sábado, 15 de abril de 2006

Só Para Garotas, Provavelmente...


Como J. K. Rowling é muito influente, certamente se colocar abertamente em relação a questão da ditadura da magreza é de grande valia. Palmas para ela, por abordar o assunto de forma clara e divertida, alertando as meninas para algo que pode destruí-las. Rowling parece realmente ter uma cabeça muito boa, gosto mais dela agora. O texto pode ser lido na página da autora em inglês e em espanhol. Segue a minha tradução para o português:



Só Para Garotas, Provavelmente...

Ser magra. Provavelmente não é um assunto sobre o qual você esperaria estar lendo neste website, mas minha recente viagem a London me fez refletir...

Começou no carro a caminho dos estúdios cinematográficos Leavesden. Eu passava o tempo durante a viagem lendo uma revista que exibia lindas fotografias de uma mulher muito jovem que ou estava muito doentes ou sofria de algum sério distúrbio alimentar (o que é, na verdade, a mesma coisa); de qualquer jeito, não há explicação para as formas do seu corpo. Ela pode falar que come muito, que tem uma vida bastante ocupada e que possui o metabolismo mais rápido do mundo até que sua língua caia (Oba! Mais algumas gramas iriam embora!), mas seu estômago côncavo, suas costelas à mostra e seus braços em forma de palito contam uma história diferente. Esta garota precisa de ajuda, mas, ao invés disso, com mundo sendo o que ele é, colocam sua foto na capa das revistas. Tudo isso passou pela minha cabeça enquanto eu lia a entrevista, então eu deixei aquela coisa horrível de lado.

Mas me derrube, se o assunto “garotas e magreza” não vier a tona tão logo eu desça do carro. Eu estava conversando com um dos atores e, de uma forma ou outra, nós entramos no caso de uma garota que ele conhece (não alguma das atrizes de Potter – mas alguém da sua vida além do filme) que tinha sido apelidada de “gorda” por algumas encantadoras colegas de classe. (Poderiam eles estar com inveja pelo fato dela conhecer o garoto em questão? Claro que não!) “Mas,” disse o ator, com honesta perplexidade, “ela não é realmente gorda.” “‘Gorda’ é normalmente o primeiro insulto que uma garota lança sobre a outra para feri-la,” Eu disse; eu poderia me lembrar de que isso acontecia quando eu estava na escola, e testemunhei isso entre as adolescentes que eu costumava ensinar. Todavia, eu pude perceber que para ele, um homem bem-ajustado, isto era um comportamento absolutamente bizarro, como chamar Stephen Hawking de “idiota”.

Sua confusão a respeito deste aspecto do cotidiano da existência feminina me lembrou o quão estranho e doentio usar a palavra “gorda” como ofensa é. Eu quero dizer, ser “gordo” é realmente a pior coisa que um ser humano pode ser? Ser “gordo” é pior do que ser “vingativo”, “ciumento”, “frívolo”, “vaidoso”, “chato” ou “cruel”? Não para mim; mas então, você pode retrucar, o que você sabe sobre a pressão para ser magra? Eu não estou em um negócio que me obrigue a ser avaliada pela aparência, que tem a ver com ser escritora e ganhar minha vida usando meu cérebro...

Eu fui ao British Book Awards naquela noite. Após a cerimônia de premiação, eu esbarrei com uma mulher que eu não via há pelo menos três anos. A primeira coisa que ela me disse? “Você perdeu muito peso desde a última vez que eu vi você!” “Bem,” eu disse, ligeiramente embaraçada, “da última vez que você me viu, eu tinha acabado de ter um bebê.” O que eu tive vontade de dizer foi, “Eu produzi meu terceiro filho e meu sexto romance desde a última vez que vi você. Essas duas coisas não são mais importantes, mais interessantes, do que o meu manequim?” Mas, não – minha cintura parece menor! Esqueça sobre a criança e o livro: finalmente, alguma coisa a celebrar!”

Então, o assunto medidas e mulheres estava (ha, ha) pesando na minha mente enquanto eu voava para casa em Edinburgh no dia seguinte. Uma vez nas alturas, eu abri o jornal e meus olhos caíram, imediatamente, em um artigo sobre a pop star Pink.

Seu último single, “Stupid Girls”, é um canção antídoto para tudo o que eu vinha pensando sobre mulheres e magreza. “Stupid Girls” satiriza todo o papo de ser palito de dentes sustentado pelas garotas como modelo; estas celebridades cuja maior realização é manter uma pintura de unha perfeita, cuja maior aspiração é ser fotografada em oito diferentes roupas por dia, e cuja única função no mundo parece ser sustentar o comércio de bolsas de mão super caras e cachorrinhos do tamanho de ratos.

Talvez isto tudo pareça engraçado, ou trivial, mas na realidade não é. Tudo isso tem a ver com aquilo que as garotas querem ser, o que é dito que elas devem ser, e o que elas sentem sobre o que são. Eu tenho duas filhas que terão que abrir caminho neste mundo obcecado por magreza, e isto me preocupa, porque eu não quero que elas se tornem cabeças-ocas, egocêntricas, clones sofrendo de desnutrição; Eu prefiro que elas sejam independentes, interessantes, idealistas, gentis, que defendam suas opiniões, originais, engraçadas – um monte de coisas muito melhores do que “magras”. E francamente, que elas não façam cara de nojo se a mulher ao seu lado tiver joelhos mais gordos que os seus. Deixem minhas garotas serem Hermiones ao invés de Pansy Parkinson. Que elas nunca sejam “Stupid Girls”. Fim do discurso.



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P.S.: Acho que "cara de nojo" - na antepenúltima linha - cabe melhor em português do que traduzir literalmente “fazer cara de quem levou uma lufada de flatulência de chihuahua”. Por isso fiz a troca.

1 pessoas comentaram:

Não li nenhum livro do Harry Potter e nem assisti todos os filmes...mas agora JK Rowling tem o meu completo respeito ^__^

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