segunda-feira, 8 de maio de 2006

Destaque para Adolf na Folha de São Paulo


Não gostei da capa, esse ponto não posso deixar de ressaltar. Se remete diretamente a Hitler e isso poderia ser evitado pelas conotações diversas, seja de rejeição, seja de admiração, mas é um presente e tanto ter essa série publicada no Brasil. Comprei meu volume semana passada. Se você não pode comprar agora economize para fazê-lo mais adiante, afinal, como é vendido em livraria, dá para esperar um pouquinho.
O caso dos bustos de Wagner, que escondem um segredo fundamental à série, lembra um pouco a idéia básica do caso dos Seis Napoleões, um dos casos de Sherlock Holmes. quem não tem o caso em casa e lê inglês pode confirmar nesta página, ela tem todos os casos de Holmes disponíveis. Houve um descuido também com o alemão, frau e fräulein não são sinônimos, o primeiro se refere à mulher casada, o segundo, mulher solteira. A protagonista usa frau para se referir a amante do irmão, o tradutor disse que as duas palavras significavam a mesma coisa.
Nota: 9,8 (*desconto a capa de algum mal gosto*). Segue o texto da Folha

História em quadrinhos - "Adolf", série de Osamu Tezuka que tem seu primeiro volume lançado no Brasil, reconta a trajetória do cruel ditador com traços de mangá
ALEXANDRA MORAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais de duas décadas após seu lançamento no Japão, finalmente aparece no Brasil o primeiro volume da série "Adolf" (ed. Conrad, R$ 27,90), do mestre do mangá e pai do animê Osamu Tezuka (1928-1989).
Apesar da imagem da capa, que exibe uma tradicional imagem de Adolf Hitler em discurso exaltado, a história que Tezuka conta vai muito além do Adolf famoso e genocida. Não apenas por envolver outros dois Adolfs em sua narrativa mas também por ambientá-la em um cenário histórico ao mesmo tempo rico e perturbador.
Tezuka arma aí uma obra mais sombria do que suas criações mais famosas, como "Astro Boy" e "A Princesa e o Cavaleiro". Pelo tema espinhoso, "Adolf" está mais próximo de "Maus", o holocausto do cartunista Art Spiegelman, também dos anos 80, do que de seus irmãos animês. Em "Adolf", os destinos dos três homônimos se entrelaçam, tendo como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e os três anos que a antecederam.
Na Olimpíada de Berlim, em 1936, um jornalista japonês, Sohei Toge, se depara com um mistério: o assassinato de seu próprio irmão. Não bastasse isso, o cadáver é levado por autoridades alemãs e desaparece. Pois ainda era pouco mistério: tudo o que pertencia ao irmão de Toge havia sumido do apartamento em que morava. Para completar, o zelador do prédio e os vizinhos dizem desconhecer o fato de um japonês já ter morado lá.
Tudo que resta é um bilhete, com as iniciais "R. W." -que poderiam tanto ser de algum conhecido do irmão de Toge como também, cogita-se, do compositor alemão Richard Wagner. A hipótese aparece assim que o jornalista japonês, em meio a um discurso de Hitler, ouve a marcha da ópera "Tannhäuser", a favorita do Führer.
Os outros dois Adolfs aparecem alguns capítulos à frente, numa história quase invertida. Em vez de um japonês perdido num país em que pouca coisa parece fazer sentido, são dois pequenos alemães vivendo no Japão que também se deparam com problemas que parecem insolúveis.
Adolf Kaufmann, de 9 anos, apanha dos colegas japoneses por ser branco, e é salvo por outro Adolf - Kamil, "o filho do padeiro", que é judeu. O primeiro Adolf, no entanto, é filho de um funcionário do consulado-geral da Alemanha, nazista, que planejava mandá-lo para a Juventude Hitlerista tão logo fosse possível. Mas -aí não há grande mistério- os dois se tornam amigos, horrorizando suas famílias e tirando-lhes o sono por conta de outro bilhete, ainda mais estranho do que aquele de Toge.

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