segunda-feira, 27 de março de 2006

Li Sade


Terminei de ler o tal Sade. Não ia comprar, mas como começaram a falar por aí de "influências shoujo", fui lá conferir. Sobre a arte e a narrativa, bem, Senno Knife está no nível fanzineira em treinamento-esforçada, por exemplo, todas as mulheres bonitas e jovens têm a a mesma cara, todos os homens maus do século XVIII têm a mesma cara. Pode ser também uma opção? Talvez. Afinal, a autora tem uma produção muito mais centrada no underground e no terror, onde, pelo menos o que eu vi até agora, não prima nem pelo traço, nem pela narrativa arrojada. O que foi dito sobre a influência do "shoujo clássico" é bobagem, fazer olhões e ambientar no século XVIII não fazem nada virar shoujo.

Eu nunca li o Marquês de Sade, confesso, embora tenha lido Ligações Perigosas e A Religiosa, mas tirando pelas três historinhas, eu não sabia que o sujeito era tão moralista. Os maus são sempre punidos, mesmo que os bons não tenham uma recompensa adequada não terminam lá tão mal assim. A mulher do caso do incesto, por exemplo, recupera de alguma maneira a filha e o marido sádico-pedófilo-e-tudo-mais-que-aparecer que termina arrependido e, muito provavelmente, temente a Deus. A baseada no conto dos Irmãos Grimm é uma versão do "Barba Azul", com muito sexo e a violência típica dos contos de fada antes deles serem depurados. De todas gostei mais desta, já que aprecio contos de fada em estado bruto, e da primeira, mas, certamente, todas ficariam melhores se fossem mais longas.

A história de "O", que é a única de autoria feminina, é a única realmente libertina, sem final moralizante, mas de quebra é a que mais cai nos clichês da pornografia machista rasteira "toda mulher, no fundo, no fundo, gosta de apanhar e quer ser escravizada". Cogita-se que o "O" além de ser de Odile, também represente "objeto" ou "orifício" que é aquilo no que a protagonista é transformada. Achei um comentário interessante sobre a autora, que mostra bem para quem e para quê ela escreveu "A História de 'O'":

Her lover and employer, Jean Paulhan, had made the chauvinistic remark to her that no female was capable of writing an erotic novel. To prove him wrong she wrote a graphic, sadomasochistic novel that was published under the pseudonym "Pauline Réage" in June of 1954. Titled Histoire d'O (The Story of O), it proved Paulhan wrong and was an enormous, though controversial, commercial success. The book caused much speculation as to the identity of the author. Many doubted that it was a woman, let alone the demure, intellectual, and almost prudish, Dominique Aury.
(
http://www.answers.com/topic/pauline-r-age)

De resto, Sade é pornografia light frente a outras coisas que a Conrad tem lançado. Nada das escatologias de "O Vampiro que Ri" e "Ero-Guru". Não vai mudar a vida de ninguém, nem é indispensável e tenho certeza que adaptações melhores de Sade ou da História de "O" já devem ter sido feitas por aí. Entretanto, pode ser lido sem susto até por quem não curte o gênero e não vem incensado como "mangá adulto" ou "inteligente". É diversão rasteira com um traço que pode parecer simpático para alguns.

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