Estréias 4: Princess Princess

Princess Princess é um anime baseado no mangá de Mikiyo Tsuda publicado na revista Wings. A história brinca com os fetiches das otome – como são chamadas as garotas otaku no Japão – o que significa meninos bonitos (bishounen), uma escola masculina, clima yaoi no ar, e, o toque inusitado, os garotos bonitos são obrigados a se vestir de menina, mais especificamente gothic lolitas. Não fosse a violência explicita da situação, caso exemplar de bullying/ijime, eu até poderia achar engraçado.

O básico da história é o seguinte Tooru Kouno é um aluno que chega transferido a um colégio masculino de elite (*a cena do ônibus lembra Gakuen Heaven*). Sabemos que ele mora com os tios, mas não o motivo da mudança de escola nem porque ele é obrigado a morar no dormitório. Enfim, há um pequeno mistério sobre o passado do rapaz que talvez seja revelado depois. Antes de entrar no prédio, Kouno vê uma linda garota pular de uma árvore, os dois se olham perplexos, mas a moça sai correndo quando ouve vocês masculinas gritando “hime” (princesa).

Kouno é bem recebido pelo diretor que elogia sua beleza e diz que ele será calorosamente escolhido. O rapaz fica mais ressabiado ainda quando descobre que o diretor (*com ar de pervertido*) estava certo. Os colegas de turma – todos desenhados de forma muito comum – ficam babando por ele. E o rapaz senta-se no fundo da sala ao lado de um garoto que parece uma garota. Aliás, esse menino e o presidente da turma recebem tratamento diferenciado.

Assim, antes que o dia termine, Kouno descobre que dormirá no P-Room (Princess-Room) para que seja protegido dos outros alunos e que foi selecionado pelos membros do conselho de estudantes – o presidente tem cara de pervertido também – para ser uma futura “hime”. Os escolhidos para serem princesas devem se vestir de garotas em situações especiais, trazendo alegria e beleza ao ambiente masculino. Recebem regalias e são protegidas (*vocês sabem bem do quê*).

E se recusar? Bem, além de se tornar um paria – e perder a proteção – o aluno é penalizado com perda de pontos e tudo o que puder tornar sua vida um inferno. Yutaka, a menina ruiva que Kouno viu, se submete ao trabalho de princesa. Já Shihoudani adora enfeitar o ambiente e ser útil para elevar a moral da escola.

OK, para quem curte é um prato cheio. Agora, sinceramente, uma história aonde a situação de violência – coação, possível estupro, e por aí vai – fica escondida por trás dos fetiches das fãs hardcore e do texto bem humorado não me agradam. Passa a idéia de que a situação a qual os meninos são submetidos é uma brincadeirinha inocente. Podem me chamar de moralista se quiserem, mas esse tipo de coisa é meio difícil de engolir para mim, claro, eu não sou público alvo, mas isso não me impede de opinar sobre o anime.

Esse tipo de violência contra os mais fracos é recorrente na literatura, no cinema (*o filme IF, por exemplo*) e mesmo em obras belíssimas como Kaze to Ki no Uta, mas quase sempre tratada com sensibilidade e seriedade. Mas os tempos são outros e, como comentei na coluna da semana passada, algumas histórias estão cada vez mais rasas. Até vou continuar vendo a série. Quero saber porque Kouno se mudou e torço por uma virada de mesa. Não acredito que isso aconteça. Enfim, o site oficial do anime é este aqui.