domingo, 5 de junho de 2005

Trechos da entrevista do Schodt


Como disse, está on line uma entrevista com o Frederik Schodt, daí tive a idéia de traduzir uma seleção de trechos. Tradução rápida, então, pode haver imprecisões, de qualquer forma, deve ser uma mão na roda para quem não lê inglês.

Falando dos mangás nos anos 60 e 70:
“(...) De fato, tudo era livre para os artistas de mangá naquela época. Era, talvez, mais livre do que agora, porque agora os estilos parecem estar mais solidificados. Naquela época, os artistas de mangá estavam fazendo muitas experimentações. Muitos dele eram influenciados por filmes e queriam ser diretores de cinema. Muitos queriam contar suas histórias como se fossem romances. (...)”

Indústria de mangá hoje:
“Eu acredito que a indústria de mangá amadureceu no Japão. Ela se tornou mais convencional, os estilos estão muito mais rígidos e menos abertos a experimentações. Muitos artistas também não criam mais as suas próprias histórias, porque não têm tempo suficiente, e, ao invés disso, cada vez mais editores estão criando histórias. Então, para mim, muitas dessas histórias não parecem tão excitantes quanto costumavam ser. Como mencionei, houve uma época nos ano 60, 70 e 80, quando os artistas estavam criando tudo sozinhos. Eles se viam como revolucionários; sentiam como se estivessem mudando tudo. (...) Mas agora, entramos em uma fase pós-revolucionária do mangá. E eu acho (**o autor não dá dados estatísticos**) que muito menos pessoas lêem mangá no Japão hoje. Há uma nova geração que prefere assistir animes ou passar o tempo nos telefones celulares. Entretanto, mesmo havendo estagnação na indústria de mangá no Japão, a parte boa é que o mangá se espalhou pelo mundo, e vai continuar a se espalhar. E eu credito que este seja o fluxo natural da cultura.”

Como os estrangeiros vêem/viam o mangá:
“Alguns estrangeiros talvez vissem o mangá como algo estúpido, eu nunca pensei assim. Para mim, mangá era uma diversão maravilhosa, assim como um meio de aprender japonês, e aprender a respeito do Japão.”

Sobre Osamu Tezuka:
“Tezuka foi um pioneiro de verdade. Ele estava tentando usar os quadrinhos como um meio de contar histórias. Ele foi uma das primeiras pessoas a tentar usar os mangás desta maneira, da mesma forma como diretores usam filmes, e escritores, romances. Como resultado, as histórias eram instigantes. Há sempre algo que as crianças podem gostar, mas na verdade os adultos podem fazer isso também, porque existem muitas camadas de significados. Há uma camada superficial que é de puro entretenimento, mas existe sempre uma camada que é puramente filosófica, da mesma maneira que um bom filme ou romance.(...)”

Sobre suas primeiras experiências com mangá nos EUA:
“Por volta de 1977, alguns amigos e eu começamos um grupo chamado Dadakai. Havia dois japoneses e dois americanos, começamos traduzindo mangás de Osamu Tezuka e Leiji Matsumoto, mas não conseguimos publicar. Era muito cedo. Mais tarde, com um desses amigos, traduzi A Rosa de Versalhes e o segundo volume de Gen Pés Descalços. Mas ainda era muito cedo. Nesta época, nos EUA a maioria das pessoas sabia muito pouco sobre o Japão, e nada sobre mangá. Então, quando você falava em mangá muitas pessoas pensavam que você estava falando de comida italiana ou de manganês, o metal. Então, quando meu livro Manga! Manga! The World of Japanese Comics, saiu em 1983, eu realmente tive uma discussão com o meu editor. Ele achava que seria legal ter a palavra “mangá” no título, mas eu achava que seria um erro porque os livreiros poderiam colocá-lo nos catálogos junto com “manganês”. Mas ele disse ‘Não, nós temos que tentar essa nova palavra e talvez ela pegue.’ E isso aconteceu, quando meu primeiro livro foi lançado, acredito que muitas pessoas se surpreenderam em saber o quanto os mangás eram populares no Japão.”

Mundo surpreendente do mangá (Resposta a pergunta:
"(...)Na América os quadrinhos eram somente para crianças?): “Nem sempre. Na América, tirinhas em jornais são mais populares do que no Japão. Milhões de pessoas lêem quadrinhos em jornais. Foi muito mais porque as pessoas não tinham a idéia do que eram os quadrinhos no estilo japonês, então mangá pareceu muito inacreditável para elas. Também havia o problema que era o fato de nos anos 50 e 60, muitos ocidentais que escreviam sobre o Japão só se preocupavam com as artes eruditas, filosofia Zen, cerimônia do chá, e esse tipo de coisa. Os acadêmicos americanos e europeus ignoravam a cultura pop japonesas, e acho que ficaram surpresos ao descobrir o quanto ela era interessante.”

Processo inverso:
“(...) Manga é muito popular na França, Itália, e por toda a Europa. Também na Coréia, Taiwan e muitos países Asiáticos. De fato, mangá é muito popular por todo o mundo, em parte por causa da grande influência dos animes. No Japão, muitas pessoas lêem seus mangás favoritos em revistas ou livros, e, mais tarde, se divertem assistindo as mesmas histórias em forma de animação na TV ou vídeo. Fora do Japão, entretanto, o padrão é inverso: toda uma nova geração de crianças em sua maioria assiste animações baseadas em mangá, e então, quando querem saber mais, eles compram e lêem o mangá original em formato livro. Esse é o padrão geral nos dias de hoje."

Os americanos e os mangás:
“Mangá é muito popular entre os jovens americanos agora. Mas ainda existem muitos americanos que não sabem o que eles são, ou o que são animes. Só que existe um grande número que sabe, e eles são grandes fãs. (...) Há toda uma geração de garotos que cresceu assistindo anime na televisão e lendo mangás. Logo, em breve, logo haverá muitos jovens americanos capazes de fazer mangás da mesma forma que se faz no Japão. De fato, muitos artistas profissionais na América hoje estão desenhando com um pouquinho mais de influências do estilo japonês. (...) Na América, há cada vez mais artistas que chamam seu trabalho de ‘manga’ ou ‘American manga’”.

0 pessoas comentaram:

Related Posts with Thumbnails