domingo, 26 de fevereiro de 2006

Naruto na Revista Época


A Época desta semana trouxe uma matéria com chamada de capa sobre Naruto. Como sabemos que a Globo não dá ponto sem nó, acredito que muitos interesses estejam envolvidos. É basicamente uma matéria apra encher a bola da série, mas não chega a ser ruim. É possível acessar a matéria on line depois de um cadastro, então, para ver as imagens e outros detalhes, é só ir até lá. Vou reproduzir aqui somente o texto básico.

TELEVISÃO

O grande golpe de Naruto: A história da redenção de um ninja conquista o Brasil – sem ainda ter sido lançada

Marcelo Zorzanelli

No Japão, todas as quartas-feiras (19h27, horário local), milhões de espectadores sintonizam a TV Tokyo para acompanhar um seriado chamado Naruto. Seus personagens são jovens ninjas que aspiram ao título de hokage, a classe mais alta entre os guerreiros, enfrentando para isso barras-pesadas num mundo encharcado de referências às filosofias orientais. É o grande sucesso da televisão de lá: os japoneses idolatram esse tipo de trama pintada em cores aparentemente infantis. Naruto não é um sucesso apenas local. Também no Brasil ele tem legiões de seguidores fiéis e fanáticos. Os discípulos brasileiros montaram sites com conteúdo extraordinário e criaram uma comunidade com mais de 60 mil membros no Orkut. Detalhe: Naruto jamais foi exibido na televisão brasileira. Pelo menos não oficialmente.

O sucesso de um desenho animado como Naruto não é surpresa nem sob circunstâncias tão específicas. A força dos animês, como é conhecida a animação japonesa, vem crescendo desde que o desenho Speed Racer conquistou espaço nas TVs ocidentais na década de 1970. Mostrando qualidades até então desconhecidas do público - efeitos visuais modernos, cores vivas e tramas inteligentes -, os animês são hoje fenômeno de audência. Tomaram de assalto a cultura pop: sua estética característica pode ser encontrada em peças publicitárias, cinema e programas de TV. A Viagem de Chihiro, um animê, conquistou o Oscar de melhor animação em 2002. O jornal The New York Times publicou um longo artigo sobre a nova geração de animês,'a mais brilhante de todas'. Naruto, que o jornal considerou o melhor animê em exibição nos EUA, mereceu as seguintes palavras: 'Naruto captura a solidão, os desejos e a exuberância infantis sem dever nada a qualquer programa americano do momento'.

Há algum tempo, um seriado como este só chegaria aos brasileiros através de complicadas importações de fitas VHS. Mesmo assim, ficaria restrito a quem entendesse japonês, uma vez que os diálogos não seriam legendados. Outra opção seria esperar anos até que alguma rede de TV comprasse os direitos. Hoje a internet está muito mais rápida e os computadores pessoais mais poderosos. Isso significa que alguém pode gravar o seriado da TV Tokyo e colocá-lo na internet. Não apenas pode, como faz.

Um papel relevante nessa história é desempenhado por um grupo de devotos que se intitulam subfãs. Não, eles não se consideram fãs 'menores'. São, na verdade, espectadores comuns, espalhados por todo o mundo. Tomam a iniciativa de gravar os episódios ainda não lançados num país, legendá-los e espalhá-los pela internet. Legenda em inglês é subtitle, daí o nome. Uma enquete lançada num site brasileiro de subfãs de Naruto ( www.narutoproject.com) demonstra que 42% dos usuários têm entre 11 e 15 anos. Uma parcela igual tem entre 16 e 20 anos. Daniel França e Pedro Dassan, os dois responsáveis pelo site, têm 17 anos cada um. Administram a página que recebe 14 mil acessos por dia. Eles moram em Curitiba e colaboram com adolescentes de todo o Brasil através da internet nos moldes do fenômeno Wikipédia, para suprir uma demanda cada vez maior por programas inéditos e de qualidade.

Mas eles são ainda mais do que isso: sentem-se tão envolvidos com a história que, além de traduzir o texto do japonês, criam páginas para discutir as origens dos personagens e espalhar teorias sobre qual é o ninja mais poderoso. Não raro as emissoras que exibirão os seriados animados saem à cata desses fãs para se aconselhar sobre expressões e detalhes técnicos. Os subfãs não se consideram piratas, porque seguem um código moral de jamais vender nada do que produzem. Também afirmam em suas comunidades que abandonam a prática quando uma emissora começa a exibir o programa oficialmente.
Mas há quem não concorde com isso. Os jovens paulistanos Renato Hideaki e Marco Antônio Takayama, de 17 e 19 anos, que consomem animês, mangás (quadrinhos japoneses) e cartões colecionáveis aos borbotões, reclamam: 'Os animês do Animax usam cinco ou seis dubladores para 13 séries. É um absurdo. Por isso, preferimos episódios legendados, mesmo quando há uma dublagem sendo exibida num canal de TV'. Animax é o canal a cabo dedicado a animês.

Mas não existiria toda a polêmica se não fosse a qualidade de seriados como Naruto. 'Finalmente voltaram a falar de ninjas', afirma a paulistana Hana Carolina Lima, de 15 anos. 'Naruto tem ação, como todo mundo gosta, mas tem uma história que faz você simpatizar com os personagens.' Ao contrário do básico desse tipo de enredo, onde dificuldades caem de pára-quedas, a cada complicação surge um desenrolamento possível, que adiciona mais aspectos à personalidade dos ninjinhas. A premissa da série já está a quilômetros do entretenimento infantil de todo dia: uma raposa diabólica ameaça a vila e é trancada no corpo de um bebê, que ao crescer sofre represálias por conta disso. Aos 12 anos, ele se torna uma criança-problema, mas que busca redenção tornando-se o maior ninja de todos os tempos.

Desde os primeiros minutos do primeiro episódio, o espectador começa a simpatizar com o pequeno ninja. Além dos acontecimentos nefastos em seus primeiros dias de vida, Naruto também tem má sorte na adolescência. Em seu primeiro teste na escola de ninjas, ele leva bomba porque a prova é executar uma técnica que ele não domina bem. Logo depois, sabemos que está apaixonado por uma bela coleguinha - que só tem olhos para outro ninja com pinta de galã. A falta de sorte crônica não presta bons serviços apenas ao drama: o humor também é ótimo. Naruto aprende uma técnica chamada 'réplicas da escuridão', que o faz clonar a si próprio diversas vezes. Porém, na hora do combate, é acometido por uma terrível dor de barriga. Sob uma fanfarra de guitarras, as cinco réplicas de Naruto se acotovelam para entrar no banheiro.

Há quem diga que os antecessores de Naruto, como Dragonball, Cavaleiros do Zodíaco e Pokémon - que passam temporadas fora das grades de programação, mas sempre encontram o caminho de volta - , são apenas veículos para vender brinquedos, games e cereais matinais. Mas é inegável uma característica comum a todos eles: a originalidade. Em Cavaleiros do Zodíaco, por exemplo, um grupo de guerreiros enfrenta situações inspiradas na mitologia grega. Pokémon é sobre uma turma de garotos que briga entre si usando criaturas que parecem ter nascido em Chernobyl, mas nem por isso menos bonitinhas. O Cartoon Network brasileiro começa a exibir Naruto a partir do meio do ano. Quando a primeira remessa chegar, os subfãs já terão visto mais de 170 episódios. Há aí uma mensagem relevante para as emissoras de TV. Nestes tempos de internet, elas terão de ser mais ágeis ao importar, dublar e exibir programação de outros países. Ou correrão o risco de chegar tarde demais.

(TEXTOES QUE ESTAVAM COM AS IMAGENS PRINCIPAIS)

TALENTO
Daniel França e Pedro Dassan, administradores do maior site de fãs do seriado no Brasil, que recebe cerca de 14 mil acessos diariamente e tem 20 colaboradores

NISSEIS
Renato Hideaki e Marco Antônio Takayama posam ao lado dos mangás de Naruto numa loja especializada em animê no bairro da Liberdade, em São Paulo

ORIGENS
Weekly Jump, a revista que revelou Naruto, é uma fábrica de sucessos: Dragonball, Yu-Gi-Oh! e outros mangás começaram em suas páginas

PREFERÊNCIA
Hana Lima gosta dos conflitos adolescentes no seriado: 'Naruto é um órfão renegado, mas decide se tornar um grande ninja - e consegue'
Alguém pode gravar o seriado direto da TV Tokyo e colocá-lo na internet. Não apenas pode, como faz

FÔLEGO DE NINJA
Naruto é exibido na TV japonesa desde 2002 e já foi exportado para emissoras dos EUA, Canadá e países asiáticos. No Japão, o animê tem por volta de 180 episódios. Três longa-metragens e dois games também já foram produzidos

QUARTETO FANTÁSTICO
Grandes sucessos que definiram os desenhos animados japoneses

Pioneiro
Osamu Tezuka, criador do Astro Boy, definiu o traço: cabeça e olhos grandes, nariz e boca pequenos. Afirma que copiou Walt Disney ao desenhar seus primeiros personagens

Audiência
Dragonball foi o primeiro animê a ser vendido para mais de 20 países e a movimentar um grande mercado de games. Atualmente passa na Globo e em outros canais

Cinemas
Cavaleiros do Zodíaco teve quatro filmes produzidos e fez boas bilheterias no Brasil. É exibido pela Bandeirantes e por outros canais

Prêmio
O auge do animê foi quando, em 2002, Hayao Miyazaki levou o Oscar de melhor animação por A Viagem de Chihiro. Neste ano, Miyazaki concorre ao mesmo prêmio com O Castelo Animado


Foto: reprodução, divulgação, Claudio Rossi, Marcelo Rudini e Márcio Lanzarini/ÉPOCA

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