverossímel que quase tudo se perde. Difícil acreditar que o conto original fosse pelo mesmo caminho.
Faltam agora o Outono e o Inverno, mas as histórias extras. Mas falei que li Contrato com Deus e recomendo. Eisner é genial e muitas coisas dele estão disponíveis em português e talvez em sebos os preços sejam mais acessiveis. Leiam as histórias e depois a introdução, assim a leitura não fica direcionada, afinal, ela foi escrita depois e o autor está avaliando a obra e a si mesmo. Eu gostei muito, mas nunca li nada de Eisner que não em encantasse, única crítica é que ele diz que foi o primeiro a trabalhar questões tão profundas e sérias em quadrinhos com a sua graphic novel (*ele diz que inventou o termo e eu acredito*) de 1978 Nos EUA, talvez, mas no Japão a coisa já era exercitada havia muito tempo por autores e autoras de mangá.
1 pessoas comentaram:
o melhor man-hwa tankohon já feito...
simplismente fantastico!
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