S.O.S. Peach Girl

Agradeço muito à Elza por nos informar dessa situação lamentável. Sei bem que escapa aos seus poderes o cancelamento de uma série e que no máximo você pode sugerir algumas coisas, mas são outras pessoas - talvez muito pouco interessadas em mangá, ainda mais shoujo mangá - que decidem contratos e licenciamentos.

Já comecei a repassar a mensagem e o alarme por listas de discussão e no Orkut. Sei que Peach Girl tem muitos leitores e leitoras que devem se sentir traídos caso a série seja cancelada. Só que, infelizmente, não posso me furtar à algumas críticas à Panini que, na minha opinião, é grande responsável por parte deste fracasso. Se é que há fracasso real, ou não somente vendas que não sejam astronômicas. Não vou falar em distribuição setorizada, porque parece que esse assunto é uma vaca sagrada aqui no Brasil, mas tenho outros pontos:

1. A Panini optou por espelhar o mangá, mesmo quando o formato dominante no Ocidente e aqui no Brasil já era o sentido oriental. Houve muitos babacas na época (*pouca gente série levanta a bandeira do espelhamento e argumenta de forma coerente, a maioria é babaca, sim, cheia de preconceitos, recalques e não raramente deseja que os mangás sumam de nossas bancas*), falando que isso seria fator de atração para o "grande público". Balela! Sem propaganda, sem desenho na tv, quem compra mangá é basicamente o fã que quer que o formato original seja respeitado. Houve perda de leitores por isso e, talvez, os que vieram por causa do espelhamento (*vou tentar acreditar que alguém veio por causa disso*), não compensaram. Não é a toa que a Panini largou disso.

2. Tradução porca e cuidado quase zero com as edições. As primeiras 4 edições, o cartão de visita, que ganhariam os leitores, foram mal traduzidas do francês, tinham textos cortados, balões em francês esquecidos. Enfim, um lixo. Melhorou? Melhorou, sim. Primeiro com uma tradução decente feita pelo Hunter, o que mostrou que estar em francês prejudica, mas pode ser remediado com boa vontade e um tradutor competente. Outro fator foi a ação da própria Elza que entende e gosta de mangá, além de ser profissional competente. Só que quem se decepcionou ali no início e não se viu conquistado pela força da história, largou. O consumidor tem culpa? Claro que não, é a empresa que não oferecia qualidade que deveria. E pior, editora experiente, que sabe publicar bem! Talvez, por não ser comics o tratamento tenha que ser diferenciado e para pior. Tem como, de cara limpa, dizer para comprar essas edições? Não! Somente depois de explicar que tem problemas mas o mangá é muito bom.

3. Os preços. Começou por R$3,50, agora estamos em R$5,50. Peach Girl, espelhado, sai mais caro que um volume completo dos mangás da JBC. Melhorou o formato? Aumentaram as páginas? Nesse interim o dólar se desvalorizou. E? Bem, se o sujeito já estava balançado, talvez o preço o tenha feito desistir. Conheço muita gente que já falou que faria isso e só o vício os manteve fiéis.

4. Atrasos. Dois meses, acho que já houve mais. Você espera, espera e nada. Além disso, fora dos grandes centros, Rio e SP, é difícil encontrar edições que faltam. Tenho uma amiga que parou na #9, porque nunca encontra para comprar. Eu até recorreria a outros meios, pediria para meu irmão mandar do Rio, mas nem todo mundo pode e tem paciência para fazer isso. E tem gente que cansa de esperar, perde o pique, afinal, parece desprepraro ou desprezo da editora que não está nem aí para seus consumidores.

Sinceramente, se a Panini cancelar Peach Girl com argumento das vendas vai somente provar que é uma editora caça níqueis. Como ninguém tem acesso a números no Brasil e não vejo Peach Girl encalhando em bancas de jornal ou gibiterias, não tenho como confiar. Eu estou com a pulga atrás da orelha imaginando que o talvez, assim como Sailor Moon nos EUA, a licença seja muito cara. Quando vejo, por exemplo, os caras da Conrad dizendo que publicam mangá porque dá lucro e podem sustentar seus livros e HQs sérios, fico pensando que a lógica da Panini do Brasil deva ser a mesma.

Vou me mobilizar, porque sou fã de Peach Girl, mas vou apedrejar também, pois considero que a própria Panini é muito responsável e era experiente o sufiente para saber que isso poderia acontecer. Ou, pelo menos, o pessoal da Itália saberia. Mas aí fica a lógica: "otaku" compra qualquer coisa? Não, "otaku" não é palhaço, mesmo que a Panini, a Conrad e a JBC possam pensar desse jeito.