quinta-feira, 18 de agosto de 2005

Irya no Sora, UFO no Natsu


Não fui eu quem escreveu a review desse anime, foi meu marido. Mas ele ficou tão empolgado e emocionado (*o tom do texto diz tudo*), que achei que vali a pena postar aqui. Parece uma série interessante, devo assistir depois. :) O e-mail foi mandado para a lista Tomodachi no Shoujo, eu só retirei um parágrafo. Se quiserem trocar idéias com o autor, basta escrever para ele.
Irya no Sora, UFO no Natsu (O Céu de Irya, O Verão dos OVNIs) é um anime que acabei de assitir e que me causou tão forte impressão que senti necessidade de romper meu silêncio patológico para comentá-lo. Trata-se de uma série de seis OVAs apenas e é mais um da leva de animes recentes baseados em jogos hentai, mas que, surpreendentemente, não são hentai. Alguns exemplos são Comic Party, Popotan e Tsukihime (sendo exibido atualmente no canal Animax).

Provavelmente não esperaríamos nada muito brilhante vindo de um jogo hentai, porém se um anime é derivado de um jogo assim, mas não pode ter o apelo fácil do sexo explícito, então seus criadores devem oferecer algo de bom para colocar no lugar daquilo que está faltando. Apesar de possuir dezenas de gigabytes de jogos hentai em CDs e DVDs espalhados por aqui, sou muito preguiçoso para jogá-los, pois apenas fazê-los rodar em nossos computadores ocidentais já é "a pain in the ass", tal como dizem os americanos de maneira tão eloqüente. Depois é preciso superar a jogabilidade complicada da maioria deles, agravada pelo fato de tudo estar em japonês obviamente e depois o pouco estímulo de ver cenas censuradas. Assim sendo, não conheço o quão brilhante costuma ser a história nesses jogos. Aqui no ocidente, e no Brasil em especial, a idéia corrente é que se algo contêm cenas de sexo, se a ênfase está nisso, então a estória é secundária e mesmo dispensável.

Os japoneses, povo estranho esse, não seguem essa regra geral e, com certa freqüencia, dão aos hentai uma estória um pouco mais elaborada, a qual não é apenas um arremedo para alinhavar uma sucessão de cenas de sexo. Como disse antes, não joguei os jogos em que se baseiam os três animes citados anteriormente e, agora, o Irya no Sora, contudo devo dizer que são animes muito bons, acima da média até. Apenas não me empolgou tanto o Tsukihime, que já havia assistido na íntegra, antes que passasse no canal Animax. Minha hipótese é que, ao menos nesses quatro casos, a qualidade da história fosse tão boa, que os produtores acharam melhor não fazer animes hentai baseados neles, mas sim animes que pudessem ser assistidos por um público mais amplo.

Deixem-me passar logo ao Irya no Sora, Ufo no Natsu o qual é a razão deste meu "review" e do meu presente entusiasmo. Tentarei não dar "spoilers", mas não me preocuparei muito com isso, portanto cuidado aqueles que não gostam de "spoilers".

Em linhas gerais, Irya no Sora é um anime sobre uma guerra contra alienígenas. Com a tecnologia capturada de algum OVNI acidentado, foram construídas aeronaves espetaculares e, é claro, supersecretas. Para pilotar essas aeronaves, um grupo de crianças precisaram ser modificadas para possuirem as qualidades necessárias. Esse argumento não é novidade para qualquer um que tenha assistido a Arquivo X e Neon Genesis Evangelion. Assim sendo, podemos esperar muitas cenas de combate espetaculares entre naves e muita violência... nada mais errado, pessoal. Irya no Sora até podia se calcar nesses elementos e conseguir ser um bom anime de ação, mas seus criadores preferiram um caminho mais difícil, pois centraram a estória no drama pessoal da Irya, a personagem do título, a qual é uma menina criada com a única função de ser piloto de uma aeronave de guerra e, muito provavelmente morrer em combate.

Em sua condição, ela é muito semelhante a nossa memorável Ayanami Rei, de Evangelion, porém Irya não é uma cópia de Rei, ela é uma personagem com personalidade própria. Ao contrário de Comic Party e Popotan, o fanservice é quase nenhum. Irya é violentada continuamente, mas não com sevícias sexuais, ela é violentada por aqueles que a usam como arma de combate. Mas, essa situação, todo o sofrimento pelo qual ela passa, só ficamos sabendo no final, pois a estória é contada pelos olhos de um colega de escola, Asaba, um garoto que simpatizou com a nova e estranha aluna que repentinamente aparece em sua turma. Esta é uma situação clichê, mas o grande mérito desse anime é retrabalhar os clichês de forma magistral para criar uma estória muito sensível e memorável. Pelos olhos do Asaba, vemos apenas uma garota frágil, cuja saúde se deteriora continuamente e que comparece muito pouco às aulas e quase nunca fica até o final do dia. Não somos levados também a odiar os militares que usam a Irya, até podemos nos sentir assim, todavia somos levados pela inevitabilidade de seu sacrifício. Irya no Sora é um anime sobre crianças mutiladas e sacrificadas pela guerra, pela estupidez de nossos governos, de nosso mundo, de nós mesmos. Para que Irya possa viver, teríamos que sacrificar a nós mesmos.

O sacrifício de Irya está nas mesmas proporções do sacrifício de Jesus Cristo. Mas a Irya não é tudo de bom nesse anime, Asaba é uma das personagens mais bem construídas, em sua humanidade, a qual já tive o prazer de conhecer. Quando ambos estão fugindo e Irya insiste em levar com eles um filhote de gato, Asaba perde a paciência com ela e a maltrata. Asaba nã está sendo cruel intencionalmente, ele está tendo uma atitude motivada pela imaturidade de um garoto de sua idade, o qual não é capaz de perceber a desesperadora necessidade de Irya em cuidar daquele pequeno animal. Por causa do repúdio de Asaba, a condição da pobre Irya piora muito mais. O final é o ápice do drama, cheguei a desejar que Asaba e Irya cometessem suicídio, se vingando assim do mundo todo, porém a Via Crucis de Irya deve prosseguir até seu sacrifício na cruz, simbolizada pela forma de sua aeronave.

Desculpem-me se exagerei, meu exagero está na medida de meu entusiasmo. Os nossos japoneses se superam uma vez mais e criam um desenho com um roteiro que teria força suficiente para virar um filme, um filme digno de prêmios. Assistam.

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