Não pude postar nada no dia 08 de março por causa da correria, aliás, nem escrevi coluna para o Anime-Pró ainda... foi uma semana bem difícil. Devo tentar fazer um post longo depois, tinha até pensado em um texto especial... enfim... De qualquer forma, vou postar um texto da Bia Abramo muito bom que foi publicado no domingo passado. Um texto que diz muito sobre como é possível retratar as mulheres de forma diferente na ficção. Este link é da Folha de São Paulo, como muita gente não tem acesso, o texto será disponibilizado na íntegra.
Mulheres poderosas aparecem na TV
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Vitória aperta a mão de Júlia, elas se olham nos olhos e se abraçam - um pacto contra a maldade do mundo está firmado. A cena é de "Belíssima", a novela de Silvio Abreu que, contra todas as expectativas, está com índices altos de audiência. Ponto para o autor: em vez de uma heroína romântica, sofredora e solitária, a novela tem duas amigas brigando juntas.
É uma novidade de "Belíssima" trazer para o centro da ação duas mulheres em vez de uma só, boa, em conflito com uma outra, má. Silvio Abreu sempre acreditou em mulheres poderosas (e do bem) - a novela está cheia delas, desde a sestrosa Safira à doce Sabina -, mas dessa vez deu um passo além ao fazer de Vitória e Júlia aliadas leais.
Como se sabe, a lealdade e a amizade entre mulheres é negada de maneira veemente nas sociedades sexistas -a associação solidária de duas mulheres é por demais assustadora.
Sinal dos tempos, com certeza. A TV, conformista que é, sempre foi território dos estereótipos mais tacanhos, das imagens de gênero mais autoritárias, do machismo mais vulgar. Ainda é - na propaganda ou no entretenimento, a objetificação do corpo feminino continua sendo uma tediosa e ofensiva moeda corrente-, mas não só.
Mulheres legais - entenda-se: do bem, donas de seu nariz, de seu corpo, poderosas etc. - , comportamentos e identidades considerados pouco femininos até pouco tempo atrás e sexualidades mais diversas têm aparecido aqui e ali, sobretudo na ficção.
É claro que os seriados norte-americanos incorporaram antes e melhor as conquistas do feminismo (e do pós-feminismo). "Sex and the City" é um exemplo óbvio e "The L Word", idem, mas há muitos outros.
Entre os mais recentes e interessantes, estão os que desafiam algumas da convenções mais intocáveis, como a bondade fundamental da mãe de família, em séries como "Weeds" e "Desperate Housewives".
Ah, sim, e num seriado considerado menor, "That 70's Show", há a sensacional Donna, um garota grande, meio molecona, que não leva desaforo para casa, sobretudo do namorado.
(Aliás, Maria João, da mesma "Belíssima", também recusa a feminilidade-padrão e vive em atritos com a mãe gostosona e a irmã modelo por conta de suas escolhas identitárias; espero que o autor não a revele lésbica mais adiante).
Aqui, as coisas sempre foram hesitantes nesse terreno, mas, mesmo assim, já são muitas as mulheres bacanas e as garotas superpoderosas que circulam pela TV -uma lista possível teria, além das já citadas, Marinete e Ipanema, do seriado cômico "A Diarista", Penny Lane, de "Bang Bang", Dona Nenê, de "A Grande Família"... Viva elas, mesmo que só existam na ficção.
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