quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Evangelion - Iron Maiden 2nd


Como fiz uma coluna para o Anime-Pró comentando o novo mangá shoujo da Conrad, decidi postar aqui a parte específica falando da obra. Afinal, trata-se de material de minha autoria mesmo. Lá vai:

"A coluna desta semana ainda não estava definida, quando passei pela banca de jornal no sábado e encontrei Neon Genesis Evangelion – The Iron Maiden 2nd. Mesmo não me empolgando muito com o lançamento, era mais do que obrigação comprar e comentar o novo shoujo da Editora Conrad. Então, continuei deixando Fruits Basket #5 e Slam Dunk #2 em leitura suspensa e decidi investir alguns trocados e tempo na leitura do novo mangá.

Para quem não estava a par da existência de um Evangelion shoujo, esclareço que o mangá existe desde 2003 e sai regularmente na revista Asuka, a mesma de X da CLAMP. Assim como aconteceu com Cowboy Bebop, o Evangelion shoujo foi acolhido pela revista da editora Akita Shoten, que, de acordo com
Matt Thorn, é uma das favoritas dos fãs mais hardcore de anime e mangá no Japão, independente do sexo.

A revista Asuka é interessante, pois acolhe versões mangá de animes direcionados a um público amplo. Ainda de acordo com o Thorn, se nasceu como anime não dá para simplesmente rotular o produto como shoujo ou shounen, mas mesmo assim, parece estranho ver Bebop mangá saindo em uma publicação shoujo. No caso de Bebop, aliás, não existe outro mangá a não ser o que saiu naquela revista. Quando W.I.T.C.H. da Disney começou a sair no Japão redesenhado, foi na Asuka que ele foi encaixado. É uma revista bem peculiar, não tem como negar.

Não tomei conhecimento de Iron Maiden agora. Antes mesmo da Conrad anunciar EVA – Iron Maiden, eu já conhecia o mangá de controvérsias em listas de discussão (*Se é EVA, não é shoujo*, Se sai na Asuka então esta revista não é shoujo.*) e das scanlations na net. Dia desses encontrei o primeiro capítulo no meu HD e passei para alguns colegas que queriam saber se o mangá valia a pena. A maioria gostou e disse que compraria a série. Como não me animei com a série, só tinha passado os olhos neste primeiro capítulo.

EVA – Iron Maiden é um spin-off, baseado em um jogo derivado do EVA original. Como tudo que leva o nome da grife, a série vai muito bem no Japão. Ontem vi o ranking dos mangás shoujos mais vendidos do mês de
julho e lá estava o Iron Maiden em décimo lugar. Imaginem o número de mangás que saem no Japão todas as semanas, estar entre os dez shoujo mais vendidos é, sim, um grande feito. Iron Maiden está no volume 5 no Japão e, por isso, uma possível interrupção da publicação, como no caso do EVA original, não é uma possibilidade remota por aqui.

Quando me decidi por falar da série, tentei encontrar informações sobre a autora, Fumino Hayashi, mas não achei nada. Suponho que este seja o seu primeiro mangá “oficial”, mas não posso afirmar. Essa impressão é ainda mais forte quando a gente olha o mangá, pois, como comentou uma amiga, Iron Maiden lembra muito um fanzine. Bem, talvez a interpretação bem livre da história reforce a sensação. Quem nunca pegou um fanzine com personagens originais em situações absolutamente diferentes?

O traço da autora também me parece um tanto inexperiente, instável, feio em alguns momentos. Antes que alguém ache que estou tentando simplesmente detonar o mangá, eu peço que lembrem dos meus
comentários sobre Slam Dunk. Fora que “feio” e “bonito” são coisas bem relativas. Eu gosto de alguns mangás que tem um traço “feio” como Basara, ou que começaram assim, como Hana Yori Dango, e depois desabrocharam. Claro, que todos me pegaram pela história antes de tudo mais, o que esse EVA não conseguiu ainda. Só que meu marido, por exemplo, não viu nenhum defeito no traço de Iron Maiden, e não vou dizer que é por ser fã de EVA que ele disse isso, apesar dele estar dizendo, até agora, que eu estou sendo preconceituosa e implicante. ^_^

Voltando à história do mangá, ela tenta transformar as personagens do EVA original em pessoas comuns, ou pelo menos o que a autora assim considera. Pelo primeiro volume, não senti grandes diferenças no Shinji, que continua sendo o garoto introvertido e passivo, mas ele parece muito mais próximo do anime, do que do mangá shounen. Asuka – que agora é sua amiga de infância apaixonada – continua impositiva e estourada, mas um pouco mais terna, já que protege o garoto. A grande mudança, entretanto, é Rei. A aparência (*salvo as variações na arte*) é a mesma, mas a personalidade está virada ao avesso. Isso é bom? Ainda não sei. Mas acredito que os fãs da Rei sejam arrastados pela curiosidade.

Na verdade, não sei se continuarei lendo EVA – Iron Maiden. Sei que ele viria aqui para casa de qualquer forma, mas não me senti surpreendida ou interessada ao concluir a leitura. Continuo sustentando que este mangá não veio para satisfazer os fãs de shoujo, substituindo a lacuna deixada por Fushigi Yuugi. Os fãs da série, os fãs de shoujo, continuam na fila, pois a Conrad não parece se interessar por eles. Iron Maiden veio, sim, para satisfazer os fãs de EVA, ou, pelo menos, manter o mangá original vivo na memória das pessoas.

Espero, sinceramente, que Iron Maiden tenha qualidades para se sustentar e conquiste leitores novos. Ser simplesmente “mais um produto de EVA” feito sob medida para fãs “que consomem qualquer coisa da série”, me parece algo muito deprimente. Afinal, todo artista deveria querer ser reconhecido por seus méritos. Assim, é esperar para ver o que vai acontecer no decorrer da série e o que Fumino Hayashi pode fazer.

Talvez alguns estejam pensando: “Ah, ela fala isso por não ser fã de Evangelion!”. Realmente, não sou, e isso não me impede de ver as qualidades do mangá original, ou do anime, ou mesmo desse novo Iron Maiden. Também, quero deixar claro que não vou comprar ou elogiar um mangá somente por ser shoujo. Com quase trinta anos, ou a gente tem senso crítico e amor ao dinheiro ganho com muito trabalho, ou melhor, não sobrevive. Por isso, reforço que não vi grandes atrativos em Iron Maiden, mas posso estar sendo uma “velha” chata, afinal, o último lançamento da Conrad – Slam Dunk – me pareceu infinitamente superior e muito mais divertido. Pelo menos, até agora.

Assim, lendo o primeiro volume de Iron Maiden, achei tudo muito superficial e forçado. A discussão entre Asuka e Rei, é um bom exemplo disso. Será que para serem colegiais “shoujo” comuns as personagens tenham que ser burrificadas e levadas a atitudes sem muito sentido? Claro que, não! Basta pegar outros dois shoujos que usam “pessoas comuns” e estão no mercado brasileiro – Peach Girl e Fruits Basket – para ver como se pode fazer diferente e melhor
.

Nada tenho contra o uso de personagens originais em outro contexto. A CLAMP está se divertindo e divertindo muita gente com o seu Tsubasa Reservoir. E a própria Gainax, ofereceu um dos melhores exemplos nesse sentido com o seu
Gunbuster. Para quem não sabe a série de ficção científica com garotas com roupa de aeróbica pilotando mechas se inspirou diretamente em Ace Wo Nerae!, um shoujo mangá e anime de muito sucesso nos anos 70 e 80 e que girava em torno do universo do tênis. Ainda acha estranho? Veja bem, o nome de Gunbuster no original é Top Wo Nerae!

Quando assisti Gunbuster eu não conhecia Ace Wo Nerae!, fui conduzida ao original por mero acaso ao procurar sites sobre o anime da Gainax. Mas agora que, pude conhecer Ace Wo Nerae!, bem, não há dúvida. Todas as personagens femininas de Ace Wo Nerae! estão em Gunbuster, com suas mesmas personalidades e atitudes. O treinador também é o mesmo, com a diferença de que em Gunbuster lhe reservaram um “final feliz”. Só os meninos da série original foram deixados de fora, pois Gunbuster é uma série com garotas, nem mais, nem menos. Hoje, comparando as duas séries, só posso dizer que foi uma homenagem interessante, fora o fato de Gunbuster se sustentar por si mesmo até hoje.

Talvez, com o passar do tempo e dos volumes, Iron Maiden mostre que tem consistência, e justifique as suas boas vendagens no Japão. Afinal, não deixa de ser interessante ver a Rei Ayanami se comportando de maneira tão diferente, como diriam alguns. Quem sabe? Bem, por hoje é só. Compre Iron Maiden e tire suas próprias conclusões a respeito."

3 pessoas comentaram:

Gostei muito da sua matéria sobre o Eva - Iron maiden, tanto do seu Blog, tanto da publicação feita na Anime Pro, e gostei tanto que estou publicabdo em meu blog (Creditos feitos).
Continue assim.

Boa matéria e explicação sobre Iron Maiden! Me considero fanático por Evangelion e tb não gostei mto desse shoujo... como vc mesma disse, me parece um pouco "forçada" as atitudes dos personagens...

Uma sugestão para quem é fan de Eva é ler o doujin "Evangelion Re-Take"... simplesmente maravilhoso, traços perfeitos, história perfeita, tirando algumas cenas de hentai que são exageradas... Para quem é fan, é uma ótima dica.

Pelo que sei o Iron Maiden é baseado naquele mundo alternativo criado pelo Shinji nos episódios 25 e 26 da série. Pois você pode notar que as personalidades do manga e de certa forma o inicio do mangá são idênticos ao mundo apresentado por shinji nos episódios finais, onde todos estão felizes.

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