Durante muito tempo, o romance entre o conde sueco Hans Axel von Fersen (1755-1810) e a rainha Maria Antonieta foi uma certeza para autores e autoras de ficção e mesmo alguns biógrafos sérios e historiadores. Desde que li a biografia de Maria Antonieta de Antonia Fraser, a que inspirou o filme de 2006, eu sabia que um sobrinho neto de Fersen tinha censurado suas cartas e diários com tinta preta, algo comum na época, dificultando a confirmação de um romance entre os dois. A própria Fersen, no entanto, informou que uma frase, "Reste-là" (Fiquei lá), que o conde sempre usava quando passava a noite com suas amantes... Ah, você achava que Fersen tinha passado a guardar a castidade depois de conhecer a mulher de sua vida? Esqueça, deixe isso para a ficção. Enfim, em um único momento esta frase curta aparece no diário do conde se referindo à Maria Antonieta. Fraser teorizava que aquela frase tinha escapado ao censor.
var accToc=true;
Em 1982, um conjunto de quase 50 cartas trocadas entre Fersen e Antonieta, entre 1791 e 1792, foi comprada pelo Arquivo Nacional Francês. As cartas da Rainha tinham sido copiadas pelo Conde, mas estavam censuradas com tinta preta. A partir de 2014, a equipe liderada pela Dr.ª Anne Michelin utilizou de uma nova técnica que não danifica os documentos, a espectroscopia de fluorescência de raios-x, e conseguiu identificar quarenta e cinco passagens censuradas de oito cartas. O trabalho é muito árduo e meticuloso, só vejam a quanto tempo estão nesse esforço, e ainda há muito o que fazer.
Este trecho do Science mostra a dificuldade do trabalho: "Para descobrir as palavras, Michelin e seus colegas primeiro usaram os raios X para isolar e mapear diferentes elementos na tinta, incluindo cobre, ferro e zinco. Em seguida, eles tiveram que separar a tinta que foi usada no texto original e a tinta que foi usada nas redações. Se a tinta no texto original contivesse cobre e a redação não contivesse, por exemplo, era bastante fácil criar imagens separadas - como foi o caso com uma passagem redigida escrita por Maria Antonieta que dizia "não sem você". Mas uma solução tão simples raramente aparecia. As tintas eram geralmente muito semelhantes para revelar as palavras, isolando um único elemento. Portanto, a equipe teve que elaborar “receitas” grosseiras para as diferentes passagens, analisando as proporções dos diferentes elementos em cada camada de tinta. Para sete das cartas, as tintas eram tão semelhantes que mesmo essa estratégia não funcionou."
Nos trechos revelados, a Maria Antonieta revela seus sentimentos pelo conde sueco e é retribuída. E, algo muito importante, os padrão de censura e os tipos de tinta revelaram que o próprio Fersen censurou as cartas e somente o vez em passagens íntimas. A nova técnica, e há um artigo sobre a pesquisa aqui, abre novas possibilidades para o estudo de textos antigos que tenham sido censurados, ou danificados. E, sim, agora podem afirmar sem medo que Fersen e Maria Antonieta se amavam muito e que tinham um romance que deveria ser físico, não somente platônico. E se você quiser ler sobre o romance entre Fersen e Maria Antonieta, recomendo muito o mangá da Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら), um clássico lançado no Brasil pela JBC.
0 pessoas comentaram:
Postar um comentário