Está neste endereço aqui, mas aviso que demora uma eternidade para que o cadastro seja liberado. A mesma entrevista está na página do autor, em inglês para quem quiser ler. Agradeço ao site The2Moons que colocou o link para a entrevista em inglês.
ANIMES (12/7/2006)
Mangá: a “invasão” dos quadrinhos japoneses
Dellano Rios
da editoria do Caderno 3
Às vésperas da realização da sexta edição do Sana – Super Amostra Nacional de Animes, chega ao Brasil “Mangá: como o Japão reinventou os quadrinhos” (Conrad Editora), do jornalista inglês Paul Gravett. O livro traz um panorama dos últimos 60 anos da produção nipônica de HQs e detalha algumas das facetas deste período. Confira uma entrevista exclusiva com o autor
Autoridade no mundo dos comics, Paul Gravett passa longe do pensamento reacionário que abomina a expansão do mangá no Ocidente. Editor, curador e jornalista especializado na área, Gravett nasceu para profissão em meio grandes nomes das HQs inglesas (no começo dos anos 80, os gênios Neil Gaiman e Dave McKean publicaram em sua revista, a Escape Magazine). Ainda assim, foi um dos primeiros especialistas importantes a abraçar a “causa” dos quadrinhos japoneses na Grã-Bretanha. Seu mais recente livro, “Mangá” ganha edição nacional pela editora Conrad. Fartamente ilustrado, o livro examina o surgimento de uma indústria poderosa, responsável por aproximadamente 40% de todo o material impresso no País.
Zoeira - Em seu livro, você afirma que os ingleses costumam definir o mangá como uma forma de quadrinhos repleta de sexo e violência. No Brasil, fala-se que são revistas demasiado tolas. Por que é tão difícil entender e aceitar os quadrinhos japoneses?
Paul Gravett - As HQs vêm sendo associadas com o universo infantil por tanto tempo que algumas pessoas acham que a mídia inteira é adequada apenas aos jovens e ignorantes. Nenhum outro meio, nem mesmo a animação, foi tão depreciado e mal compreendido por tanto tempo O mangá, especificamente, está sendo criticado por ser um estrangeiro, um “invasor” (alien) que se tornou uma novidade e uma subcultura para as pessoas jovens. Os quadrinhos usam uma interação muito sofisticada de imagens e palavras e requer um leitor ativo, não um observador passivo, como no caso da TV e do cinema.
— Apesar das críticas e dos comentários preconceituosos, o mangá possui uma legião expressiva de fãs. Porque esse tipo de HQ está se tornando tão popular em países como a Inglaterra e o Brasil?
Paul Gravett - Em muitos países, o editores de quadrinhos não davam muitas opções aos jovens. Eles foram lentos em mudar seus estilos, temas e fórmulas. As meninas e as mulheres, especificamente, encontravam um limitado leque de ofertas que as pudesse interessar. O mangá chegou para cativar toda essa geração, além de oferecer um mundo de histórias indescritíveis e complexas, diferente dos quadrinhos que seus pais liam. O fato de pais e professores não compreenderem o mangá, e até mesmo se aborrecerem e se irritarem com ele, apenas reforça sua atração especial para os jovens, que querem ter sua própria cultura de quadrinhos.
— Quais mudanças podem ser observadas nas HQs ocidentais após a ´invasão´ do mangá?
Paul Gravett - Superficialmente, podemos ver algo como “estilo mangá” sendo adotado pelos quadrinhos ocidentais - olhos grandes, cabelos compridos, linhas de movimento, leiaute dinâmico dos quadros. Mas, normalmente, essas são apenas imitações superficiais de uma visão muito redutora do mangá - e, mais especificamente, os mangás de ação e ficção-científica e seus equivalentes nos desenhos animados japoneses.
— Quais as principais conseqüências dessa invasão?
Paul Gravett - O verdadeiro impacto do mangá nos quadrinhos ocidentais vai ainda mais longe que o desenho. Em tese, faz desenhistas e roteiristas pensarem em novos caminhos para suas histórias e técnicas narrativas, além de levá-los a questionar e, talvez, até rejeitar os clichês e as convenções mais antigas do meio. O mangá mostra que todos os tipos de desenho e assunto são possíveis nas HQs e encoraja que se façam narrativas mais longas, complexas e sutis. O impacto global do mangá será tão massivo quanto o impacto global no começo do século XX causado pelas tiras dos jornais e revistas em quadrinhos norte-americanas.
— A julgar pelas tendências atuais - nos sentidos estético e mercadológico - como será o futuro dos quadrinhos japoneses?
Paul Gravett - Parece que o mercado japonês do mangá está se recuperando depois de um período difícil de recessão na década de 1990. Atualmente, os editores estão vendendo bem seu material em todo o mundo. Esteticamente, estou entusiasmado para ver mais ilustrações menos convencionais; temas emergindo de novo e uma ênfase em histórias e caracterizações consistentes e originais. Para mim, outra questão importante de se pensar é se o mangá japonês vai se manter no comando, já que outros países, como a Coréia, Taiwan e China, também estão participando do mercado. Recentemente, um dos mestres do mangá, Baron Yoshimoto, afirmou que o futuro do mangá não está no Japão, mas no Ocidente - talvez no Brasil. E ele está ansioso para ver o que os quadrinhistas ocidentais - inspirados ou aprendendo com o mangá - vão produzir no futuro.
— Em sua opinião, quem são os melhores criadores de mangá no Japão? Quais são seus personagens favoritos?
Paul Gravett - Eu tenho vários e descubro novos o tempo todo. Dentre as histórias mais recentes, estou curtindo muito: “Death Note”, “Dragon Head”, “Nana”, “Brother”, “Cromartie High School”, e qualquer trabalho novo de Jiro Taniguchi, Junko Mizuno, Hideji Oda, Taiyo Matsumoto e Kiriko Nananan. Mas é claro que também amo clássicos, como “Buda” (publicado no Brasil pela Conrad) e “Fênix”, do Deus do mangá, Osamu Tezuka; o trabalho dos gênios Yoshiharu Tsuge e Yoshiharo Tatsumi; e as histórias de horror de Kazuo Umezu, o Stephen King do mangá. Lá fora, há uma grande diversidade de títulos e nós, do Ocidente, estamos vendo apenas uma fração desse universo do mangá. O melhor ainda está por vir!
SERVIÇO: “Mangá: como o Japão reinventou os quadrinhos”, de Paul Gravett, Conrad Editora, 183 pp., R$ 75,00
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