domingo, 2 de outubro de 2005

Steam Boy na Folha de São Paulo


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"STEAMBOY"

Dirigida por Katsuhiro Otomo, mais cara animação japonesa sai no Brasil. Desenho retrata era vitoriana e conflito entre homem e ciência
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Uma invenção que não tem uma filosofia por trás de si é uma maldição." A frase, do personagem dr. Lloyd Steam, evoca o secular conflito entre homem e ciência, tema central da animação japonesa "Steamboy" (2004), dirigida por um dos mestres do gênero, Katsuhiro Otomo (de "Akira"), e recém-lançada em DVD.

A temática não é nova. Do "Frankenstein" de Mary Shelley às máquinas e ciborgues de Philip K. Dick (autor dos textos que deram origem a "Blade Runner" e "Minority Report"), os dilemas das descobertas científicas, facas de dois gumes na maioria dos casos, serviram de base para a ficção em inúmeras ocasiões.

Em "Steamboy", que levou dez anos para ficar pronta e é a mais cara animação japonesa (custou US$ 22 milhões) já feita, Otomo leva o dilema ao momento em que ele começou a fervilhar: a era vitoriana da segunda metade do século 19, quando a Revolução Industrial estava entrando em sua segunda fase, e as invenções científicas, das mais práticas às mais estapafúrdias, proliferavam.

Lloyd Steam e seu filho Edward são pesquisadores que, financiados por uma corporação norte-americana, a Fundação O'Hara, criaram uma espécie de motor superpoderoso - a "steam ball" -, capaz de dar energia a máquinas gigantescas e revolucionárias. Um acidente -e a descoberta de que a fundação utiliza a tecnologia para fabricar armas- acaba colocando pai e filho em campos opostos. Enquanto Edward segue produzindo para os americanos, o velho dr. Lloyd recorre a seu neto Ray para guardar uma das "steam balls" e impedir que a Fundação O'Hara continue a utilizar a ciência para o mal.

Duas gerações de pais e filhos irão, assim, duelar - e o embate é particularmente fascinante porque travado entre pessoas apaixonadas pela ciência e pelo avanço da tecnologia em prol da humanidade; o ponto de discórdia é justamente o que pode ser definido como "avanço" e como se determina se algo é feito "em prol da humanidade".

O dinheiro e o tempo investidos na animação são visíveis no resultado final: os cenários são deslumbrantes, e a Inglaterra de 1866 é reproduzida em detalhes - ainda que, inexplicavelmente, existam alguns anacronismos gerados por datas incorretas, como a da Grande Exposição de Londres, que aconteceu em 1851.

Nos extras do DVD, destaque para uma das raras entrevistas do diretor, que fala sobre o projeto.
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Steamboy
Direção: Katsuhiro Otomo
Distribuidora: Sony; só para
locação

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