Como me referi à matéria em outro post, tive que publicá-la. Ela saiu na Folha de São Paulo e, claro, sempre devemos dar um desconto quando a ONG que monitora fica em Washington e o páis criticado é o Irã. :(
ODE AO MARTÍRIO
Jovem se alista em grupo guerrilheiro para vingar família morta em ação israelense; público-alvo do programa é infantil
TV iraniana encoraja ataque suicida em cartoon
DA REDAÇÃO
Um canal de TV iraniano exibiu, na última semana, um filme animado para crianças em que palestinos encorajam e realizam ataques suicidas contra alvos israelenses.
Trechos do vídeo, veiculado às 8h da manhã de 28 de outubro, foram divulgados no website do Instituto de Pesquisa de Mídia do Oriente Médio (Memri), ONG com base em Washington que monitora a mídia da região.
O filme começa quando o comando israelense invade um vilarejo palestino e abre fogo deliberada e indiscriminadamente contra civis inocentes. Na ação, são mortos a sangue frio o pai, a mãe e o irmão de Abd al Rahman, que, então, jura vingança.
Por meio de um primo, Al Rahman é apresentado a Jassem, membro de um "grupo de resistência". "O homem que transformou seus familiares em mártires é um dos mais sanguinolentos oficiais israelenses. O nome dele é Ariel. Ele não tem misericórdia nem pelas crianças", diz Jassem.
"Ontem, muitos soldados israelenses vieram ao vilarejo sem aviso. Eles deram às pessoas 15 minutos para ir embora. Mas elas se recusaram a sair e, então, o sanguinolento Ariel deu ordem para abrir fogo. Todos, incluindo mulheres e crianças, foram mortos", afirma Jassem.
Os militantes preparam uma ação em retaliação. A notícia acende os ânimos de Al Rahman e de seu primo, que pedem autorização para entrar no grupo.
"Mas vocês devem saber que podem se tornar mártires", adverte Jassem. "Nenhum de nós sabe se sobreviverá a essa operação, vocês devem, então, pensar com cuidado."
"Já pensei nisso. Irei vingar o sangue de minha família mesmo se eu for morto fazendo isso", responde Al Rahman.
No dia da ação, após receber a bênção de sua tia, Al Rahman parte para a fronteira. Sua missão é atirar suas granadas, enquanto os demais militantes distraem a atenção dos soldados israelenses.
As imagens mostram Al Rahman esperando pela passagem do comboio militar. Ele ata, então, um cordão de granadas em volta da cintura. "Coloco minha esperança em Deus. Allahu Akbar [Deus é supremo, em árabe]", são suas últimas palavras.
"É um filme destinado a crianças. Foi passado de manhã, num horário em que sabemos que crianças assistem a desenhos", disse à Folha Steven Stalinsky, diretor-executivo do Memri. O vídeo foi apresentado pelo canal por satélite IRIB 3, de controle estatal. Segundo Stalinsky, o filme pôde ser visto por audiências no Irã e em todo o Oriente Médio, além do Sudeste Asiático e da Austrália.
"Esse desenho foi feito especialmente para o Eid al Fitr [que marca o fim do Ramadã]", disse Stalinsky. "Pegamos a transmissão uma só vez. Mas não sabemos quantas vezes foi veiculado. É um canal que passa cartoons anti-Ocidente o dia todo."
"Temos mais exemplares de teor semelhante, com visões anti-Ocidente e promovendo ataques suicidas", afirmou.
A veiculação do filme coincide com declarações recentes do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que defendeu que Israel seja "apagado do mapa" por uma nova onda de ataques palestinos.
Ontem, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, cancelou uma viagem a Teerã prevista para meados de novembro por causa das afirmações. "O secretário-geral e o governo iraniano concordaram que esse não é um momento apropriado para uma viagem ao Irã", disse a porta-voz Stephane Dujarric.
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