terça-feira, 1 de maio de 2007

Shoujo - Falta investimento aos fãs do gênero?



Uma menina criou um tópico com esse título na comunidade da Neo Tokyo no Orkut. Para quem não sabe, a Neo Tokyo é uma revista sobre cultural pop japonesa, anime, mangá e outras coisinhas mais. Nesse sentido, acredito que vale a pena trazer apra cá aquilo que eu postei por lá. Afinal, a discussão tem dois eixos, o primeiro é que se publica pouco shoujo no Brasil, coisa com a qual concordo, o segundo, é que é preciso produzir shoujo no Brasil, coisa que não me parece viável, embora acredite que as meninas brasileiras têm tudo para produzir quadrinhos influênciados por mangá e por shoujo em particular. Bem, eis o que eu disse, com algumas correções:

Acredito que exista uma grande desproporção nos lançamentos de shoujo mangá no Brasil, já disse isso em matérias, colunas, listas de discussão, no meu site, aqui no blog, em todo lugar. O que normalmente acontece é que com o tempo as coisas se equilibrem, isto é, o maior número de lançamentos será sempre de shounen mangá, mas haverá espaço para outros gêneros, com um maior número de shoujos licenciados. De qualquer forma, mesmo em países como a Espanha, a desproporção ainda é grande, conforme investigação feita pelo pessoal do site
Missión Tokyo.

Em todo caso, é perceptível o aumento no número dos licenciamentos de shoujo mangá, até o momento. Foram anunciados mais shoujos para 2007 do que em todo ano de 2006 e talvez 2005 juntos: ParaKiss, Settai Kreshi, Vampire Knight (não-oficial), Princess Princess (não-oficial), Bijinzaka. É um avanço, eu diria, mas há um longo caminho para que tenhamos mais quadrinhos feitos por mulheres para mulheres (shoujo, josei, yaoi etc) nas bancas.

Devemos pensar também que é preciso dinheiro para comprar mangás e que o brasileiro em média ganha mal, muito mal, fora que boa parte do público consumidor vive de mesada. Querem ver: O salário mínimo nos EUA é de U$750 e os preços dos mangás oscilam entre U$7 e U$12 em média. No Brasil o salário mínimo é de R$350 e os preços oscilam entre R$7 e R$14. No bolso de quem vai pesar mais? É preciso que os lançamentos contemplem o máximo de público possível, mas é preciso que as editoras tenham lucro. Lançar para encalhar, não tem graça, nem para as empresas, nem para os consumidores. Se você comprar só os shoujos no mercado hoje você gastará em média trinta reais.

Quanto à shoujos nacionais, bem, o mangá em geral tem feito com que mutias meninas se interessem por fazer quadrinhos, se vejam como possíveis autoras em um país no qual até pouco tempo não eram vistas nem como consumidoras. Nesse sentido o material do Estúdio Seasons me parece muito promissor. Agora, se for para pegar pseudo-shoujo brasileiro imitando novela da Globo ou imitando mesmo os clichês mais rasteiros de mangá, bem, vai ficar na prateleira. Não gastaria meu dinheiro com isso.

Aliás, eu não leio por buscar identificação com pessoas, lugares e hábitos, leio quando acho que a história é boa, vale a pena, o traço me atrai e o olhar do autor ou autora me contempla. Não me sinto atendida por Sanctuary, por exemplo, mas acho o Lobo Solitário uma série que toca em questões humanas e históricas que me interessam. São materiais para um mesmo público e esse público não é feminino, mas um me agrada, outro, não. O mesmo vale para o shoujo. Fuyumi Souryiou e Chiho Saito me agradam, Shinju Mayu e muito do que a CLAMP produz, não. O olhar feminino é importante, mas não necessariamente vai ser um olhar que se afine com o meu. Isso não basta.

Estou lendo Earthian de Yun Kouga e não sou anjo, nem aspiro ser, não tenho como me identificar com anjos andróginos extra-terrestres, mas as questões levantadas na série são das mais interessantes e nenhum dos "casos" se passa no Brasil, nem precisa para atrair a atenção dos leitores. Agora, isso quer dizer que tudo que Yun Kouga faça será atraente para mim por ser shoujo, por ter um "olhar feminino"? Não. Loveless não me interessa, não me agrada em sua metáfora grosseira que junta pares de orelhas e virgindade e eu não recomendaria salvo pela arte. Essa questão de identificação sempre me dá medo, pois parece que buscamos enfiar as pessoas em forminhas e empurrar produtos parecidos, porque se espera que todos pensem ou sintam igual, dentro de uma mesma classe, sexo, etnia, região etc.

Dito isso, uma garota pode não gostar de material feito para garotas. É legítimo e normal; o que não é coerente é dizer que não gosta sem ter lido, ou lido somente meia dúzia de títulos quando existem milhares de séries shoujo e josei mangá e dizer "Shoujo é ruim" ou "Shoujo é isso ou aquilo". Não cola, é papo furado, coisa de gente desinformada e, não raro, mal intencionada. Nesse sentido, acho que a Elza fez diferença na Panini. Ela conhece shoujo, ela tem condições de escolher, coisa que os meninos que cresceram lendo Marvel, DC e no máximo um ou outro shounen mangá ou um Lobo não conseguem fazer.

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