Eu, particularmente, não me interesso muito por quadrinhos americanos. Não me sinto público alvo do material que chega por aqui, assim como boa parte das mulheres da minha idade, mais velhas ou mais novas que eu. Normalmente o que se publica por aqui são histórias de supers com heróis hipermalhados e heroínas siliconadas feitas para um público masculino que cada vez se renova menos. No entanto, não gosto somente de mangá e tenho meus gostos para além do shoujo, meu interesse maior, claro, é em saber mais sobre quadrinhos feitos por mulheres e para mulheres pelo mundo a fora.
Ultimamente, graças aos livros de uma autora chamada Trina Robbins descobri o mundo dos quadrinhos femininos americanos. Já li um de seus livros "From Girls to Grrrlz" e atualmente estou lendo "The Great Women Cartoonists". Qual não foi minha surpresa quando um colega noticiou hoje que Dale Messick faleceu.
Messick, que mudou seu nome de Dalia para Dale com o objetivo de deixar menos evidente que era uma mulher, foi a primeira a criar uma heroína de ação em quadrinhos, "Brenda Starr, Reporter" em junho de 1940. Depois de ter sua obra rejeitada algumas vezes, afinal, o território dos quadrinhos de ação - não dos quadrinhos, que fique bem claro - era absolutamente masculino nos EUA, ela consegue publicar e sua heroína, que se torna um sucesso. No seu auge era publicada em mais de 250 jornais nos Estados Unidos.
Ela criou sua maior personagem, Brenda Starr não para cativar os homens, apesar dela ter sua aparência inspirada em Rita Hayworth, mas para dar às mulheres uma heroína. A própria autora disse em 2002 "Em muitos quadrinhos, o personagem principal é um herói, um homem, e os autores não escreviam para mulheres. Eu era era mulher então eu estava escrevendo para mulheres (...)". Quando se deixou de escrever para mulheres, os quadrinhos femininos - com apelo para os homens ou não - morreram nos EUA. Morreram em um momento em que lá no Japão as mulheres começavam a fazer o caminho inverso, tomando em suas mãos a tarefa de fazer quadrinhos para mulheres, assim como Dale Messick pretendia.
Bom seria se essas pioneiras não fossem esquecidas e que mais meninas e mulheres pudessem se imaginar fazendo e lendo quadrinhos. Bem, agora com os mangás, o incentivo não falta. Só espero que os frutos sejam bons. E que Dale Messick - que abriu caminho para tantas mulheres quadrinistas - descanse em paz depois de uma longa e produtiva carreira.
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