quinta-feira, 16 de março de 2006

Ainda sobre o Dia Internacional das Mulheres


Estou participando de uma discussão sobre gêneros de mangá, se as fronteiras estão se dissolvendo, ou não, e o fato da CLAMP dizer que XXXHolic é shoujo. Acho que algo do que falei por lá, poderia ser colocado aqui:

No Japão, se os gêneros vierem a desaparecer, certamente as mulheres não serão postas fora do mercado. O que a gente não pode esquecer é que o mangá feminino é um campo de expressão política - entendida aqui no seu sentido mais amplo - porque deu voz às mulheres, deu espaço profissional e, em um paíse que paga bem menos para a força de trabalho feminina, mostra que mulheres podem, sim, ganhar o mesmo ou mais que os homens. Perder este espaço de expressão é perigoso.

Esta semana passada acompanhei uma discussão em que alguém - uma moça dessas que parecem ter um cerébro de ervilha - reclamava do "Dia da Mulher" (*no singular ainda, porque todas nós somos iguais*), dizendo que era uma inutilidade, porque ela NUNCA tinha sofrido nenhum preconceito ou discriminação. Eu não entrei na conversa, mas pensei "Bom para você que houve gerações de mulheres que sofreram na carne para que você tivesse a possibilidade de nunca ter sofrido nenhuma sorte de preconceito ou discriminação. Algumas mulheres, aqui mesmo no Brasil, continuam sofrendo e em outros lugares do mundo, também."

No mangá, foram gerações de mulheres lutando anos por um lugar ao sol, por um espaço para produzir. Shoujo mangá para mim representa isso. Ele é necessário? Se não é mais no Japão, no Ocidente, é, com certeza. Afinal, há uma legião de meninas que precisam saber que elas podem fazer quadrinhos falando dos assuntos que quiserem, da forma como elas sentem sem se preocupar se eles serão "universais", ou não. E que esses quadrinhos podem chegar ao grande público, sair do gueto e que isto não é sonho, pois em um país do mundo isso é uma realidade há pelo menos três décadas e meia.

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